28.7.15

Anti-semitismo na Europa



Um lugar onde se juntam esquerdistas nostálgicos, direitistas radicais, extremistas árabes e emigradas engajados: o anti-semitismo na Europa. Sob a capa de um falso humanismo, protetor dos inocentes de Gaza que são instrumentalizados pelo próprio Hamas, ou seja, de um humanismo de facto protetor dos interesses do Hamas, todo um povo lenta mas sistematicamente vai sendo perseguido por causa da sua realidade biológica, religiosa e cultural.



Sem dar por isso a Europa volta a permitir o racismo e o anti-semitismo que levou aos campos de concentração:




Is It Good for the Jews?: Anti-Semitism and the New Europe | World Affairs Journal:



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11.7.15

kwatcha europa kwatcha grécia



Antes de ler esta colocação, passe pelo artigo que vou comentar: http://expresso.sapo.pt/blogues/jose-soeiro/2015-07-03-A-abdicacao-da-democracia . Ele começa por uma citação de Freitas do Amaral, de onde recolho esta frase:

difícil de acreditar que em todas as reuniões de Bruxelas o resultado tenha sempre sido de 18-1.

Porquê difícil? Será possível uma ditadura oculta de Bruxelas sobre o resto da Europa, uma ditadura tal que se impõe a 18-1 e o povo precisa que lhe abram os olhos para ver isso? Uma ditadura tão terrivelmente eficaz que não falha e não se vê nem se nota? 

A esquerda europeia continua sem perceber o que se passa à sua volta, apostada nos velhos fantasmas que, sob roupagem nova, a conduzem ao ridículo. Foi a essa esquerda, ridícula e ineficaz, que o político português Freitas do Amaral aderiu há já alguns anos, coroando assim a sua carreira de pensador e jurista errante (que vem do corporativismo ao marcelismo - que também foi primeiro corporativista - à democracia cristã, ao socialismo democrático...). Fica-lhe bem, é bonitinho, nos convívios (a maioria) onde parece inteligente ser de uma esquerda burguesa, boa consumidora e com práticas que lhe desmentem as propostas políticas; fica-lhe bem, dá um retrato bonito, no qual se enquadra como foco central aquele olhar perdido, como que a flutuar em círculos vagarosos dentro de imensos e pensativos glóbulos brancos. 

A base da afirmação de Freitas do Amaral é bem um exemplo da cegueira sonolenta da velha esquerda europeia (a nova limita-se a 'mandar bocas' até ter que assumir responsabilidades políticas). Porque os democratas-cristãos, por exemplo, não haviam de estar de acordo com os outros no que diz respeito à Grécia? Será que não estão mesmo todos de acordo? Será que há mesmo uma ditadura do BCE, ou de quem o controla? Será que a Grécia não é mesmo um devedor crónico e um Estado inviável? A grande falha estratégica da Europa é não assumir isso explicitamente e ir alimentando uma situação insustentável para não correr o risco de 'perder a Grécia' (esse fatalismo será grego?). 

Quanto a Tsipras, em que toda a esquerda europeia se baseou para reafirmar os seus velhos mitos, foi mais uma casca de banana para essa esquerda e para os seus eleitores. Ele convocou um referendo para confirmar, uma vez mais, nas urnas, o que tinha sido sancionado pelo povo, poucos meses antes, numa eleição. Ou seja: para serrar serradura. Um Estado falido precisa de gastar dinheiro num referendo destes, completamente inútil para as soluções que se desenham como únicas? 

O povo confirmou e ampliou a base de apoio do governo. O que fez Tsipras? Pediu ao seu ministro-símbolo que se demitisse e foi a Bruxelas entregar de bandeja o que parecia negar, salvaguardando dois ou três aspectos que lhe permitem disfarçar a traição a si próprio. Aspectos que são significativos, simbólicos, algum até importante, mas não são esses que vão sustentar o crescimento nos próximos anos. 

Aquilo de que se queixavam todos os críticos dos planos de austeridade europeia (entre os quais me encontro, mas não por esquerdismo sonolento) Tsipras ofereceu ao BCE, a Merkel e seus economistas depois do referendo: as subidas do IVA e do IRC, diminuição da massa salarial da função pública e medidas concordantes, que irão asfixiar mais o poder de compra num mercado já débil e cronicamente incumpridor dos seus deveres. O estímulo ao crescimento estava, por exemplo, em não subir tanto os impostos sobre as vendas e apostar mais na eficiência da cobrança fiscal. E Tsipras cedeu em toda a linha. Esquerdista como é, teve vergonha de olhar para os EUA - e alguns outros países - onde a crise foi combatida sem medidas draconianas de austeridade para, justamente, não afetar (ou fazê-lo minimamente) o crescimento, a saúde do mercado, o poder de compra.

Como acreditar num político que, logo em seguida à confirmação do que pedia sem qualquer necessidade, solicita ao seu ministro mais coerente (o que não significa mais inteligente) e carismático, símbolo da sua política económica, para se demitir a pedido de alguns ministros europeus e para ele próprio ir a Bruxelas com o novo ministro entregar de bandeja o contrário do que pediu aos votantes para confirmarem? 

Acho que Tsipras, afinal, está de acordo com os parceiros europeus e percebeu que incentivar o crescimento não é o mesmo que sustentar Estados sociais insustentáveis, num país em que mais de metade da população não paga impostos. Mas, uma vez mais, percebeu 'por alto', sem aprofundar muito, sem acautelar o menos que fosse medidas que vão coartar o crescimento possível.

Ou, pior ainda, usou esse facto e esse momento para alcançar um objetivo meramente pessoal: ver-se livre de um concorrente interno que ofuscava o seu brilho e o seu capital político e se tornava incómodo, o ministro Varoufakis, que ainda muito recentemente no Guardian continuou a contra-atacar os temíveis credores com os seus habituais sofismas e paradoxos, apresentando-se cada vez mais como a verdadeira alternativa da esquerda grega - quando esta despertar da sonolência.

Alguns esquerdistas piedosos ainda acenam com os tempos de Sócrates, da sábia Grécia Antiga, para assegurarem que, por isso, tudo deve ser perdoado à Grécia atual. Que frivolidade e que sonolência! A Grécia de hoje não tem o alcance, a profundidade e a acutilância da Tragédia grega. Restou-lhe, tão somente, uma comédia populista de mau gosto. 

O articulista (José Soeiro), na lógica dessa esquerda "porque é assim", comprova o que digo sobre a inconsequência e a falta de lucidez que a caracterizam. Ele assegura-nos que 

o que está em causa não é encontrar uma solução que seja aceitável por ambas as partes [ou para ambas as partes?]. Do que se trata é de procurar substituir um Governo eleito que teve a ousadia de desafiar a atual doxa europeia.

Mas porque havia esta Europa, tão secretamente ditatorial, de "substituir um Governo" se esse governo lhe entrega de bandeja e em nome do 'não' quase tudo o que ela pede? 

Acordem, senhores, é hora de acordar. 

_____________________________________________________
Para melhor esclarecimento do leitor imediato cito um resumo das propostas gregas tirado também do Expresso em linha: 

Em termos concretos, a proposta do Governo grego prevê cortes nas pensões no valor de 0,25% a 0,5% do PIB em 2015, com aumento de 1% em 2016, aumento dos impostos das empresas de 26% para 28%, cortes na defesa de 100 milhões de euros a aplicar este ano e 200 milhões em 2016, aumento do IVA para 23% na área da restauração, mantendo-se o IVA de 13% na hotelaria, alimentos básicos, energia e água e privatização dos aeroportos, e aumento do imposto sobre o lucro das empresas (IRC) num ponto percentual (de 28% para 29%). Tsipras propõe um resgate no valor de 53,5 mil milhões de euros e a reestruturação da dívida.

De tudo isso, o que me parece fazer mais sentido é mesmo o corte nas despesas militares - e, no entanto... (até que ponto, por exemplo, a diminuição das compras para o sector, de 100% agora e 200 mais tarde - critério para todas as despesas militares - até que ponto afetará a economia local?)

Mais completa a informação-resumo do negócios online

Em baixo estão a lista de medidas e promessas do Governo de Atenas, que cede nas pensões e no IVA mas não nas despesas militares.
IVA – O Governo de Atenas aceita um plano para implementar uma reforma no IVA que represente receitas adicionais equivalentes a 1% do PIB. As autoridades helénicas cedem assim até ao valor pretendido pelos credores, dado que na última proposta de Atenas havia cedido da intenção inicial de fixar as receitas adicionais em 0,74% do PIB até aos 0,93%. Assim, os restaurantes passarão a cobrar IVA de 23%, em vez dos actuais 13%, sendo esta a taxa aplicada também aos transportes e tratamento de esgotos. Já os hotéis passam de uma taxa de 6,5% para 13% (intenção que os credores já aceitavam na proposta de 26 de Junho), sendo que nesta taxa intermédia ficarão também os alimentos básicos, energia e água (excluindo esgotos). Na taxa mínima de 6% ficam medicamentos, livros e teatro. 
O desconto de 30% nas taxas de IVA que beneficiam as ilhas será eliminado, mas de forma faseada, com as ilhas mais ricas a serem as primeiras a ficar com taxas em linha com o resto do país. As mais remotas ficam isentas, e o agravamento fiscal nas demais será acompanhado de compensações junto da população local mas que têm de ter impacto fiscal neutro. As novas taxas de IVA nas ilhas e nos hotéis serão introduzidas em Outubro, já depois de terminada a época alta do turismo.

IRC – Aumento da taxa de IRC de 26% para 28% em 2016, como era aceite pela troika. Mas Atenas admite um agravamento para 29% se a receita fiscal derrapar, circunstância que poderá levar também a um aumento das taxas de imposto sobre as famílias (de 11% para 15% para rendimentos inferiores a 12 mil euros, e de 33% para 35% para rendimentos superiores).

IRS – A proposta é vaga nas alterações no IRS. O Governo pretende introduzir mudanças nos impostos que recaem sobre os automóveis, ganhos de capital, agricultores e trabalhadores por conta própria. Ao invés dos privilégios fiscais dos armadores, que se escreve deverem ser abolidos mas sem referir quando, o documento diz que em 2017 será iniciado o processo de eliminação dos benefícios aos agricultores. Em 2016, terminarão os subsídios ao gasóleo agrícola.
Outras taxas e impostos – Introdução de taxa sobre a publicidade na televisão e anúncio de concurso público para a atribuição de licenças de televisão. Alargar o âmbito da aplicação da taxa suplementar sobre iates (com mais de 5 metros), que sobe de 10% para 13%. Aumento das taxas sobre o jogo online.
Pensões – Nesta área as novas propostas de Atenas também se aproximam das dos credores, antecipando em três anos, para 2022, a conclusão do processo de aumento da idade legal da reforma para os 67 anos. O governo grego promete iniciar desde já esse processo, legislando nesse sentido ainda neste mês, com o objectivo de poupar em 2015 o equivalente a até 0,5% do PIB em pensões, valor que sobe para 1% em 2016. De novo em linha com o exigido pela troika, prevê-se que as contribuições dos pensionistas para o sistema de saúde subam de 4% para 6% "em média", e que também as pensões complementares fiquem sujeitas a esses descontos. O Governo grego promete criar "fortes desincentivos" às reformas antecipadas.

O governo grego propõe ainda eliminar gradualmente o suplemento equivalente ao complemento solidário para idosos (conhecido por EKAS). Promete concluir esse processo em Dezembro de 2019, tal como pretendido pelos credores, mas o Executivo grego pretende iniciar essa eliminação, sobre a qual promete legislar no imediato, apenas a partir de Março do próximo ano. Já as instituições querem que o EKAS comece a ser retirado agora. O governo Syriza/ANEL pretende iniciar a eliminação gradual do EKAS nos 20% dos beneficiários do complemente que auferem pensões mais elevadas.
Defesa – Nas despesas militares, a proposta do Governo grego propõe cortes de 100 milhões de euros em 2015 e de 200 milhões em 2016. Nesta área Atenas não cede aos credores, que exigiam poupanças de 400 milhões. Os cortes de custos serão obtidos através da redução o número de efectivos na defesa e gastos com fornecedores.

Função Pública – O Executivo de Atenas prevê a criação de um quadro de mobilidade no último trimestre deste ano. A massa salarial terá de ser reduzida até 2019 (não se quantifica), tendo salários e efectivos de ser ajustados a essa meta. Com data surge a redução dos suplementos salariais: Janeiro de 2016.

Combate à corrupção - Atenas promete publicar um plano estratégico contra a corrupção até ao final do mês de Julho e alterar a legislação de declaração de rendimentos e financiamentos dos partidos políticos. Combater o contrabando de combustíveis e fraudes carrossel no IVA e desenvolver um plano para promover os pagamentos electrónicos são outras das promessas.

Reformas estruturais – O Governo grego compromete-se a implementar uma série de reformas em diversas áreas, sendo que para isso conta com a colaboração da OCDE. Estas visam sobretudo uma reforma do Estado e da sua relação com empresas públicas e fornecedores, passando por aumento dos controlos, das auditorias e da transparência. A saúde e as obras públicas são das áreas prioritárias onde o Governo grego promete combater o desperdício e os riscos de corrupção. Também na administração fiscal (um dos maiores problemas da Grécia está na forte fuga aos impostos) o Governo promete implementar reformas, incluindo criar uma agência autónoma para cobrar impostos.
Sector financeiro – Alterações nas leis de insolvência, com o objectivo de incentivar o pagamento de dívidas e medidas para levar os investidores estrangeiros a colocar dinheiro nos bancos gregos.
Privatizações - O governo de Tsipras admite avançar com todas as que estão em curso e as que estão previstas, e não mexer nos respectivos cadernos de encargo. Admitem agora também avançar com a privatização da rede eléctrica (ADMIE), como pretende a troika, mas acrescentam que poderão apresentar uma alternativa "com resultados equivalentes em termos de concorrência" até Outubro deste ano. O Governo grego também promete alienar os activos que estejam no fundo de desenvolvimento helénico (HRADF), para onde se prevê que seja transferida a participação que o governo grego ainda detém no operador de telecomunicações OTE. 

Metas orçamentais - Mantém o compromisso de apresentar excedentes orçamentais primários (receitas superiores às despesas, excluindo o serviço da dívida) equivalentes a 1%, 2%, 3% e 3,5% do PIB para os anos compreendidos entre 2015 e 2018.

13.6.15

La zone euro se prépare au scénario d'un défaut grec



A Grécia - um país economicamente inviável desde a sua criação e, principalmente, desde que pelo menos metade dos seus cidadãos deixou de pagar impostos - elegeu, numa ilusão de fuga para a frente, um jovem irresponsável e sua formação populista de esquerda para dirigir os destinos do país. Da parte dos eleitos e dos eleitores tudo não passa de uma 'picice' tipo 'o meu coiso é maior que o teu, vou-te...'


Este jovem e esta formação, largamente sustentados e iludidos por Putin e pelos 'socialismos do século XXI' que levaram já a Venezuela à falência, não tinham na verdade qualquer solução para a crise grega, nem estavam tecnicamente preparados para as negociações com os credores.


Agora não sabem como 'descalçar a bota'. Não têm saída, porém: ou dizem aos que os elegeram que afinal estavam enganados e o governo anterior - apesar da falta de ousadia - estava certo; ou saem da zona euro e se entregam a credores bem mais objectivos, que os irão explorar como não quiseram nunca: Rússia, China, sobretudo. Só que a Grécia não tem muito para explorar...


Com a guerra na Síria, o Líbano intermitentemente inviável e a Grécia neste estado, não tardará a fazer mais sentido que nunca o sonho dos 'jovens turcos' e de Erdogan: refazer o império do Sultão.



La zone euro se prépare au scénario d'un défaut grec:



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29.4.15

Bali terrorist Muhammad Cholili freed on parole as 18-year jail sentence halved | dailytelegraph.com.au



Matar traficantes, alguns (algumas) dos(das) quais insignifcantes e soltar um terrorista que não se arrependeu das mortes inocentes que ajudou a causar. O que é que Widodo quer mostrar com isso?



Bali terrorist Muhammad Cholili freed on parole as 18-year jail sentence halved | dailytelegraph.com.au:



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22.4.15

Naufrages de migrants : qui est responsable ?



Sem comentários. Basta-me o que fiz ontem.



Naufrages de migrants : qui est responsable ?:



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Naufrages de migrants : qui est responsable ?



Sem comentários. Basta-me o que fiz ontem.



Naufrages de migrants : qui est responsable ?:



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Taiwan - RPC



É verdade que, gradualmente e apesar da doutrina oficial, foram-se constituindo dois países. Durante quanto tempo a República de Taiwan conseguirá resistir a uma China em lento e seletivo retorno a práticas musculadas do maoísmo? O exemplo de Hong Kong assusta, sendo que a programação eleitoral hoje (ou ontem) divulgada confirma que os chineses não estão dispostos a admitir ilhas democráticas sob a sua alçada. Leia-se:



Yesterday’s People: Taiwan Votes Against Beijing | World Affairs Journal:



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20.4.15

Mediterrâneo das mortes


A sucessão de naufrágios e de mortes no Mediterrâneo demonstra bem o cinismo com que lidamos com problemas humanos gravíssimos e de que nos devíamos envergonhar. 

Não aponto a direção habitual: o 'cinismo ocidental'. Isso é uma história para adormecer o verdadeiro cinismo, o das pessoas que assim alienam a consciência como quem tomasse um calmante. Há, da parte dos políticos, dos comentaristas e das pessoas comuns (estas avalio pelas redes sociais) uma atitude que visa, principalmente, não falar no que está em causa. 

O que está em causa? 

1) Para a Europa, evitar uma invasão silenciosa que irá demolir rapidamente o já precário bem-estar da sua população actual. Por isso a Europa tem que se defender. 

2) Para os países do Sul do Mediterrâneo o que interessa é atirar o problema para o Norte e livrarem-se da incómoda presença desses emigrantes no seu território, estímulo da instabilidade. Por isso eles têm que deixar passar os emigrantes.

3) Para os países de onde vieram os emigrantes o que interessa é atirar o problema da fome, da miséria, do sub-desenvolvimento e das vítimas da guerra, o mais possível, para longe das suas fronteiras. Por isso os deixam partir tão facilmente. 

Talvez este conjunto de interesses explique algumas coisas. Por exemplo: há medidas simples que não são tomadas nem referidas, exceto por um ou outro europeu e timidamente. Uma delas seria a patrulha conjunta do Mediterrâneo, com patrulhas mistas de europeus e norte-africanos, enfim, de todos os países que possuem costa mediterrânica (não conheço bem propostas neste sentido, pode haver já trabalho feito e gostaria, nesse caso, de saber porque não se concretiza imediatamente). Outra, complementar, seria  a patrulha mista das fronteiras a sul do Saara e com países em guerra como a Síria e o Iraque. Porque não se fazem?

Se estivéssemos verdadeiramente preocupados com o problema, lutávamos por isso. Alguém dirá: mas patrulhar não resolve a causa. Claro que não, resolve a consequência: naufrágios, mortos, prejuízos cada vez mais avultados para todos os lados. E o que resolve o problema na sua origem?

Uma boa governação, um entendimento democrático e democratizante para que a força do voto livre substitua a força das armas livres, um desenvolvimento harmonioso e, portanto, mais uma vez, uma governação eficaz. 

É nesse sentido que os governos dos países de origem dos atuais emigrantes clandestinos devem ser substituídos. Não vale a pena os europeus meterem a cabeça debaixo do chão e os velhos esquerdistas apelarem à velha consciência de culpa, fruto de um cristianismo que renegam. Não vale a pena virem com os argumentos infantis de não-interferência na soberania alheia. Não é preciso invadir países, é preciso cobrar às suas elites os problemas que elas criaram. Para isso, é preciso que os países democráticos se livrem das dependências dos ditadores em termos de matérias-primas, acelerando por exemplo as pesquisas sobre energias alternativas, autossustentabilidade e desenvolvimento solidário. 

Por isso me parece, contrariamente ao que é muito comum afirmar-se, que os EUA têm, geralmente, uma atitude mais racional exigindo às elites locais o que lhes deve ser exigido pela comunidade internacional. Porque, se elas falham, é a mesma comunidade internacional que sofre as consequências e à mesma sem poder resolver o problema na sua origem. Em última análise, o resto da Humanidade vai depender também da substituição destas elites ou da sua reconversão democrática e progressista (no sentido único da palavra: conducente ao progresso em todos os níveis). 

Mas a Humanidade encontra-se regularmente na ONU. Isso é que me torna pessimista, porque ali ninguém parece querer chamar os problemas pelos nomes e, portanto, fica um aerópago de vaidades, um vazio de resoluções eficazes, dispendioso, uma falsificação do encontro democrático entre todos os países do mundo. A única alternativa, nesse caso, é mesmo apoiar o combate contra as elites corruptas e incompetentes. 

Sublinho incompetentes. Porque a incompetência é mais grave que a corrupção. Não vive dela, a corrupção é que vive da falta de eficácia dos governos. 

O problema no combate a essas elites é que ele tem sido mal dirigido e mal programado. Era preciso, primeiro, concertar as forças internas e dar-lhes só depois todo o apoio, expurgando desde logo todos os elementos duvidosos. Avançando sem esse pré-requisito, a 'comunidade internacional' e o 'ocidente' vão cavando abismos maiores por onde passam. Portanto, não vale a pena avançar para o abismo. 

Neste ponto igualmente, o que está errado (no apoio à reconversão ou substituição dessas elites) é a incompetência com que ele se realiza e não, propriamente, o princípio de apoio a um povo oprimido. 

E a competência começa por chamarmos cada coisa pelo seu nome. 



13.4.15

Putin humanitário vende mísseis ao Irão

Putin e Lavrov descobriram-se de repente muito preocupados com a situação no Iémen. Quando os Houtis tomaram à força o poder e ocuparam zonas onde são minoritários ou quase não existem, a Rússia estava calada. Quando os Houtis desceram para Aden e começaram a conquistar a cidade, onde não são maioria nem nada que se pareça, bombardeando, alijando mais uma vez o Presidente legal da sua residência, obrigando-o a fugir e instaurando na prática um novo poder sem o consentimento das populações, a Rússia calou-se. Não se preocupou com as vítimas dessas conquistas e invasões, nem com os injustiçados, nem com a situação humanitária de ninguém.

De repente vem Lavrov, pondo aquele ar de senhor muito sério que põe cada vez que vai mentir com todos os dentes, entre urso ameaçador e ditador cínico, e desata aos pedidos de cessar-fogo, preocupado com a crise humanitária, sugerindo diálogos.

O que se passou para essa súbita preocupação se manifestar com tanta veemência? duas coisas:

Primeira: a Arábia Saudita finalmente reagiu e começou a reforçar o armamento dos sunitas e do poder legal, ao mesmo tempo em que bombardeava posições xiitas. A preocupação era repor o poder internacionalmente reconhecido e que representa a maioria da população (os houtis não são maioria nem são todos xiitas fanáticos).

Segunda: a Rússia fez um grande negócio de armas com o Irão, aproveitando o desanuviamento trazido pelo pseudo-acordo (na verdade uma intenção de acordo) sobre o nuclear. Leiam a notícia:



Russia Lifts Ban on Advanced Anti-Aircraft Missiles to Iran | Foreign Policy:



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29.3.15

As guerras escondidas do Iémen


Uma análise bem fundamentada do processo conducente à actual situação iemenita e que explica as posições tomadas por cada parte e cada protagonista, num intrincado arrolamento de confessionalismo e política, mais uma vez. Os fundamentalismos islâmicos continuaram, por seu turno, também aqui, a sua aposta na desestabilização a qualquer custo e mesmo que isso, a prazo, se verta contra eles.



Les guerres cachées du Yémen, par Pierre Bernin (Le Monde diplomatique, octobre 2009):



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25.3.15

Mind Games: Alexander Dugin and Russia’s War of Ideas | World Affairs Journal

Mais um intelectual de serviço. Prolífico, sem dúvida.



Apenas um comentário: não se trata aqui de legitimar uma forma de nacionalismo mas uma ambição imperial de retorno à velha Rússia dominando a Eurásia.



Mind Games: Alexander Dugin and Russia’s War of Ideas | World Affairs Journal:



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11.2.15

Charlie Haram


Quando os atentados de Paris vieram mostrar ao mundo que a Europa condescente e relaxada com a sua identidade democrática colocava em risco a própria liberdade e segurança, 

muitos 'blogueiros' e cronistas de esquerda se apressaram a distrair as nossas atenções, logo no dia seguinte. Uma das distracções consistia em nos lembrarem que o Boko Haram matava mais gente na Nigéria, raptando lá crianças, mulheres e arrasando aldeias inteiras.

Estranho: de repente, pessoas que nunca se tinham preocupado com isso mostraram-se extremamente revoltadas com o Boko Haram. Viciadas como são na acusação à Europa, aos EUA e ao capitalismo por todos os males, imediatamente reclamaram o que antes costumavam criticar: uma intervenção europeia em África para combater o Boko Haram e descurar a vigilância que a França, finalmente, parecia querer fazer a sério dentro do seu próprio país. 

Pareceu-me e parece-me que África tem condições para resolver, por si, o assunto. Pareceu-me também muito irresponsável a campanha eleitoral nigeriana, secundarizando um assunto de importância fundamental para toda a região. 

A opinião pública global devia preocupar-se, claro, com o Boko Haram. Mas porque é que, em se tratando de África, têm que falar logo numa intervenção europeia, sobretudo os sectores mais à esquerda, mais anti-'imperialistas'? 

A postura a tomar é bem outra: é exigirmos todos, africanos e não-africanos, que os países africanos da região resolvam os seus problemas. E, efectivamente, é o que estão a fazer. Só podemos lamentar uma resposta tardia, mas não duvidamos de que esses países têm condições para resolver o problema por si, com a ajuda normal, não-intrusiva, normal num mundo globalizado e a simpatia da comunidade internacional. 

Parece-me que a África ao sul do Saara, neste e em alguns outros casos, começa finalmente a responder por si própria. É de saudar. 


Problemas gregos


A recente postura da Grécia tem confundido muitos analistas. Leva-os, por um lado, a repetir lugares-comuns (a Grécia não sairá da Europa, Tsipras é no fundo um social-democrata), por outro a confundir o problema económico da Grécia e a política de austeridade europeia. 

Ambos os problemas se encontram no caso grego, mas são diferentes. É preferível comparar a política de austeridade europeia com a dos EUA. Fazendo-o percebe-se razoavelmente quais os erros tácticos dessa política de austeridade. Os erros tácticos em economia têm consequências sociais que os transformam em perigos políticos graves. Em certa medida, um desses perigos era a vitória de Tsipras na Grécia.

Outro problema é o da própria Grécia como Estado inviável. Inviável porque pretende juntar uma política de paternalismo social com a aceitação perdulária de 45% dos contribuintes em falta com os seus impostos, mais uma grande percentagem de empresas a fazerem o mesmo. 

O urso do Norte (a velha Rússia, com o tsar Putin à frente, aliado à Igreja Ortodoxa e ao complexo industrial-militar) espreita e vai estendendo as garras, tornando a Grécia cada vez mais dependente da Rússia e usando-a para criar mais divisões na política internacional da UE. 

Mas o problema essencial do Estado grego não se resolve. A solução talvez mais consentânea é a de um Estado mínimo e minimalista, não-despesista e que solte as forças económicas protegendo as pequenas e médias empresas face às grandes. Isso porque o Turismo e algumas empresas (em regra de parco significado isoladamente) de alter-economia formam uma coluna importante dessa economia, para gerar empregos e sustentar um crescimento moderado, plausível, discreto mas sólido. A diversificação do escoamento dos produtos agrícolas - em grande parte destinado à Rússia - é outra medida fundamental. 

Tsipras, em vez de colocar aí a tónica central do seu discurso, atira barro à parede, tenta confundir velhos macacos e ensinar a missa ao padre, grita para afastar o medo mas também para esconder que não tem, de facto, uma alternativa credível, conjuntural e que vá para além de trocar uma 'opressão' (a europeia) por outra bem menos avançada, bem menos interessante e bem menos livre (a russa e, quem sabe, mais tarde a chinesa). Não tendo grande expressão já a ajuda da Venezuela e outros latino-americanos (para além da que venha do tráfico de drogas, usando a Grécia para entrar livremente na Europa), limita as políticas de Tsipras a isto. 

Ironicamente, nem à Rússia, nem à América-latina, nem aos traficantes de droga interessa a saída da Grécia da União Europeia. Porque é precisamente a sua presença lá que pode trazer vantagens a uma aliança com os gregos. 

Por isso é que os europeus podem falar forte. Lamentavelmente, se chefiados por Merkel, falarão forte para insistirem num erro. E Merkel, aterrorizada pela proximidade da Ucrânia, acabará cedendo aos russos até não poder mais, ou seja: até que os aliados a impeçam de o fazer.


Um artigo razoável e equilibrado sobre as relações entre Grécia, Tsipras e Rússia pode ser consultado aqui

12.12.14

La marge au centre - tráfico de drogas e Guiné-Bissau

Em última análise, a fragilidade criada por um ditador-predador deixou um país de tal forma pobre e desorganizado que atraiu os grandes traficantes internacionais. O sentido de sobrevivência das pessoas fez o resto. Na Guiné-Bissau:



La marge au centre:



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O Put-in é um sintoma

Há muito que tenho esta opinião: a nossa corrupção, o nosso sistema largamente assistemático, não são necessariamente africanismos. É preciso fazer estudos comparados com os países ex-comunistas e a Rússia não é excepção. Façam um pequeno e divertido exercício a partir desta recensão a um livro de Pomerantsev:


http://www.worldaffairsjournal.org/article/land-magical-thinking-inside-putin’s-russia

14.11.14

Kremlin Returns to Soviet Practice of Stripping Citizenship | World Affairs Journal



De onde nos veio, talvez, essa prática da nacionalidade por exclusão, tão comum durante a I República, o tempo do partido único, justamente, que se apresentava como aliado do PCUS:



Kremlin Returns to Soviet Practice of Stripping Citizenship | World Affairs Journal:



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27.10.14

Eleições na Tunísia


Devagar, devagar... 

Bem?

Eleições na Ucrânia


Pouco a dizer sobre as eleições ucranianas: para quem tinha dúvidas, uma pesada derrota para Putin e sus muchachos, uma demonstração cabal de que as manifestações da Praça Maidan eram mesmo genuínas e representativas. E Putin não tinha dúvidas. Agora mais ninguém tem. 

Eleições no Brasil


Ser reeleita, no segundo turno, com quase metade dos votos não foi nenhuma façanha para Dilma Rousseff. Nem para Aécio Neves a derrota foi propriamente consoladora. O empate técnico registado até ao fim, somado à abstenção muito elevada para uma eleição presidencial no Brasil, demonstram que os brasileiros e brasileiras tiveram dificuldade em se rever nos candidatos mais votados.

O sinal mais interessante, a meu ver, que vem daí e de uma primeira análise das eleições para Governador em segundo turno, é o da procura de estabilidade por parte do eleitorado. Um país com muitos partidos representados nas estruturas de poder vem, eleição a eleição, reduzindo o espectro de partidos viáveis e apostando cada vez mais em três ou quatro grandes agremiações, que formam essencialmente (e episodicamente, conforme os casos) dois blocos: um em torno do PT, o outro em torno do PSDB. 

Repare-se na nítida tendência para reeleger governadores, bem como no facto de a maioria deles ser ou do PSDB, ou do PMDB - tendo aí sofrido uma pesada derrota o PT, que venceu exceções tal como o PSB. E são sobretudo estes os quatro partidos que ficam. 

De forma geral, nas eleições para Governador, o PSDB ficou muito bem e o PMDB em segundo lugar. O que é também sintomático: 

1) dos erros de campanha e dos pontos fracos do candidato Aécio, que mesmo assim lutou muito para rebater pesquisas que o davam como necessariamente perdedor, por margem maior, para Dilma;

2) da vontade de mudança, mas de uma mudança com estabilidade e continuidade das políticas positivas (como aconteceu na transição de Fernando Henrique para Lula).

Essa lenta consolidação e concentração do sistema partidário brasileiro, de que faz parte uma inclinação para mudanças graduais e construtivas, é o melhor recado que o eleitorado brasileiro podia dar aos mercados e à comunidade internacional. - claro, também aos seus políticos.


8.10.14

Kobané e o mapa regional


A erupção do 'Estado Islâmico' (uma das muitas contradições dele está logo neste nome, pois pretendem criar um Califado idealizado totalmente fora do que se conceba como Estado) veio, para além de outras coisas (como denunciar em silêncio a corrupção que os alimenta comprando-lhes petróleo, estando entre os compradores o próprio Iraque), veio reabrir feridas profundas. É possível que os seus chefes, ou o seu chefe, contassem com isso. 

Uma delas prende-se com os Curdos. Povos que se formaram como tal numa zona montanhosa que hoje entra no Irão, na Turquia, no Iraque, na Síria e em territórios que já foram arménios, eles foram sofrendo as mais variadas (e geralmente longas) invasões, mesclando-se geneticamente e culturalmente com os povos invasores e criando assim uma comunidade de povos cada vez (ironicamente) homogénea, com uma identidade comum. Povos aguerridos, intermitentemente são independentes. 

Nos desenhos dos novos mapas do mundo, sobretudo no século XX, eles não tiveram lugar, mais uma vez, para formar uma nação. Daí que pegassem em armas e, sob outras formas também, lutassem pela unificação política do seu povo. Nada mais justo. 

Para manterem a luta armada precisaram de fazer alianças, incluindo com a URSS, o que fez com que se tornassem, em certa altura, aparentemente comunistas. Aconteceu com eles o que se passou também com vários movimentos de libertação africanos e do chamado 'Terceiro Mundo'. O MPLA por exemplo, que se dizia comunista quando era constituído por uma maioria estruturalmente conservadora e de uma religiosidade institucional.

Com o advento do Exército Islâmico e a falência completa do Iraque como Estado e como Exército, mais uma vez os Curdos viram uma luz ao fundo do túnel: tornavam-se aliados necessários e tinham prestígio como combatentes. 

Aí começou a desenhar-se uma questão delicada: para combater o EI era preciso reforçar os curdos, mas de maneira que estes não viessem criar outra alteração de fronteiras (que é um dos maiores problema que traz o EI, ao querer recuperar fronteiras medievais). Os curdos jogaram e jogam forte no combate ao EI por outros motivos também mas acredito que principalmente por objetivos estratégicos: cria-lhes maior respeitabilidade internacional e dá-lhes armamento de que precisam para reivindicar o seu território histórico. 

Os EUA e o 'Ocidente' parecem desastrados na sua reacção. Não podendo resolver tudo com bombardeamentos aéreos, nem podendo arriscar uma invasão terrestre duvidosa (que os envolveria numa guerra longa, com muitas baixas), não podem também armar os Curdos de maneira a torná-los muito fortes depois da derrota do EI.

A Turquia, temendo o mesmo, manteve uma posição discreta e distanciada. Agora, finalmente, anunciou a queda de Kobané antes do tempo e, em simultâneo, propôs a invasão terrestre. O objectivo é claro: derrotar o EI sem dar força aos Curdos e proporcionando indirectamente o controlo do Curdistão em países como o Iraque e a Síria (que a Turquia não vê com bons olhos).

Naturalmente não agiriam sozinhos, o que diminui os seus riscos e o principal deles em termos de retórica política: o desgaste moral interno e externo. Os Curdos procuram resistir e pedem mais armas para não deixarem Kobané justamente para também evitarem uma invasão aliada com a Turquia num papel e numa presença decisivos. 

De repente, Kobané ganhou uma dimensão e uma importância que nunca teve, apesar de estar na fronteira em que está. Ali se joga, neste momento, o futuro mapa regional. 

(um estudo interessante sobre os Curdos pode ser lido e baixado aqui).


28.9.14

Ukrânia limita Putin: casa roubada, trancas à porta



Israel fez o mesmo, com fronteiras igualmente discutíveis mas, se te roubam a casa, claro, pões trancas na porta.



Ukraine to Wall Out Putin, Literally | World Affairs Journal

14.9.14

Putin e a extrema-direita europeia



A propaganda russa manipula bem o saudosismo pela antiga URSS. Muitos anti-imperialistas dos anos 60 a 80 vibram com entusiasmo quando a Rússia de Putin desfere mais um golpe na liberdade e na vontade de países independentes e que o são, de facto, porque a URSS acabou. 



Ao mesmo tempo a propaganda russa encobre o mais que pode a instalação e consolidação de um disfarçado regime de partido único. A rejeição de candidatos 'perigosos' tem aumentado, bem como a sua prisão, sobretudo se denunciam o imperialismo russo. A velha esquerda internacionalista e revivalista, habituada que estava a colaborar nisso, de bom grado contribui sem pedir nada em troca. 




Mas o regime de Putin não tem nada de esquerda, nem de marxismo. É uma espécie de salazarismo russo, com a diferença do acentuado militarismo e expansionismo. 




O expansionismo russo toma por base, como o hitleriano, as comunidades russas em países vizinhos. Com essa desculpa Hitler invadiu tudo o que podia até o Ocidente entender, por fim, que não havia paz possível. Putin faz o mesmo em nome dos russófonos. 




Uma pergunta fundamental para compreendermos a sua política é: quem são estes russófonos e como foram para ali? 




A propaganda soviética legitimava o expansionismo russo afirmando que precisava de criar unidade popular entre os vários componentes da União. Porém, em nome disso, o que fez? Tornou em minorias, ou maiorias escassas, os povos de uma dada região transferindo-os forçadamente para outros países da ex-URSS. Esses povos tiveram que integrar-se nas novas comunidades, tiveram que aprender russo e, muitos deles, tiveram simplesmente de desintegrar-se para sobreviverem nos novos países, assimilando a cultura e a língua russas e tornando-se, portanto, mais um factor favorável ao expansionismo russo. 




Os russófonos, porém, de que falo não são esses, são os da outra face da moeda. Tal como esses tinham que abandonar a terra natal sua e dos seus antepassados, outros vinham ocupar os seus lugares. Eram russos, geralmente operários, com pouca educação, com salários baixos mas desfrutando de regalias e facilidades práticas por virem da Rússia, centro do poder da ex-URSS. 




A maioria esmagadora dessas comunidades funcionou e funciona como colónias: não adquirem as línguas locais, não se integram nas comunidades locais e só entram na vida política local para defender a aproximação maior ainda com a Rússia. 




A intervenção putinesca em favor destas comunidades é, na verdade, a manipulação do seu saudosismo a favor do novo expansionismo russo. A sua actuação visa consolidar uma política meramente colonial, em que uma comunidade exógena se impões às locais ou tenta fazê-lo, sem qualquer respeito pelas suas especificidades. 




A velha esquerda dos anos 60 a 80 e seus resquícios actuais, ainda raivosa pela vitória do capitalismo sobre o capitalismo de Estado, coloca-se afinal na defesa do último colonialismo direto do mundo. 




Para quem vê de fora, a incongruência é clara. Tanto quanto a perceção de que não é geralmente esse o seu lugar. 




Já o mesmo não se passa com a extrema-direita europeia. Essa extrema-direita é extremamente parecida com o putinismo: põe um verniz de democracia sobre as garras mas, na verdade, procura ir instalando - aparentemente por mecanismos democráticos legais - ou protegendo ou divulgando políticas ditatoriais. 




O combate à emigração passa por isso. Para os operários franceses, ex-PCF ou seus filhos, é o combate novo pelo emprego. Para os dirigentes europeus é a manipulação do desemprego para expulsar todos os que não se integrem numa visão fundamentalista dos seus países. É o mesmo que Putin promove com a Igreja Ortodoxa por exemplo. Os estrangeiros têm que se integrar e assimilar totalmente na cultura das nações a que chegam.  




Se, por um lado, parece compreensível que os estrangeiros sejam obrigados a respeitar as culturas nacionais dos países a que chegam, isso não implica necessariamente assimilação, abandono das suas culturas de origem, significa apenas que, em havendo choques culturais, a cultura que domina legalmente é a dos países receptores. Portanto significa que os grupos de emigrantes não podem exercer pressões no sentido de colonizarem os países que os receberam com a imposição do seu fundamentalismo. Ou seja: é compreensível a rejeição da transformação do emigrante em colono. 




Mas a extrema-direita não quer isso. Ela quer, simplesmente, o apagamento dos traços culturais próprios de estrangeiros que vivam no país. E que os seus nacionais, por seu turno, não tenham que sofrer o mesmo quando vivem fora da sua pátria. Por isso a extrema-direita europeia se dá bem com o fundamentalismo nos outros países. A ideia é a de que, se "os vossos pais lutaram pela independência", agora curtam-na, fiquem lá na terra deles a viver à vossa maneira e nós ficamos na Europa a viver à nossa maneira. É uma rejeição total e egoísta do processo cultural multímodo gerado pela globalização. Nesse aspecto a mesma que orienta Bin-Laden e... Putin. 




O dirigente russo conhece tudo isto muito bem. Daí que ele namore, não a velha esquerda europeia, mas a nova extrema-direita. Estes nacionalismos, tendencialmente imperialistas e, portanto, contraditórios, é que antes e até hoje conduzem a guerras, em geral desastrosas porque as guerras raramente se fazem para a felicidade dos povos. 




De onde que não me surpreendam as informações que servem de base à análise para que remete a hiperligação. A velha esquerda e mesmo os velhos liberais é que deviam tomar isso mais a sério:




Strange Bedfellows: Putin and Europe’s Far Right | World Affairs Journal:







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8.9.14

russismos


Há mulheres um bocado menos atrativas que acham que, forçando laços, prendem os pássaros. Putin faz o mesmo: não tendo a Rússia tão poderosa e atrativa como os EUA, vai apanhando pequenas falhas de aliados ocidentais psra tentar fazê-los reféns. É o que faz com o gás. Mas assim põe-se na posição de parceira forçada: logo que surja algo de novo os pássaros fogem para outros braços e a Rússia fica orgulhosamente só. Guerreando feio.

http://www.worldaffairsjournal.org/article/yes-russia-matters-putin’s-guerrilla-strategy

6.9.14

cinismo internacional


Realmente, era uma obrigação das grandes potências, ao menos, preocuparem-se com o que se passa na Líbia e no Iraque. 

Digo das grandes potências e não do Ocidente. Porque a Rússia também é uma grande potência militar, faz alarde disso, criticou intervenções americanas que, segundo os saudosistas da propaganda soviética remanejada por Putin, estariam na base das situações actuais. No entanto, não propôs nenhuma intervenção para minorar o sofrimento desses povos e países e assim corrigir os erros do 'Ocidente'. Pelo contrário, continua com a sua política de agressão aos vizinhos, protegendo colónias de russos que, após anos de vida em países vizinhos nem sequer se esforçaram por aprender a língua deles e respeitar a cultura desses povos que os acolheram. Nem deixaram de se considerar superiores quando não têm nenhuma razão para isso. 

A verdade é que a Rússia e a China só se lembram do sofrimento dos outros quando é para criticar os EUA  e os aliados 'ocidentais'. Tal como estes só se lembram do sofrimento dos povos quando lhes dá jeito. 

Os povos não têm pais. Ou se seguram ou estão perdidos.



22.8.14

O Brasil-caranguejo?



Alguns amigos que me desculpem, mas isto, para além de socialismo errático e de vulgata populista, é só andar para trás. A pedrada cai bem no meio do charco:



Sonháticos e pesadeláticos, por Nelson Motta - Ricardo Noblat: O Globo:



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6.8.14

Bourdieu e os ‘gostos’ da ‘nova classe média’ - | Observatório da Imprensa | Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito



Também essa esquerda brasileira agora no poder não está a educar o povo?



Bourdieu e os ‘gostos’ da ‘nova classe média’ - | Observatório da Imprensa | Observatório da Imprensa - Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito:



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The Jewish Press » » Left-wing Orgs Criticize Decision Not to Investigate IDF



A falta de senso crítico, por parte das esquerdas mais ou menos amanteigadas (=pacifistas) do Ocidente que as protege e financia, mesmo em Israel (e dos políticos fracos que as fingem acompanhar para ganharem votos), torna-se irresponsável e criminosa. Sempre os mesmos argumentos e sempre a mesma incoerência. Alguns tópicos:



1) Não se deve perseguir o Hamas porque os rockets que ele atira não estão a matar pessoas. Não matam graças ao sofisticado sistema anti-rockets desenvolvido pelos israelitas, não por humanismo do Hamas. É preciso deixar que o Hamas consiga matar mais gente para que Israel passe a ter o direito de evitar que ele tenha mísseis e rockets e capacidade para destruir Israel como oficialmente pretende? Matar com rockets e mísseis entretanto importados do Irão, país antidemocrático, onde a oposição foi violenta e sanguinosamente esmagada já por mais de uma vez? Porque não pediram investigações ao Irão nessa altura, nem ao Hamas quando seletivamente matou, por vezes acusando-os de espionagem a favor de Israel, todos os seus opositores em Gaza? 



2) Outra acusação: não se deve atirar a alvos civis e chama-se alvos civis a escolas e hospitais que o Hamas usa para lançar rockets, transformando crianças e doentes em escudos humanos e alvos civis em alvos militares. Como se pode pedir uma investigação independente quando se oculta  a origem do problema? Os rockets foram ou não foram lançados de hospitais e escolas? A ONU calou ou não calou isso?



3) A vitimização do Hamas esquece o problema básico: a não aceitação do Estado de Israel. Israel fez uma proposta que podia resolver o problema: o Hamas desmilitarizava Gaza. Em troca Israel não atacava mais Gaza. Claro que o Hamas recusa, porque pretende a destruição pura e simples de Israel. E, no entanto, podia aceitar, havia maneiras de arranjar garantias internacionais para defender Gaza, que podia ser um território independente, governado por palestinos, mas declarado sob proteção da ONU.



4) A vitimização do Hamas esquece também a pacificação das relações de Israel com a Cisjordânia. Embora lenta, recheada de incongruências e recuos em que também Israel tem muitas responsabilidades, a pacificação dessas relações vai dando a Abbas e a essa parcela da atual Palestina uma credibilidade internacional que a leva a enfrentar com sucesso as falhas dos israelitas nos areópagos internacionais. É possível, portanto, agir de outra forma com Israel, pelo que se deduz que a culpa destas guerras em Gaza é só da responsabilidade do Hamas. A quem essa responsabilidade deve ser assacada e que deve responder por isso como criminoso de guerra que é. 



The Jewish Press » » Left-wing Orgs Criticize Decision Not to Investigate IDF:



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5.8.14

Angola: execução orçamental


Segundo o semanário luandense Expansão, a execução do investimento do OGE ficou apenas em 13% no I trimestre.

Boas notícias? Não. Segundo o mesmo semanário, o fraco ritmo do investimento público já levou o FMI a rever em baixa a taxa de crescimento do PIB este ano.

Por sua vez a pauta aduaneira é responsável pela fixação da inflação em 7,5%.

Um caso, talvez, de má gestão dos investimentos e do dinheiro a investir; outro de ausência de gestão das expectativas e consequências criadas por uma medida polémica.

Mas vamos caminhando, mesmo assim. Não é?

17.5.14

Alexander Yessenin-Volpin - A brief biography in his own words



Uma biografia curta de uma figura extraordinária de poeta, matemático e defensor dos Direitos Humanos, que entre outras coisas contesta que a tradição russa seja oposta aos DH:



Alexander Yessenin-Volpin - A brief biography in his own words: ""Words, nothing more. And for such words a man could be shot.""



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27.3.14

22.3.14

Europa disposta a dar “um murro” à Rússia que pode doer a todos - PÚBLICO



A Europa dos oligarcas? Não. A Europa do gás, fragilzinha, dos fofinhos tradicionais das juventudes partidárias, a Europa dependente da Argélia, da Rússia, da Ucrânia por falta de uma estratégica antecipação a este tipo de problemas.



Europa disposta a dar “um murro” à Rússia que pode doer a todos - PÚBLICO:



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A balança - PÚBLICO



É isso mesmo, Vasco Pulido Valente. Só esquerdistas cegos e retrógrados não percebem que não se trata da guerra de um justiceiro (imaginem Putin justiceiro! ainda por cima de esquerda, ele, o amigo dos oligarcas obedientes, com a Igreja Ortodoxa a rezar por ele e tudo...) o justiceiro socialista Vladimir Putin a vingar o terrível imperialismo ianqui! Não se trata disso, mas sim do retomar da velha Rússia e dos interesses dos impérios do Norte no século XIX, que levaram à I Grande Guerra. E os argumentos de Putin são muito parecidos com os de Hitler, por exemplo os que o austro-alemão usou relativamente aos Sudetos. Não são os de Angela Merkel, figura (para mim desagradável) que alguns esquerdistas vesgos querem conotar com um paranóico IV Reich, mas os argumentos de Putin, proteger os seus, responder aos apelos dos seus, da sua 'raça', etc.

E continuo na minha: pela pressa com que Yanukovich largou o poder e fugiu para a Rússia é porque sentiu que o seu padrinho não o protegeria mais, já devia haver algum acordo, pelo menos tácito, que era este: a Crimeia para a Rússia e a Ucrânia para a U. E. Até porque eram dois factos consumados: Yanukovich era já odiado na Ucrânia e não tinha muito poder real; a Rússia, por seu turno, era imbatível na Crimeia. Resta saber o destino das outras regiões de maioria russa na Ucrânia.



O que há de novo, relativamente ao século XIX, é que a Rússia só tem apoiado ditaduras, acolhe ex-ditadores, recolhe fundos dos que querem fugir ao fisco, apoia líderes que, pela sua intolerância, levaram às guerras civis nos seus países. É sintomático a Rússia não ter ainda apoiado nenhum democrata, nenhum líder político a lutar pela liberdade para o seu povo, mas apenas ditadores em crises de grande constestação interna. Para quem está do lado da liberdade, ainda que a liberdade condicionada do capitalismo, não há qualquer dúvida sobre Putin e a Rússia de hoje.

Post-scriptum: Venezuela agora, depois da Síria.

A balança - PÚBLICO:



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19.3.14

Turkey on the Brink: Will Elections Undo Erdogan? | World Affairs Journal



Uma boa análise sobre a atual encruzilhada turca. Há um dado fundamental: o caminho de Erdogan até aqui foi tão promissor porque ele precisava de, por via democrática (por via de eleições consideradas livres pela 'comunidade internacional'), atingir a maioria necessária para poder quebrar consensos e instaurar uma república mais islâmica do que democrática, ao mesmo tempo que satisfazer os apetites financeiros dos mais próximos (incluindo familiares). Ao sentir-se à-vontade, com a última votação que teve, começou a mostrar quem era. Os resultados estão à vista. Pode ser que a máscara de mais este 'visionário', apoiante dos Irmãos Muçulmanos no Egito, caia também.



Turkey on the Brink: Will Elections Undo Erdogan? | World Affairs Journal:



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Abe’s Gambit: Japan Reorients Its Defense Posture | World Affairs Journal



Pelos vistos está em marcha um crescendum militar no Extremo Oriente. Os impérios que se vieram reconstruindo depois do fim da Guerra Fria estão lentamente a afiar as garras e a preparar (ou prevenir?) novos conflitos. Assim como na Crimeia, também entre a China e o Japão:



Abe’s Gambit: Japan Reorients Its Defense Posture | World Affairs Journal:



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13.3.14

Os oligarcas amigos de Moscovo

Alguns ressentidos esquerdistas de outrora parecem preferir a Rússia destes oligarcas, muito parecida nisso com as ditaduras de direita que antes combatiam na América Latina. Porque será que o fazem?



(Some leftists resentful of yore seem to prefer these Russian oligarchs,
much like it with the right-wing dictatorships that they once fought in Latin
America. Why they do this?)



Ukrainian oligarch Firtash, wanted by United States, arrested in Vienna | Reuters:



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5.3.14

6 datos para entender Crimea, pieza clave del conflicto en Ucrania - Principia Marsupia



Um 'blogue' com análises e narrativas que me parecem certeiras e isentas sobre o que se passa na Ucrânia e na Crimeia. Leiam, por exemplo, esta mensagem:



6 datos para entender Crimea, pieza clave del conflicto en Ucrania - Principia Marsupia:



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27.2.14

New Ukraine ministers proposed, Russian troops on alert | Reuters



Reparem nisto: os grandes aliados de Putin são todos ditadores. Look at this: all Putin alies are dictators.



New Ukraine ministers proposed, Russian troops on alert | Reuters:



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18.2.14

Should There Be One Ukraine? | World Affairs Journal



Um bom momento, entre outras coisas, para discutir e experimentar as doutrinas federalistas:



Should There Be One Ukraine? | World Affairs Journal:



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The Domain of Spain: How Likely Is Catalan Independence? | World Affairs Journal



Uma análise sóbria e bem fundada do historial e das expectativas de uma possível independência da Catalunha - que não será nada fácil, nem internamente (em Espanha), nem externamente (na Europa e na ONU):



The Domain of Spain: How Likely Is Catalan Independence? | World Affairs Journal

18.1.14

Constituições Tunísia Egipto - Expresso.pt


Uma boa análise, isenta, sobre a recente evolução destes dois países, maioritariamente islâmicos e com partidos laicos fortes (embora não muito populares). Os únicos, talvez, que podem escapar ainda aos pesadelos invernosos das primaveras sanguíneas do Islão fanático e autoritário.

Constituições Tunísia Egipto - Expresso.pt

14.1.14

Ariel Sharon - obituário razoável



Uma breve biografia, muito bem informada (li lá coisas que nunca tinha lido - por exemplo a ligação dos pais de Sharon ao socialismo) e equilibrada sobre

Ariel Sharon (1928–2014) | World Affairs Journal

13.1.14

Investimento do Estado no ensino superior está abaixo de 0,3% do PIB - PÚBLICO

A cegueira portuguesa quanto a investimento em Ensino Superior, Investigação e Ciência continua intacta. Não é questão de ministro nem de ministério. É um mistério mais fundo... um país que aposta na burrice e um Estado que insiste na fuga às suas responsabilidades estratégicas.

Investimento do Estado no ensino superior está abaixo de 0,3% do PIB - PÚBLICO:

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7.1.14

The Brooklyn Burkeans Publications National Affairs


Nesta hiperligação

The Brooklyn Burkeans Publications National Affairs

um bom resumo do início do neo-conservadorismo nos EUA, principalmente centrado na figura de Irving Kristol e da sua esposa. É um resumo elucidativo, que completa as indicações dadas em vários momentos pelo próprio Kristol e numa espécie de auto-biografia intelectual que figura como Secção I em Neoconservadorismo: autobiografia de uma ideia (Lisboa: Quetzal, 2003).