12.3.19

Internet e liberdade - 30 anos - entrevista de Tim Berners-Lee


A cidadania internacional passa hoje pela 'web'. Criada como um sistema de comunicação em aberto, por isso ela se tornou tão rapidamente importante, mas também tão diversa e tão perigosa. O que, por um lado, reforça a tese de que são as criações em aberto que fazem avançar a humanidade, portanto os sistemas políticos onde há mais liberdade e participação. Por outro lado, somos humanos...

30 anos depois da sua criação fazia todo o sentido esta entrevista. Aumentado o sentido pela qualidade das respostas do fundador da rede. Algumas delas e o Contrato de que fala, só assim, não passam de boas intenções. Mas Tim Berners-Lee toca em alguns pontos sensíveis das discussões atuais sobre a rede mundial a partir de um ponto de vista tecnicamente assistido. Isso permite esclarecer alguns pontos, dar um sentido próprio a projetos de que desconfiamos e, também, apontar algumas medidas concretas para resolver, pela informática e não por leis, alguns dos problemas que foram surgindo. Fico, ainda assim, desconfiado sobre medidas como a de monitorar o 'humor' dos usuários (facebook) para punir os 'maus' ou prejudiciais e premiar os 'bons'. É que isso continuará o 'pau de dois bicos' em que estamos e se, para combater as ameaças, temos de integrá-las num sistema de zeros e uns, estamos perdidos, a realidade humana é muito mais complexa do que isso. Daí que muitos usuários do facebook, por exemplo, sejam traídos pelos automatismos morais entretanto programados e se revoltem, justamente, contra o que passa a ser uma forma de censura. Seria preciso, por exemplo, que a programação conseguisse descobrir se comportamentos perigosos (e não simplesmente a colocação de 'nús') estavam ligados indiretamente a empresas, interesses, prostituições, ou se são mera arte e partilha (e nesse caso há maneiras de partilhar em privado).

O problema é que a própria 'web' é um 'pau de dois bicos' e não deixará de ser. Ao proporcionar uma comunicação livre e aberta entre seres humanos ela se tornaria um palco privilegiado da humanidade, o seu espelho mais fiel nos nossos dias. O que está pior, nela, não é a rede mas os usuários da rede que a aproveitam para o mesmo que fazem no dia-a-dia fora dela. Pode haver 'truques', programas, estratégias e antecipações que ajudem a limitar esses comportamentos, ou mesmo a inibi-los ou neutralizá-los (é, na verdade, melhor neutralizar efeitos que inibir os comportamentos), mas o ser humano que mexe ali é o mesmo. E os políticos não resistiriam a controlá-lo, também, através da 'web' e a balcanizá-la. 


Sendo reconfortante sabermos que o fundador da rede mundial não perdeu o sentido aberto e saudável da sua criação, precisamos, ainda assim, de saber usá-la para rebater 'o mal', ou seja, as ameaças à nossa liberdade e, portanto, àquilo que somos quando não estamos constrangidos e não agredimos os outros. Será possível? Acredito que só mesmo pela criatividade de programadores e informáticos podemos assegurar a circulação universal de ideias e partilhar as nossas aprendizagens livremente e com menos riscos. Mas também acredito que a lucidez de cada um ajuda bastante.


O ponto fundamental continuará a ser este: a pessoa. Se a pessoa não muda, nada mais muda. Por isso era igualmente importante que a transformação pessoal fosse autónoma e autorregulada, para não dar azo, ainda aí, à manipulação de personalidades frágeis. Essa é uma tarefa a que podemos dar início já, cada um de nós, por si.





30 ans du Web : « Il n’est pas trop tard pour changer le Web », affirme Tim Berners-Lee