14.2.12

crise do liberalismo ou do Estado social?



Com uma estranha prontidão os cronistas de esquerda correram atrás da crise para denunciar as nefastas consequências do neo-liberalismo. Baralharam tudo.


Há duas crises: uma, iniciada nos EUA, provocada pela facilitação dos empréstimos para compra de imóveis e outras compras. Instituições não propriamente bancárias começaram esse processo, os governos democratas e republicanos foram fechando os olhos (isso dava uma impressão de bem-estar ao povo) e depois a bolha rebentou. Rebentou porque as pessoas compravam mais, muito mais acima do que podiam pagar e faziam-no fiadas nos empréstimos fáceis. Esse tipo de processos vai crescendo, engordando quem empresta, até estoirar porque não é sustentável a médio prazo. Depois mergulha-se na crise e, se tentamos adoçá-la, enfeitá-la, disfarçá-la, pior ficamos. 


O que terá falhado aí? Uma cultura política de rigor em vez de políticas oportunistas feitas em função do voto próximo. As regras básicas do sistema de empréstimo foram superadas pela criatividade de alguns agentes económicos e, sempre que surge algo novo, é necessário fazer uma regulação mínima para que não haja abusos. É um limite, sem dúvida, para o liberalismo: é preciso legislar e regrar o mercado - mas minimamente, mostrando apenas os limites do negócio. 


A outra crise é bem mais profunda e não tem nada com esta, exceto pelo facto de se terem encontrado as duas na velha e senhorial Europa. Os países europeus, em tudo mais avançados que a China, recebem agora os chineses de braços abertos, agradecem-lhes a compra de empresas europeias, etc. O mesmo, aliás, se vinha passando com dinheiros árabes, indianos, do Oriente em geral e de alguns africanos. 


É sem dúvida humilhante que a Europa venha agora a depender da ajuda dos países que antes criticava - e justamente - por não terem direitos laborais, liberdade, salários, condições de trabalho e segurança social à altura das básicas necessidades humanas, etc. 


Mas os europeus têm que abrir os olhos e ver que:


1) por um lado, o 'apertar o cinto' por si só não dá nada: seca o mercado, o mercado encolhe demais, há menos impostos a receber, menos receita por todo o lado e vai-se de crise em crise até à derrocada final;


2) o Estado social falhou completamente. Na verdade sempre foi uma utopia, mas sabia bem e ninguém queria desvendar os olhos aos operários. O excesso de proteção praticado pelos Estados sociais europeus é que os levou à bancarrota. Os próprios empresários europeus fugiram, muitos deles, para o 3.º mundo - onde tinham mão de obra mais barata mesmo quando especializada e uma carga de impostos infinitamente menor. Com eles levaram empregos, dinheiro dos impostos, enfim, receitas. 


Bradar, agora, contra a falta de direitos e condições laborais na China, ou em qualquer outro país, é patético. O que há é que pensar por que o Estado social, paternalista, faliu. A resposta é dolorosa para quem sempre acreditou nisso, principalmente os políticos de índole socialista. A causa do 'falhanço' acaba sendo a mesma que a do fim do 'comunismo': passa-se um pano de faz-de-conta sobre a ambição humana, a natureza humana, e tenta-se acabar ou neutralizar aquilo que mais nos move a par do sexo, e que é o dinheiro, o poder, a aceitação e superação da competição. Claro que os empresários não iriam ver os lucros dos seus colegas de outros países crescer enquanto os seus diminuíam pela carga fiscal imposta, somada ao excesso de direitos e benefícios que eram obrigados a conceder. Claro que iam partir para países onde ganhassem mais e dessem menos ao Estado e ao trabalhador. E claro que, nesse caso, a Europa ia ficar sem dinheiro suficiente para impor a democracia com Estado social a todo o mundo. 


É claro, também, que os cronistas de esquerda não sabem como dizer isso, assumir isso e reconhecer que o seu ideal estava errado. Inventam então esse mirabolismo: se há crise porque não houve regulação, então tem que haver regulação; se o liberalismo defende que não se regule, a culpa é do liberalismo - acabe-se com ele. E faça-se o quê? Outro Estado social e paternalista? Com que empresários?



9.2.12

Síria: guerra só de palavras?

O cartoonista do Jornal de Angola, sem dúvida pessoa talentosa, diz que a guerra na Síria é "por enquanto só de palavras" (v. cartoon de hoje). 


Ó Casimiro Pedro, só de palavras? As palavras matam daquela maneira? Bombas, incêndios, tiros, tanques, obuses, um número chocante de mortos e feridos e o meu amigo acha que tudo não passa de uma guerra de palavras? Ó amigo, veja pelo menos a Al Jazeera!

Guiné Equatorial na CPLP?

O que desejam os que denunciam a ditadura corrupta de Obiang Nguema não é que a Guiné Equatorial não entre na CPLP, é que o ditador saia do poder ou, pelo menos, que haja inteira liberdade ali - se é que isso é possível com um homem que há tanto tempo insiste numa política autoritária. 


Convém que a CPLP faça uma discussão frontal acerca deste assunto e obrigue os representantes da Guiné Equatorial a concordarem com o propósito lusófono (pelo menos aparente) de caminhar no sentido da liberdade, da democracia, da convivência saudável entre opiniões divergentes. 


As declarações de Georges Chicoti recentemente em Lisboa foram felizes e infelizes ao mesmo tempo. 


Por um lado é certo que a entrada da Guiné Equatorial pode "permitir uma evolução significativa" naquele país. Nesse sentido, aliás, as "reticências portuguesas" podem estar a dissipar-se se a Guiné Equatorial aceitar que a sua entrada na CPLP implica o engajamento "na construção dos valores democráticos". 


São já menos felizes declarações que lembram que outros países lusófonos não foram democráticos. Porque um erro, mesmo quando estratégico, não é por ter acontecido que se deseja ou deixa de ser erro. Se não foram boas as ditaduras que em certa altura Chicoti combateu também não é boa a ditadura na Guiné Equatorial. 


Alternativamente, a Guiné Equatorial e os países mais empenhados na sua integração devem, não só chamar a atenção (como fez o Ministro angolano) para o isolamento da Guiné Equatorial, mas sobretudo chamar a atenção para o que nos aproxima enquanto povos. Por dois lados essa 'comunidade' se estabelece: o lusófono (que, portanto, vem mesmo a calhar para uma CPLP, visto que há uma longa e estruturante memória da língua portuguesa e do seu convivente perfil tropical) e o bantófono, que aproxima essa Guiné de países como Angola, Moçambique e São Tomé.


A nossa maneira - lusófona e africana - de ser é, portanto, bem próxima da dos equato-guineenses e é revelando, por exemplo, o seu folclore que tomamos consciência disso, não falando em interesses empresariais ou defendendo que já houve ditaduras lusófonas antes. 

Angola: oposição democrática procura-se

Para haver democracia é preciso que os partidos políticos assegurem o ambiente democrático. Na verdade, para pouco mais servem se um governante souber absorver uma equipa nacional e consensual. 


Para isso é necessário que os partidos políticos cultivem, por dentro, o exercício da democracia. 


O que temos visto, ultimamente, é o contrário. Ainda ontem, quando a ala Lucas Ngonda, da FNLA, foi procurar uma casa para arrendar num bairro de Mbanza Congo (o 4 de Fevereiro!) onde a ala oposta é maioritária, a expedição resultou numa grande pancadaria. 


O caso é mais sério do que tem parecido aos jornalistas. É um indicativo de que as massas que apoiam Ngola Kabangu (e provavelmente as que apoiam os outros líderes), as próprias massas estão dominadas por sentimentos, convicções, ambições e práticas anti-democráticas. Portanto, não é dali que virão exemplos de democracia que nos mostrem uma alternativa séria ao MPLA. 


Dentro da UNITA, com um pouco mais de charme, Samakuva e os seus mais próximos andam sobre as mesmas águas. A pouco e pouco vão-se afastando as opiniões divergentes e é estranho que esse comportamento comum se generalize a várias tendências internas sem que haja um motivo interno para tal. De maneira que a própria UNITA vem perdendo o prestígio democrático anterior, quando fez Congressos a sério, com oposição propriamente dita e em ambiente de inteiro à-vontade. 


Uma coisa podemos concluir: é que, de facto, os partidos históricos de Angola não constituem alternativa entre si, nem alternativa ao MPLA. Cada vez menos uma verdadeira oposição passa por eles. A saúde da democracia angolana passa, portanto, por encontrar alternativas aos velhos partidos. E esse processo é preferível que seja lento para ser calmo e sólido. 

3.2.12

o que faz a CPLP para a divulgação da língua portuguesa?

Pergunta oportuna de José Milhazes no seu interessante blogue: http://darussia.blogspot.com/ - onde podemos ver as declarações de Putin sobre a segunda volta traduzidas com maior isenção do que nos noticiários das principais cadeias televisivas do ramo.