29.10.23

A impotência europeia

 - no Público de hoje, 29.10.2023. 

Continua lúcida a análise de Teresa de Sousa: "Aquilo que os líderes europeus poderiam ter feito seria ligar o ataque do Hamas a Israel à guerra da Rússia contra a Ucrânia".

Ela não diz o que está certo ou errado, moralmente, por ideologia ou por religião. Faz uma análise estratégica das possíveis tomadas de posição, dando sinal da mais útil e ao mesmo tempo respeitadora dos valores da Europa democrática. 

Claro que é por aí, sem deixar de, muito claramente, denunciar a causa da crise: o ataque mais bárbaro aos judeus desde os tempos de Hitler. 


22.10.23

A 'justiça social' e um editorial do Público

O editorial do Público de 22.10.2023 é sintomático da linha seguida ultimamente pelo jornal: aí se defende que Mamadou Ba e Paddy Cosgrave não deviam ser condenados, ou seja, sofrer as consequências de afirmações suas, em regime de liberdade e de justiça isenta, que julga os crimes e não as razões políticas do momento como se faz em regimes totalitários. E porquê? Porque a justiça não deve tomar decisões sobre um crime tomando-o apenas como crime, no primeiro caso (crime de difamação). Se as posições de Machado podem incentivar o crime de assassínio sobre Alcindo Monteiro - a todos os títulos reprovável e condenável, mas sobretudo enquanto crime - também as posições de Paddy Cosgrave incentivam os atos terroristas do Hamas e também as posições de Mamadou Ba sobre matar os brancos incentivam crimes racistas. Pela mesma lógica, deviam também ser presos e condenados os dois, a par de Machado, pessoa com cujas posições, sublinho, não me identifico de maneira nenhuma. Como não me identifico com a ditadura e o terrorismo do Hamas, nem com a sua utilização da população civil para se esconder, nem com crimes de guerra que realmente o sejam, como por exemplo os praticados ultimamente pela Rússia na Ucrânia atingindo alvos civis que não escondiam armas nem militares ucranianos. E se Israel comete crimes de guerra, também eles devem ser condenados e o seu governo condenado por cometê-los. 

Porém, se alguém nos acusa de um ato que não cometemos, esse crime terá de ser condenado e mesmo por ser crime, não por ser mais ou menos político. Se o criminoso, condenado a pagar uma multa, ridícula de resto para a gravidade das suas afirmações, diz que nunca pagará, reincide em atos criminosos e se recusa a jogar o jogo da justiça, abertamente. Não respeita, não só as regras de convivência das sociedades livres (em que cada um se torna responsável pelas acusações que faz em público), como também todo o sistema de justiça. E porquê? Porque foi condenado e não queria. 

O que defende o editorial em alternativa? Um julgamento político. De acordo, claro, com a 'verdade social' defendida por David Pontes e que não é consensual, portanto não pode ser uma verdade social - coisa já de si duvidosa em países livres. O julgamento político defendido pelo editorialista seguiria cegamente o critério de que há uma responsabilidade moral de Mário Machado no crime, porque ele foi executado em nome da mesma postura política do acusado por Bá (o tal que, simbolicamente claro, queria matar os brancos que há em nós). Daí que o seu nome deva ser publicamente condenado por um assassínio que ele não cometeu e que Mamadou Ba tinha a obrigação de saber que ele não cometeu, antes de o acusar. Mas Mamadou Ba, graças ao tipo de pensamento que David Pontes exibe, sente que não tem de se responsabilizar perante a justiça pelo que diz, porque politicamente estaria certo. Para quem? 

Passando ao segundo herói do editorialista, parece que David Pontes não percebeu que o mesmíssimo argumento (a justificação política de um crime) justifica que empresas como a Google, a Amazon, a Meta e outras empresas e outros países, como Israel, se afastem da Web Summit. Há uma verdade inquestionável: o Hamas praticou dois crimes de guerra gravíssimos que geraram a atual crise militar: um massacre e uma tomada massiva de reféns - que continua a deter consigo, tendo libertado apenas duas norte-americanas. Há uma larga faixa de votantes e cidadãos livres de países livres que não se revêm no falso consenso em torno do Hamas, que os 'posts' pró-palestinos tentam impor, incluindo com uma invasão do Capitólio que, no tempo de Trump, justamente condenámos quase todos nós. 

Além disso, em países livres, as empresas são livres de participar só das iniciativas que lhes interessam. Se um organizador de uma iniciativa decide ser pró-Hamas e condenar Israel e eu, dono de empresa, rejeito essa posição, não vou participar da iniciativa dele, porque estaria a dar força ao que ele defende e eu condeno. Isto é o próprio jogo da liberdade. Em nome do quê podemos condenar empresas por se distanciarem de afirmações que legitimam os argumentos do Hamas, que mantém reféns ilegalmente? E note-se que Paddy Cosgrave não condenou o Hamas por isso, nem a Jihad Islâmica pelo foguete oportunamente falhado nas vésperas da visita de Biden, nem o Hamas por manter os reféns até agora, nem relacionou os bombardeamentos israelitas com os reféns mantidos pelo Hamas. Tardiamente, ao ver o seu posto em perigo, é que veio condenar o Hamas por ter feito reféns e um massacre. Mas só então se apercebeu disso? 

Cosgrave, como toda a 'pessoa pública', tem de assumir as suas posições, é livre de o fazer, e tem de arcar com as consequências, ou seja, tem de aceitar que 'os outros', não concordando, se afastem dele e das suas iniciativas. Se combatemos isto, combatemos a liberdade em nome da qual escrevemos. Cosgrave foi obrigado, pela pressão social, a perceber que vive numa sociedade onde a sua opinião não pode ser inquestionável e, portanto, pode ser derrubada por pressão da 'verdade social' e dos que se recusam a alinhar em eufemismos para defender os atos terroristas do Hamas, ou recusar o direito de Israel retaliar e se defender. Como o editorial indiretamente faz, por apoiá-lo, pois, quem apoia uma opinião que defende ou favorece uma organização terrorista, apoia essa organização terrorista e os seus crimes. Repare-se que David Pontes em nenhum momento reconhece que Paddy Cosgrave estava a defender o Hamas, em nenhum momento do seu texto refere os crimes do Hamas, e tenta pelo contrário, se não criminalizar, pelo menos condenar publicamente as atitudes de resistência à defesa pública dos atos do Hamas, ou à recusa pública em denunciá-los antes de denunciar os bombardeamentos israelitas que lhe respondem. Enquanto manifesta a sua opinião, está a fazê-lo em liberdade e tem o direito de o fazer; enquanto procura condenar o uso da liberdade por quem discorda dele, aproxima-se de uma tentativa de limitar ou condenar a liberdade 'dos outros'. É esse tipo de pressão, totalitária, que vem desvirtuando (pouco me importa se pela esquerda ou pela direita) o regime de liberdade em que vivemos.

Essas empresas, e Israel (o atacado por Cosgrave), ao se retirarem da web summit, não estão a mostrar "pouco amor à liberdade de expressão", mas a usar a sua liberdade para serem consequentes com a sua expressão. Já do editorial do Público, feito como está, se deduz que, sim, se pudesse, limitaria a liberdade de expressão à concordância com o que disserem Mamadou Ba e Paddy Cosgrave. O artigo de Pontes distorce mesmo a realidade. Leia-se: "ao contrário do que deveria ser sólido nas sociedades ocidentais, a liberdade de expressão se desfaz com facilidade com julgamentos errados." Ora o julgamento errado, meu caro editorialista, que pode levar à diluição prática da liberdade de expressão, parece-me ser o seu e não o de Israel defendendo-se, ou das empresas usando a sua liberdade para se recusarem a participar de eventos dirigidos por um homem tendencioso quanto ao Hamas, que lidera a faixa de Gaza com uma ditadura férrea, não com liberdade de expressão, nem com um regime comparável ao de Israel. O Hamas não admitiria que alguém o condenasse e fosse lá organizar uma web summit. Portugal, que não concorda com Paddy Cosgrave, admitiu no entanto que ele tentasse organizar um evento no país. E fez bem. O governo português e o seu presidente estão, por isso, de parabéns. A justiça portuguesa, no caso da condenação da Mamadou Ba, está igualmente de parabéns: julgou um crime enquanto crime e o deu por comprovado.


Nota posterior: no número de hoje do mesmo Público, 23.10.2023, Carmo Afonso insiste nos mesmos tópicos, como 'sementes de alfarroba'. Faziam-lhe bem, as sementes. O seu texto nada acrescenta, só repete os lugares-comuns da sua tribo. Queixa-se de um "consenso estabelecido" a favor de Israel, mas o que vemos em muita da imprensa e nas redes sociais é a tentativa de impor um 'consenso à força' a favor do Hamas. Uma vez que ela repete os mesmos argumentos, não vale a pena perder mais tempo com o seu texto. 


"Israel afunda-se na armadilha para onde foi conduzido pelo terror do Hamas. O seu justo direito de defesa assume as proporções de uma catástrofe" - este o destaque do editorial de hoje, 2.11.2023, de David Pontes no Público. Bem diferente do que já critiquei, neste mesmo 'post' ou mensagem. Muito mais equilibrado e, se não justo, revelando justeza. 

Inteiramente de acordo com quase tudo o que ele diz, apenas discordo em duas aparentes ingenuidades: a primeira vem nesse cabeçalho, é que Israel, com o Hamas dominando a Faixa de Gaza, não tem qualquer alternativa, porque os dirigentes do Hamas se escondem por trás da população civil, como toda a gente sabe e pouca gente refere. 

A segunda é uma consequência da primeira. Dizer que se deve "pôr a salvo o maior número possível de civis" e defender "a negociação da libertação dos reféns" é, no mínimo, ingénuo. Ingénuo porque entre esses civis irão ser postos a salvo dirigentes do Hamas, responsáveis diretos por esta crise. Dificilmente conseguirão passar um 'pente fino' a tal ponto que nenhum seja detetado. 

Mais ingénuo ainda, mas mais do que ingénuo, defender negociações para libertar reféns. A libertação dos reféns só pode ser incondicional. Israel disse que o prosseguimento do conflito dependia da libertação dos reféns e o Hamas começou a colocar outras condições. Ora, se a libertação dos reféns não for incondicional, estamos a aceitar a chantagem do Hamas, que também faz chantagem com os seus próprios civis. Está-se a aceitar a causa do conflito e a dizer ao Hamas - para a linguagem dele - que pode fazer mais reféns porque isso é negociável, acabarão cedendo a pelo menos uma parte da chantagem. 

O que vimos é que o Hamas, como qualquer ditador e como qualquer grupo terrorista, só cede por medo, forçado (exceção para ditadores loucos como Hitler). E foi por medo dos EUA e de outros países, tentando ao mesmo tempo criar divisões entre os aliados de Israel, que libertaram alguns estrangeiros. Em que medida os países 'beneficiados' irão compensar o Hamas pelo seu crime? 

É por estes motivos - e não por radicalismo político - inegociável a libertação dos reféns e inegociável qualquer trégua com o Hamas. O que, por sua vez, implica não ter Israel qualquer alternativa ao que fez, não por ser arrastado para uma armadilha, mas porque o Hamas domina a Faixa de Gaza, constituindo uma ditadura sem deixar as práticas terroristas. E uma ditadura, de resto, é uma forma de terrorismo de Estado... 


Uma opinião pertinente no Público de hoje, 3.11.2023 - a de Francisco Mendes da Silva (p. 8). 


20.10.23

A chusma dos 'posts' e a guerra Gaza-Israel


Não precisamos de perder muito tempo nem de remeter para qualquer citação, post, vídeo, imagem lacrimosa a apelar ao sentimento dos incautos piedosos.

O Hamas atacou Israel e continua sem reconhecer o Estado israelita, assegurando que vai destruí-lo. Matou, com plano prévio, todos os civis que encontrou pela frente, exceto os que fez reféns. 

Israel contra-atacou, defendendo-se, com os meios que tem, superiores porque em poucas dezenas de anos se tornou um Estado progressivo, desenvolvido e poderoso, ao passo que os palestinos, recebendo anualmente milhões ou bilhões de dólares de países árabes e de ajuda internacional, ainda não saíram do ciclo das ditaduras, da corrupção, da repressão, do terrorismo e do mero consumo-gasto de ajudas. 


A 'comunidade internacional', arrastada pela chusma dos 'posts', imediatamente se solidarizou com os palestinos vítimas do contra-ataque. Muitos nunca mencionaram os dois crimes gravíssimos cometidos pelo Hamas: o massacre de civis e a tomada de reféns, crimes de guerra, violações das leis internacionais, que deram origem à nova fase do conflito. 

Israel disse que, se o Hamas libertasse os reféns, a contraofensiva parava, pelo menos o tempo necessário para salvaguardar mais vidas palestinas. O Hamas respondeu com um vídeo onde mostrava um bébé, que seria refém, com os seus militares-terroristas no terraço de um prédio, com ar contente, festejando. 

A comunidade internacional e a chusma dos 'posts' cada vez aumentam mais as vozes contra o poder militar israelita e sua capacidade de resposta sem referirem que o Hamas continua a manter reféns israelitas em seu poder (e faz do seu próprio povo refém). 

Entretanto, um foguete ou rocket mal atirado, oriundo de um local controlado naquele momento pela Jihad Islâmica, que bombardeava Israel, provocou um desastre humanitário num hospital de Gaza e numa zona que devia estar evacuada. Sob o solo do Hospital havia um arsenal de armas que explodiu. Os vídeos espalhados por Israel, um deles da Al-Jazeera ao vivo, são suficientemente elucidativos: um foguete explode no ar e depois se dá a grande explosão no Hospital sem que se visse nenhuma bomba a cair de um avião, nenhum projétil vindo do lado de Israel. 

Mas a própria Al-Jazeera, que nunca fez um noticiário isento, continua ignorando o seu vídeo e reportando os acontecimentos na versão distorcida dos palestinos. Até a CNN fala do assunto veiculando a versão palestina e falsa de um bombardeamento israelita que até hoje não conseguiu demonstrar ou provar. 

Ninguém mais lembra que

1) O Hamas praticou um massacre que despoletou a situação.

2) O Hamas continua a manter reféns israelitas impedindo assim qualquer trégua.

3) O Hamas e a Jihad Islâmica e as autoridades palestinas ainda não demonstraram que foi um bombardeamento israelita que provocou a explosão no subsolo do Hospital.

4) O Hamas e a Jihad Islâmica mantêm-se escondidos entre a população civil, tornando-a refém, carne para canhão, o que também é crime de guerra. 

5) Há vídeos a circular que mostram bem que não foi nenhum bombardeio israelita que provocou o desastre do Hospital, acidente que não dava jeito nenhum a Israel na véspera da visita do presidente norte-americano. 

6) Até hoje não se sabe ao certo quantas pessoas morreram na explosão do Hospital, nem quantos dos mortos eram efetivamente doentes, nem quantos militantes ou terroristas palestinos estavam abrigados ali. 

Ignorando estes 6 pontos, nenhum noticiário, nem nenhum comentário, podem ser tidos em conta, veiculam uma versão distorcida, promovida pelo terrorismo do Hamas e da Jihad Islâmica sem qualquer prova. 

A atitude a tomar é a de não dar qualquer sequência a comentários e notícias tendenciosos. 


Por acaso, no Observador de hoje (22.10.2023): "Vídeos de ataques que afinal são videojogos e palestinianos ao relento que na verdade são jovens católicos em Lisboa. Há duas semanas o Hamas invadiu Israel e a desinformação invadiu as redes sociais."


17.10.23

A culpa

é um jogo de simulações para legitimar as mortes e a morte é sempre injusta, na política ou no resto da vida. 

Nesse jogo de culpas, que a História conhece bem e nas mais diversas e funestas variações, um ex-ministro angolano fez uma descoberta sensacional: a culpa da guerra em Gaza é de Israel e dos sionistas porque eles não aceitam um Estado Palestino. 

Só mesmo um governante de um partido que nunca respeitou as suas próprias leis, e que está com poder autoritário desde 1975, pode proferir uma tão descarada mentira. Então o sr. ex-ministro, comunicólogo intenso, não reparou ainda que o Hamas não reconhece o Estado de Israel e jura lutar até à sua total destruição? E que esse Estado assinou compromissos internacionais aceitando a solução dos dois Estados? 

Também não percebo como, em nome da liberdade de imprensa, um Diário de Notícias aceita, sem rebuço nem comentário, tamanha falsidade. É a lusofonia?