30.11.23

Morreu Kissinger, a velha raposa centenária.

Professor universitário muito respeitado; político prudente, cauteloso, hábil; diplomata no entanto controverso, que sabia que negociar implicava manter a presença militar forte nas frentes ativas; alemão judeu com visão pragmática e plena cidadania norte-americana. 

Seria preferível que, em alguns momentos, ele cedesse menos, apesar do cerco mais agressivo e eficaz da URSS e seus aliados aos EUA e seus aliados. Desconfio, porém, que, se não fosse a atuação dele nos anos '70, a política agressiva de Reagan não teria resultado tanto e tão rapidamente na derrota comunista. Na verdade, a sua diplomacia também enfraquecia os inimigos com quem conversava, abolia despesas com longas guerras inúteis, em que a vitória nunca estaria assegurada, e abria vias de intercâmbio económico fortalecedor do sistema dos EUA.

Para variar, há uma esquerda cega e uma direita nazi que só veem nele contributos negativos, inclusivamente acusando-o de ser responsável por milhares de mortos, por exemplo no Vietnam e no Cambodja. É fácil desmontar essas distorções, nem vale a pena gastar tempo com isso. Quanto aos 'nacionais revolucionários' (e socialistas), é claro que um judeu alemão que fugiu para os EUA por causa de Hitler nunca vai ser elogiado por eles. 

A sua biografia no The Nobel Prize.


Um obituário interessante ao nível da informação e da análise pode ser visto aqui: 

https://www.euronews.com/2023/11/30/former-us-secretary-of-state-henry-kissinger-dies-at-100 


Também me pareceu razoável, equilibrado, o resumo biográfico publicado hoje no New York Times

https://www.nytimes.com/2023/11/29/us/henry-kissinger-dead.html?auth=login-google1tap&emc=edit_ufn_20231129&login=google1tap&nl=from-the-times&te=1