20.9.15

Burkina to return to civilian rule after coup, mediator says | Reuters



À semelhança de outros golpes recentes em toda aquela vasta zona, também no Burkina Faso os militares herdeiros do ditador (neste caso deposto nas ruas) tentaram evitar a realização de eleições efectivando um golpe cerca de três meses antes. Lembram-se do Mali, por exemplo? Foi talvez o primeiro desta nova série de golpes e o mais desastroso - justamente pela insistência dos golpistas em se manterem contra tudo e contra todos.


Os objectivos iniciais são pios e castos, ainda mais nas últimas horas, reafirmados pelo ex-braço direito de Campaoré para os sectores militar e policial, que dirigiu o golpe (Gen. Diendere). Ele diz que não quer o poder (quase todos os ditadores o disseram), mas assegurar eleições credíveis e indiscutíveis. Havia, no entanto, muitos meios de o fazer pacificamente e não é de crer numa tão profunda e rápida conversão de Diendere à democracia, depois de anos assegurando o terror militar e policial de Blaise Campaoré. 


A menção a uma desejável dissolução da Guarda Presidencial foi também aventada como autêntico motivo para o golpe. Acredito que tenha sido um dos motivos, sendo o outro evitar as eleições que viriam consagrar um novo poder pela força das urnas e condenar a prazo os principais responsáveis pelo antigo regime e a própria Guarda, que não hesitou em disparar sobre os manifestantes provocando pelo menos 10 mortos (e que continua a enfrentá-los nos subúrbios, tendo a situação acalmado no centro da cidade). 


A reacção da União Africana e dos mediadores africanos (Macky Sall e Thomas Boni Yayi), foi, porém, exemplar. Apoiada pela comunidade internacional, apertou imediatamente o cerco aos golpistas sem deixar de os ouvir e tentar cobrir razões de queixa mais 'objectivas', como sejam as que dizem respeito ao seu futuro. 


Isto mostrou, mais uma vez em tempos recentes, que a África (ou, pelo menos, aquela zona de África) tem condições de assumir o papel que lhe cabe, resolvendo os seus próprios problemas em favor da democracia e da estabilidade. Infelizmente, o mesmo rumo não tem sido seguido, ou não com a mesma clareza e determinação, em algumas outras regiões africanas, como se vê no caso do Burundi.


Significativo, no golpe do Burkina Faso, foi o facto de o primeiro-ministro (Isaac Zida) ter ficado em prisão domiciliária quando libertaram o Presidente. O tratamento diferenciado que tem sido dado ao primeiro-ministro (ex-número dois da GP), rival de Gilbert Diendere, bem como a menção apenas ao Presidente interino quando se fala no regresso à normalidade, podem indiciar uma solução que, para os golpistas não ficarem de mãos vazias, sacrificaria Zida, instalando outro primeiro-ministro. 


Apesar disso, o importante é que o golpe falhe e as declarações do chefe das forças armadas, General Pingrenoma Zagre, denunciando a violência contra o povo, parecem mostrar que o golpe já falhou. Não porque o chefe do exército se tenha posto repentinamente contra Diendere. Em princípio, ele não estaria interessado em ver a todo-poderosa Guarda Presidencial no poder. Estava, porém, calado. O que torna sintomáticas as suas declarações é que elas indicam o fim desse período de silêncio, de prudência tumular, que muitos respeitam rigorosamente após o desencadear de um golpe. Se Zagre falou assim, condenando a violência da Guarda Presidencial, é porque percebeu que o golpe falhou e não deseja ver-se conotado com o seu episódio mais execrável: a morte de civis em protesto pacífico nas ruas. 


Esta, sim, pode ser uma vitória para África e os manifestantes Burkinabes mostraram, mais uma vez, uma determinação invejável. 





Burkina to return to civilian rule after coup, mediator says | Reuters:



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