27.10.14

Eleições na Tunísia


Devagar, devagar... 

Bem?

Eleições na Ucrânia


Pouco a dizer sobre as eleições ucranianas: para quem tinha dúvidas, uma pesada derrota para Putin e sus muchachos, uma demonstração cabal de que as manifestações da Praça Maidan eram mesmo genuínas e representativas. E Putin não tinha dúvidas. Agora mais ninguém tem. 

Eleições no Brasil


Ser reeleita, no segundo turno, com quase metade dos votos não foi nenhuma façanha para Dilma Rousseff. Nem para Aécio Neves a derrota foi propriamente consoladora. O empate técnico registado até ao fim, somado à abstenção muito elevada para uma eleição presidencial no Brasil, demonstram que os brasileiros e brasileiras tiveram dificuldade em se rever nos candidatos mais votados.

O sinal mais interessante, a meu ver, que vem daí e de uma primeira análise das eleições para Governador em segundo turno, é o da procura de estabilidade por parte do eleitorado. Um país com muitos partidos representados nas estruturas de poder vem, eleição a eleição, reduzindo o espectro de partidos viáveis e apostando cada vez mais em três ou quatro grandes agremiações, que formam essencialmente (e episodicamente, conforme os casos) dois blocos: um em torno do PT, o outro em torno do PSDB. 

Repare-se na nítida tendência para reeleger governadores, bem como no facto de a maioria deles ser ou do PSDB, ou do PMDB - tendo aí sofrido uma pesada derrota o PT, que venceu exceções tal como o PSB. E são sobretudo estes os quatro partidos que ficam. 

De forma geral, nas eleições para Governador, o PSDB ficou muito bem e o PMDB em segundo lugar. O que é também sintomático: 

1) dos erros de campanha e dos pontos fracos do candidato Aécio, que mesmo assim lutou muito para rebater pesquisas que o davam como necessariamente perdedor, por margem maior, para Dilma;

2) da vontade de mudança, mas de uma mudança com estabilidade e continuidade das políticas positivas (como aconteceu na transição de Fernando Henrique para Lula).

Essa lenta consolidação e concentração do sistema partidário brasileiro, de que faz parte uma inclinação para mudanças graduais e construtivas, é o melhor recado que o eleitorado brasileiro podia dar aos mercados e à comunidade internacional. - claro, também aos seus políticos.


8.10.14

Kobané e o mapa regional


A erupção do 'Estado Islâmico' (uma das muitas contradições dele está logo neste nome, pois pretendem criar um Califado idealizado totalmente fora do que se conceba como Estado) veio, para além de outras coisas (como denunciar em silêncio a corrupção que os alimenta comprando-lhes petróleo, estando entre os compradores o próprio Iraque), veio reabrir feridas profundas. É possível que os seus chefes, ou o seu chefe, contassem com isso. 

Uma delas prende-se com os Curdos. Povos que se formaram como tal numa zona montanhosa que hoje entra no Irão, na Turquia, no Iraque, na Síria e em territórios que já foram arménios, eles foram sofrendo as mais variadas (e geralmente longas) invasões, mesclando-se geneticamente e culturalmente com os povos invasores e criando assim uma comunidade de povos cada vez (ironicamente) homogénea, com uma identidade comum. Povos aguerridos, intermitentemente são independentes. 

Nos desenhos dos novos mapas do mundo, sobretudo no século XX, eles não tiveram lugar, mais uma vez, para formar uma nação. Daí que pegassem em armas e, sob outras formas também, lutassem pela unificação política do seu povo. Nada mais justo. 

Para manterem a luta armada precisaram de fazer alianças, incluindo com a URSS, o que fez com que se tornassem, em certa altura, aparentemente comunistas. Aconteceu com eles o que se passou também com vários movimentos de libertação africanos e do chamado 'Terceiro Mundo'. O MPLA por exemplo, que se dizia comunista quando era constituído por uma maioria estruturalmente conservadora e de uma religiosidade institucional.

Com o advento do Exército Islâmico e a falência completa do Iraque como Estado e como Exército, mais uma vez os Curdos viram uma luz ao fundo do túnel: tornavam-se aliados necessários e tinham prestígio como combatentes. 

Aí começou a desenhar-se uma questão delicada: para combater o EI era preciso reforçar os curdos, mas de maneira que estes não viessem criar outra alteração de fronteiras (que é um dos maiores problema que traz o EI, ao querer recuperar fronteiras medievais). Os curdos jogaram e jogam forte no combate ao EI por outros motivos também mas acredito que principalmente por objetivos estratégicos: cria-lhes maior respeitabilidade internacional e dá-lhes armamento de que precisam para reivindicar o seu território histórico. 

Os EUA e o 'Ocidente' parecem desastrados na sua reacção. Não podendo resolver tudo com bombardeamentos aéreos, nem podendo arriscar uma invasão terrestre duvidosa (que os envolveria numa guerra longa, com muitas baixas), não podem também armar os Curdos de maneira a torná-los muito fortes depois da derrota do EI.

A Turquia, temendo o mesmo, manteve uma posição discreta e distanciada. Agora, finalmente, anunciou a queda de Kobané antes do tempo e, em simultâneo, propôs a invasão terrestre. O objectivo é claro: derrotar o EI sem dar força aos Curdos e proporcionando indirectamente o controlo do Curdistão em países como o Iraque e a Síria (que a Turquia não vê com bons olhos).

Naturalmente não agiriam sozinhos, o que diminui os seus riscos e o principal deles em termos de retórica política: o desgaste moral interno e externo. Os Curdos procuram resistir e pedem mais armas para não deixarem Kobané justamente para também evitarem uma invasão aliada com a Turquia num papel e numa presença decisivos. 

De repente, Kobané ganhou uma dimensão e uma importância que nunca teve, apesar de estar na fronteira em que está. Ali se joga, neste momento, o futuro mapa regional. 

(um estudo interessante sobre os Curdos pode ser lido e baixado aqui).