1.11.17

Pablo Iglesias sitúa a Fachin y Anticapitalistas "políticamente fuera de Podemos" por reconocer la república catalana | EL MUNDO



Caiu-lhe a máscara de novo. Desta vez de forma tão evidente que ninguém mais poderá dizer que não percebe. Como sempre disse, é um ditador à espera de oportunidade e tão 'madrileño' (leia-se Espanha unida à força) quanto Rajoy (que devia ser galego):



Elecciones en Cataluña: Pablo Iglesias sitúa a Fachin y Anticapitalistas "políticamente fuera de Podemos" por reconocer la república catalana | EL MUNDO:



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29.10.17

Catalunha: Centenas de milhares pedem em Barcelona unidade de Espanha e prisão para Puigdemont

Afinal, segundo a Polícia, seriam só 300 mil...



Algo me faz desconfiar, nisto tudo, fico a desfiar interrogações: a notoriedade que manifestações menores atingem sobre manifestações maiores, com cobertura da imprensa bem posicionada em países como Portugal (que nada ganha com o que Madrid está a fazer); o facto de serem sempre aos Domingos (para trazerem gente de lugares mais longe?); a repetição de sinais da presença de forças de extrema-direita (a que ponto chegará Rajoy para acabar com as autonomias? Que compromissos pode ter assumido com a extrema-direita espanhola? Porque estes manifestantes são sempre tão radicais, ou mais, do que Rajoy?) Qual o sentido de Rajoy 'queimar' na Catalunha a sua super vice-primeira-ministra?



De qualquer dos modos, os catalães só têm uma maneira de responder: votar em massa contra Rajoy e contra os integracionistas. Manterem a via pacífica. Rajoy, por sua vez, avança com uma estratégia que visa, para além de abafar a autonomia e experimentar medidas autoritárias, tornar a oposição refém: se não alinhar com ele, é contra a Espanha. E a oposição não parece ter convicção suficiente para lhe desmontar a estratégia e convocar manifestações pacifistas, em toda a Espanha, defendendo uma legalidade democrática e uma solução baseada na livre decisão de cada povo. De maneira que o voto, com um país (a Catalunha) controlado autoritariamente por Madrid, só pode ser entre independentistas ou PP. E o Ciudadanos faz a triste figura de mostrar que a sua verdadeira razão de ser não visa renovar e aprofundar a democracia mas apenas calar decisivamente as hipóteses reais de mudança em nome de uma renovação plausível e moderada.



A política espanhola está, paradoxalmente, muito pobre.



Catalunha - Catalunha: Centenas de milhares pedem em Barcelona unidade de Espanha e prisão para Puigdemont:



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21.10.17

Milhares nas ruas de Barcelona contra Rajoy



Rajoy prossegue a sua estratégia do tudo ou nada, sendo o tudo o esmagamento das autonomias começando por esta e o nada a confusão generalizada para que ele triunfe sobre o caos. 

Mas o pior, por agora, são mesmo os aspetos jurídicos: parece, segundo advogado amigo e segundo um politólogo catalão, parece que o artigo 155 não permite isto, nada disto, além de violar o acordado do tempo de Maragall. Pedro Sánchez, por seu turno, mostra porque não é uma alternativa a nada. E o Podemos pode ir para a Venezuela, porque nem mesmo numa situação destas presta uma ajuda decisiva, apenas tenta capitalizar votos radicais - que já tem. 

A Europa jaz, posta nos cotovelos. Com política tão cínica e Trump do outro lado, não há, neste momento, países defensores credíveis dos direitos humanos no mundo - exceto, talvez, a Bélgica e a Escócia. Que não estão para se incomodar muito. 




Espanha. Milhares nas ruas de Barcelona depois da intervenção de Rajoy:



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7.9.17

Le Sénégal a expulsé vers la France le militant suprémaciste noir Kémi Séba



"supremacista negro" - finalmente, começam a aplicar os adjetivos próprios às pessoas:



Le Sénégal a expulsé vers la France le militant suprémaciste noir Kémi Séba: "Lire aussi :   « Oui, on peut critiquer à la fois Kémi Séba et le franc CFA qui nous asservit »"



Interessante ler também



Lire aussi :   « Oui, on peut critiquer à la fois Kémi Séba et le franc CFA qui nous asservit »

31.8.17

Tensão nas Coreias



A China aparenta o papel de pacificadora, mas não o é, porque também a China não quer exercícios militares dos EUA próximo das suas fronteiras, muito menos democracias. Assim alimenta (é o termo certo) o regime do Norte, que é o único instrumento que tem para pressionar com eficácia os EUA ali e manter uma zona-tampão entre um país democrático, de economia potente, e a sua ditadura dos 'dois sistemas' - uma autêntica 'chinesice'.



A Rússia ensaiou o mesmo papel, mas é um importador privilegiado da Coreia da Norte, com isso a alimentando (e com algum armamento vendido à socapa). Na verdade, também a Rússia não tem qualquer interesse em ver cair o regime ditatorial instalado ali, chegando-se a democracia mais perto da Mongólia que está bem assim, atrasada, medieval, sem dinâmica própria, paralisada por uma velha elite que tanto pode ser comunista quanto monárquica e oligárquica.



Isto e as asneiras de Trump, que é uma criança com idade para ser avô, leva a que o regime norte-coreano possa cada vez ir mais longe (literalmente). As simulações de resposta não são de hoje e, na verdade, não alteram nada. A menos que os EUA decidissem um ataque fulminante destruindo o regime em poucas horas e estas simulações testassem as possibilidades de o conseguir. Do que duvido, pelo acima exposto e porque Trump não me parece corajoso.



Teste - EUA, Coreia do Sul e Japão respondem a Pyongyang com simulação de bombardeamento:



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27.8.17

Ribeiro e Castro Reformar o sistema eleitoral é preciso



Esta entrevista de Ribeiro e Castro pareceu-me interessante. Propõe um pequeno passo, equilibrando o sistema uninominal com as compensações através do círculo nacional, um passo que, no entanto, no interior das democracias, permite aprofundá-las, tornar a relação eleito-eleitor mais autêntica. Pelo menos acredita-se que sim:



Ribeiro E Castro - Ribeiro e Castro. Reformar o sistema eleitoral é preciso. "Agora o eleitor não toca na bola":



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Um pequeno texto explicativo do que são os círculos uninominais vem no Economia & Finanças e, de certa forma, faz um contraditório: 



https://economiafinancas.com/2014/o-que-sao-circulos-uninominais/ 


10.8.17

Católicos denunciam fundamentalismo hindu



Podemos usar as expressões: Europa das Nações, África das Nações? Podemos falar das várias nações de que foi constituído um país - por exemplo a Espanha, Angola? Será isso nacionalismo? O nacionalismo coexistirá com minorias? 



Infelizmente o nacionalismo, seja ele qual for, hoje é somente fundamentalismo básico, primário, para legitimar hegemonias que são, sobretudo, familiares e económicas. Associa, geralmente, uma opção religiosa a um projeto de nação e ao predomínio de uma 'casta'. A religião, tendencialmente, é a da maioria dos cidadãos, agora tomados como submissos professos e não como cidadãos. A intolerância religiosa torna-se (novamente) o instrumento para construir o futuro nacional. As minorias, religiosas e étnicas, derivadas de antigas nações ou colonizações ou pregações mais e menos pacíficas, essas contribuem para o projeto anulando-se, apagando-se, em nome da hegemonia. Reduzir tudo ao que parece principal porque maioritário. Este reducionismo básico é um dos truques dos fundamentalistas atuais em todo o mundo (nacionalismo... global). Desmontando-o, cai o edifício. Mas a sua base começou por ser democrática: a maioria é que decide. Se a maioria decidir abafar as minorias, isso também é democrático. Não será liberal, não será da liberdade, mas será democrático (a vontade do 'povo' é a vontade da maioria dos votos). A democracia contém estes e outros ingredientes explosivos e muitas democracias embarcaram na conotação entre maioria, etnia, religião e até cor da pele. Assim um país de maioria xiita deve ser governado por xiitas, por exemplo. E se a maioria dos xiitas decidir eliminar os outros, as outras etnias e antigas nações que não foram por aí? É democrático. Também histórico: aproveitando-se dessas fragilidades das democracias, Hitler tomou o poder em nome da 'raça ariana' e tentou eliminar os judeus (e os ciganos e os pretos e os... outros todos). A tal 'raça ariana' tinha uma longa história, mal esclarecida e ignorada pelos nazis, uma longa história com a Índia - e não com a de Gandhi, apesar das alianças táticas... Partilham parcialmente os mesmos genes originais.



Podemos falar nas nações de que se compôs a Índia? Não, segundo o fundamentalismo hindu. Podemos conciliar nacionalismo e opções religiosas como se tentou fazer na Bósnia Herzegovina? Também não, para o fundamentalismo hindu. E muito menos os católicos de Goa podem existir, porque a sua identidade é perigosa para a legitimação de um Estado totalitário hindu. Mais perigosa ainda se atentarmos aos aspetos da doutrina que levaram a combater ou denunciar a escravatura, as ditaduras, as várias opressões e os vários totalitarismos (em muitos casos tarde, mas ainda assim foi melhor que nunca). Mas disto os hindus e os católicos ainda não falam. Só da constitucionalidade das atitudes. É um caminho... 



Leiam só isto: 



Panaji: India's largest and oldest forum of lay Catholics,
the All India Catholic Union (AICU), has urged president Ram
Chandra Kovind and federal government to initiate action
against "hate mongers" who continue to polarize society
against religious minorities.

The Union in a statement denounced the "hate speeches that
emanated from the recent" Hindu conclave in Goa and said such
talks have further vitiated the already "surcharged
atmosphere, and aggravated the communal polarization in the
country."

They were referring to a June 15-17 conclave of some 130
pro-Hindu organizations in Goa, where several speakers spoke
in support of violence to establish a Hindu-alone nation.
Hindu nun Sadhvi Saraswati, who addressed the conclave,
sought death penalty for those slaughtering cows.

"The politics of the cow has targeted Muslims and other
communities whose food habits and economy depended on the
trade in bovines. Its ramifications have not been fully
understood, and AICU fears they will irretrievably damage the
economic health of the farmers and the poor," said the
statement, issued after a special July 28 AICU gathering in
Goa.

Since 2015, several people across India have fallen victim to
incidents of mob lynching related to religious intolerance.
In the first six months of 2017, media reported 20 cases of
violence related to cow protection, much more than any time
in the past decade. At least 28 people were killed in
cow-related violence between 2010 and 2017, of which 97
percent were Muslims, according to media reports.

The Union's special gathering was convened in connection with
its centenary in 2019, which is also the year of next general
elections. It aimed to discuss the existing social situation
in the nation and register Church's response, said its
spokesperson John Dayal.

The Union also expressed its alarm over the attempts by the
Central and State governments to "saffronise" education in
the country by changes to curricula, text books and teaching.
If left unchecked, the move will make coming generations
"unfit for scientific reasoning" and "misfits in a modern
world," it warned.

While reviewing of the situation in Goa, the
meeting expressed solidarity with the demand of the
Catholic Association of Goa for the setting up of a
Minority Commission in the state, where it said
"bodies meant to safeguard constitutional rights
were dysfunctional."

"A major fear of the people is of moves to nationalize rivers
of Goa to open them to the corporate sector as transport
routes for coal. Any proposal to make a coal transport hub
poses serious threat to the health of the rivers and its
ecology," the statement said.

The Union also backed the Catholic Community of Mumbai, the
capital of neighboring Maharashtra, which has been fighting
the desecration of crosses, and their arbitrary demolition
despite authentic documentation of their antiquity.

It noticed that the people had often "voluntary shifted
crosses if they felt it was in the national cause. It was in
line with the Christian community giving up a church so that
India's rocket and space sciences could have their first base
in Kerala," said the statement.

It also noted the "mischief inherent in efforts by the Mumbai
authorities in evolving development plans for the city
without acknowledging the presence of churches and other
Christian institutions. This makes them venerable to
demolition in the future. The government must take remedial
action immediately," the Union said.

* * *
http://www.ucanindia.in/news/catholic-union-seeks-action-against-hate-mongers/35274/daily

Católicos denunciam fundamentalismo hindu



Podemos usar as expressões: Europa das Nações, África das Nações? Podemos falar das várias nações de que foi constituído um país - por exemplo a Espanha, Angola? Será isso nacionalismo? O nacionalismo coexistirá com minorias? 



Infelizmente o nacionalismo, seja ele qual for, hoje é somente fundamentalismo básico, primário, para legitimar hegemonias que são, sobretudo, familiares e económicas. Associa, geralmente, uma opção religiosa a um projeto de nação e ao predomínio de uma 'casta'. A religião, tendencialmente, é a da maioria dos cidadãos, agora tomados como submissos professos e não como cidadãos. A intolerância religiosa torna-se (novamente) o instrumento para construir o futuro nacional. As minorias, religiosas e étnicas, derivadas de antigas nações ou colonizações ou pregações mais e menos pacíficas, essas contribuem para o projeto anulando-se, apagando-se, em nome da hegemonia. Reduzir tudo ao que parece principal porque maioritário. Este reducionismo básico é um dos truques dos fundamentalistas atuais em todo o mundo (nacionalismo... global). Desmontando-o, cai o edifício. Mas a sua base começou por ser democrática: a maioria é que decide. Se a maioria decidir abafar as minorias, isso também é democrático. Não será liberal, não será da liberdade, mas será democrático (a vontade do 'povo' é a vontade da maioria dos votos). A democracia contém estes e outros ingredientes explosivos e muitas democracias embarcaram na conotação entre maioria, etnia, religião e até cor da pele. Assim um país de maioria xiita deve ser governado por xiitas, por exemplo. E se a maioria dos xiitas decidir eliminar os outros, as outras etnias e antigas nações que não foram por aí? É democrático. Também histórico: aproveitando-se dessas fragilidades das democracias, Hitler tomou o poder em nome da 'raça ariana' e tentou eliminar os judeus (e os ciganos e os pretos e os... outros todos). A tal 'raça ariana' tinha uma longa história, mal esclarecida e ignorada pelos nazis, uma longa história com a Índia - e não com a de Gandhi, apesar das alianças táticas... Partilham parcialmente os mesmos genes originais.



Podemos falar nas nações de que se compôs a Índia? Não, segundo o fundamentalismo hindu. Podemos conciliar nacionalismo e opções religiosas como se tentou fazer na Bósnia Herzegovina? Também não, para o fundamentalismo hindu. E muito menos os católicos de Goa podem existir, porque a sua identidade é perigosa para a legitimação de um Estado totalitário hindu. Mais perigosa ainda se atentarmos aos aspetos da doutrina que levaram a combater ou denunciar a escravatura, as ditaduras, as várias opressões e os vários totalitarismos (em muitos casos tarde, mas ainda assim foi melhor que nunca). Mas disto os hindus e os católicos ainda não falam. Só da constitucionalidade das atitudes. É um caminho... 



Leiam só isto: 



Panaji: India's largest and oldest forum of lay Catholics,
the All India Catholic Union (AICU), has urged president Ram
Chandra Kovind and federal government to initiate action
against "hate mongers" who continue to polarize society
against religious minorities.

The Union in a statement denounced the "hate speeches that
emanated from the recent" Hindu conclave in Goa and said such
talks have further vitiated the already "surcharged
atmosphere, and aggravated the communal polarization in the
country."

They were referring to a June 15-17 conclave of some 130
pro-Hindu organizations in Goa, where several speakers spoke
in support of violence to establish a Hindu-alone nation.
Hindu nun Sadhvi Saraswati, who addressed the conclave,
sought death penalty for those slaughtering cows.

"The politics of the cow has targeted Muslims and other
communities whose food habits and economy depended on the
trade in bovines. Its ramifications have not been fully
understood, and AICU fears they will irretrievably damage the
economic health of the farmers and the poor," said the
statement, issued after a special July 28 AICU gathering in
Goa.

Since 2015, several people across India have fallen victim to
incidents of mob lynching related to religious intolerance.
In the first six months of 2017, media reported 20 cases of
violence related to cow protection, much more than any time
in the past decade. At least 28 people were killed in
cow-related violence between 2010 and 2017, of which 97
percent were Muslims, according to media reports.

The Union's special gathering was convened in connection with
its centenary in 2019, which is also the year of next general
elections. It aimed to discuss the existing social situation
in the nation and register Church's response, said its
spokesperson John Dayal.

The Union also expressed its alarm over the attempts by the
Central and State governments to "saffronise" education in
the country by changes to curricula, text books and teaching.
If left unchecked, the move will make coming generations
"unfit for scientific reasoning" and "misfits in a modern
world," it warned.

While reviewing of the situation in Goa, the
meeting expressed solidarity with the demand of the
Catholic Association of Goa for the setting up of a
Minority Commission in the state, where it said
"bodies meant to safeguard constitutional rights
were dysfunctional."

"A major fear of the people is of moves to nationalize rivers
of Goa to open them to the corporate sector as transport
routes for coal. Any proposal to make a coal transport hub
poses serious threat to the health of the rivers and its
ecology," the statement said.

The Union also backed the Catholic Community of Mumbai, the
capital of neighboring Maharashtra, which has been fighting
the desecration of crosses, and their arbitrary demolition
despite authentic documentation of their antiquity.

It noticed that the people had often "voluntary shifted
crosses if they felt it was in the national cause. It was in
line with the Christian community giving up a church so that
India's rocket and space sciences could have their first base
in Kerala," said the statement.

It also noted the "mischief inherent in efforts by the Mumbai
authorities in evolving development plans for the city
without acknowledging the presence of churches and other
Christian institutions. This makes them venerable to
demolition in the future. The government must take remedial
action immediately," the Union said.

* * *
http://www.ucanindia.in/news/catholic-union-seeks-action-against-hate-mongers/35274/daily

1.8.17

Can Trump stop the DOJ’s Russia investigation?



Em poucos meses, Trump pôs os EUA de rastos, incluindo a sua moeda. Mas está mais rico (disso pouco se fala). Os políticos dos EUA, começando pelos próprios republicanos (que tentaram evitar a eleição de uma pessoa que já conheciam, cuja incapacidade lhes era evidente, mas logo a seguir a aceitaram por mero oportunismo), os senadores principalmente, procuram desfazer as trapalhadas e a trapalhada geral que é a própria presidência deste incapaz - em parte apoiado pelo chamado tea party, gente pouco culta e que não conhece, de forma geral, a própria cultura da nova direita que levou Reagan ao poder e que não superou, ainda, as dificuldades que teve em explicar os desaires económicos subsequentes à sua doutrina e prática. Mas a trapalhada geral é outra. É mais geral. É a de uma conceção demasiado imperfeita e até ingénua da organização da democracia em sociedades livres.

Embora não tenha sido eleito por maioria de votos, os que Trump teve bastaram para a sua escolha como presidente. Entre as muitas questões que isso nos suscita, está uma que, tarde ou cedo, os países onde há liberdade vão ter de enfrentar decididamente. Uma questão fundamental, para um país livre, que é a de como organizar a representação da 'vontade do povo' (uma abstração mítica, utilizada sem definição rigorosa do que seja, sequer, isso de 'povo').

Hitler, Erdogan, Putin, Mugabe, Chávez e muitos outros, em algum momento foram mesmo eleitos pela maioria dos votantes dos respetivos países. A questão que se deve pôr é muito simples e antiga: como foi possível? e como pode o voto de um momento alterar as condições de vida e destruir a liberdade de todos os momentos futuros? Porque é isso, a liberdade, que também está em risco na tragicomédia de Trump e dos EUA.

Qualquer pessoa que ande com atenção pelas ruas, por exemplo nas ruas dos Estados Unidos, depara-se com comportamentos que a levarão a pensar, se estiver atenta a estes problemas: "este tipo também vota!". No dia-a-dia o que os votantes revelam muitas vezes (e muitos deles) são comportamentos egoístas, levianos, dissimulados, falsificadores, preconceituosos, discriminatórios, prejudiciais para a comunidade. Como devemos esperar que, ao votarem, se tornem repentinamente o contrário disso tudo? Sabendo que não vai acontecer essa mudança repentina, temos de nos perguntar: até que ponto será válido o seu voto?

Esta questão foi posta e bem posta por teóricos políticos e ideólogos anti-democráticos, uns à direita e outros à esquerda. Eles tinham razão na sua crítica e na desmontagem da validade do voto universal indiscriminado. As alternativas que apresentavam, porém, restringiam a liberdade e a representação da vontade popular. Ainda assim, não devem ser desconsideradas. Explico porquê.

É possível aproveitar algumas dessas propostas, tanto quanto algumas mais atuais e alternativas, aproveitá-las no sentido de se reorganizar a expressão da vontade das pessoas. O que é preciso, também, é fazê-lo em plena liberdade sempre, não restringindo qualquer atividade política ou partidária.

A renovação das sociedades livres apoiar-se-á, incontornavelmente, na reorganização da expressão e da representação das pessoas nas instituições do Estado, em particular nas que lhe determinam a direção e avaliam a execução. É nesse ponto que propostas como "assembleias de soldados, operários e camponeses", tanto quanto propostas de constituição de assembleias corporativas, podem ter algo a aproveitar. É uma verdade que várias ditaduras diziam que iam fazer isso. O último exemplo está na Venezuela, onde o voto direto foi parcialmente substituído, na eleição da assembleia constituinte inconstitucional, pela escolha de representantes da sociedade civil (representado organismos afetos aos governistas). Outro exemplo esteve na ditadura salazarista em Portugal, que instituiu uma Assembleia Corporativa que, no entanto, só tinha funções consultivas, não tinha poder deliberativo (esse ficava nas mãos de uma assembleia bipartidária - eufemisticamente chamada nacional - onde um partido governante seria sempre maioritário e um partido oposicionista seria sempre minoritário). Mas a perversão das propostas por poderes ditatoriais não as invalida, precisamente porque esse poder não as aplica.

A renovação das sociedades livres, com eleições regulares e abertas, deve pressupor uma responsabilização do voto. Essa responsabilização só pode ser exigida quando ao votante se pede que faça escolhas sobre assuntos e territórios que ele conhece bem. Se não, temos o que temos hoje: os votantes votam num programa abstrato e longo, parcial e obscuramente explicado, que não vai ler e, lendo, muitas vezes nem percebe muito bem, vota num dirigente, num partido, numa votação muito abstrata, coisa de cartaz e, portanto, o seu voto é uma carta branca, na prática, um cheque em branco para o ganhador fazer o que quiser depois da eleição. É essa brecha que os ditadores contemporâneos têm aproveitado muito bem - a par de outras. E que Trump soube aproveitar sem ter, no entanto, a noção do que fazer a seguir, sem estratégia para o dia seguinte, porque ele é demasiado parecido com muitos dos seus votantes.

As propostas corporativas e de assembleias de 'soldados, operários e camponeses' (igualmente corporativas, mas eliminando a maioria das 'classes'), bem como de listas municipais e nacionais independentes dos partidos, são um ponto de arranque para a conceção de uma nova democracia, uma democracia na qual o sistema de escolha e de representação deve ser orgânico, para que os votantes escolham dentro da sua profissão, do seu município, entre assuntos que dominam e escolhendo pessoas que, tanto quanto possível, conhecem, estão por perto, podem ser identificadas no quotidiano.

A extraordinária complexidade das sociedades livres de hoje aconselha, porém, a caminharmos cautelosamente e gradualmente, para não darmos azo a novas ditaduras e para não cometermos reducionismos. Esse é, ou deve ser, um processo lento de modificação gradual dos métodos de escolha e de representação, bem como dos métodos de avaliação das governações locais e nacionais. Talvez seja aconselhável aproveitar uma tendência tímida, ainda limitada, mas por isso mesmo controlável 'cientificamente', melhor dito: por tentativa e correção dos erros. A tendência é a de o sistema partidário (que veio o constituir, na prática, uma oligarquia asfixiante, cada vez menos ineficaz e responsável), abrir brechas ao nível autárquico para se ensaiarem formas alternativas de representação, escolha e controlo da governação.

Por exemplo: escolher os cabeças de lista por candidaturas personalizadas e as assembleias municipais por eleições indiretas através da eleição de três representantes por área de atividade (um representando patronato, gestão, administração; outro representando trabalhadores abaixo do nível de direção central e o terceiro os consumidores frequentes) e dois representantes por freguesia (um escolhido pelas juntas de freguesia, outro pelos moradores diretamente). É claro que definir isto legalmente, pensando nos muitos 'pormenores' e 'pormaiores' implicados, é muito difícil e pede tempo. O exemplo mais difícil afigura-se-me este: como definir os 'consumidores frequentes'? Com base na faturação anual que apresentam? Isso é justo? Ignorá-los, porém, será solução? Substituí-los por associações de consumidores? Os problemas são mais complexos do que parecem. Portanto, mesmo a um nível local, as soluções orgânicas implicam uma tal interatividade que teremos de ir experimentando gradualmente propostas parciais, que alterem uma parcela do sistema atual até se consolidarem ou se aperfeiçoarem. É um trabalho moroso, coletivo (portanto, cheio de suscetibilidades), mas responsável e participado, livre e democrático.

A constituição dessas novas assembleias por estratos que tendem a vigiar-se uns aos outros resolve, por isso mesmo, resolve melhor o controlo da governação local. E permite pensar no nível seguinte, redimensionando as dificuldades e as possibilidades.

Se esse trabalho não for feito, a avalanche de 'espertos' e de 'atrevidos', com poções mágicas escondendo faturas dolorosas, aumentará a tal ponto que as sociedades livres deixarão de o ser. E a resposta dos 'gurus' do povo dos cafés reais e virtuais, luxuosos e populares, a resposta é sempre a mesma: calar a investigação, neutralizar o controlo, criar avaliações fantoches da atividade política geral e da governativa em particular. Pelo mesmo perigo enfrentado por Trump e a que se refere o artigo: o da própria sobrevivência dos providenciais artistas deste circo macabro.

O artigo pode ser lido a partir da hiperligação abaixo:

Can Trump stop the DOJ’s Russia investigation?:



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Líderes da oposição venezuelana levados para parte incerta

A verdadeira face do 'socialismo do século XXI':



Líderes da oposição venezuelana levados para parte incerta:



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Claro que Putin, Erdogan e a coligação de ditadores do mundo aplaudem. Os saudosos do socialismo do século XIX também...

13.7.17

A falácia do “racismo inverso” - PÚBLICO


Continuamos a trabalhar sobre sofismas, quanto a isto também (siga a hiperligação no fim deste texto). E a legitimar a continuidade de 'racismo' sob o argumento da compensação. 


Vejamos alguns equívocos. 


1) A autora cita anúncios que bem conheço. Confesso que, por vezes, interrompo a leitura dos jornais brasileiros do princípio do século XIX porque me mete nojo aquilo tudo. Tenho de parar por um tempo, espairecer, pensar e repensar como foi possível tudo isso e o que foi tudo isso. Depois regresso. Mas não sei: a) quem eram as pessoas que punham os anúncios; b) filhos e netos de que heranças, incluindo as genéticas; c) a quem compravam os escravos aqueles que os vendiam e aqueles que os levavam de uma costa para outra compravam a quem. Daqui derivam algumas questões que vão voltar ainda.


2) Cito: "[a Revolução Industrial] originaria o fim legal do tráfico, mas não o da Escravatura, que servia a industrialização e o desenvolvimento a Ocidente por mais algum tempo." Continuando a existir situações de escravatura denunciadas internacionalmente e praticadas por árabes; continuando a haver situações de escravatura, para dar outro exemplo, em várias zonas da China, onde os jovens têm uma expectativa de vida de poucos anos; há condições para reduzir a questão ao "desenvolvimento a Ocidente por mais algum tempo"? Não foi, certamente, isso que prolongou a escravatura, por exemplo, em África e entre os árabes. 


3) Cito: "é deste contexto que surge o que denominamos de racismo, uma opressão histórica, violência sistémica, uma relação de poder e de profunda desigualdade. E é por isso que o racismo está intrinsecamente, e historicamente, ligado à inferiorização dos negros (e não dos brancos)." O contexto em causa é o do tráfico transatlântico de escravos. Mas o racismo, infelizmente, é muito anterior ao tráfico transatlântico, tanto quanto "opressão histórica, violência sistémica, uma relação de poder e de profunda desigualdade." Praticamente, num espaço-tempo de onde haja muitos escritos há passagens escritas que manifestam racismo e discriminam em função da 'raça'. O racismo não nasce, portanto, do tráfico de escravos - tanto quanto a escravatura não nasceu (nem, realmente, morreu) aí. Não podemos reduzi-lo à "origem do capitalismo", nem ao seu "desenvolvimento" tardio. Pelo contrário, sabemos que, em parte (na parte, justamente, que aos EUA diz respeito), foi o desenvolvimento do capitalismo que, pelos seus próprios interesses (alargar o mercado de consumo, obter mão-de-obra sem compromissos além do curto salário, etc.), levou à abolição da escravatura. A guerra civil nos EUA foi uma guerra de agrários que não se integravam no processo capitalista (e defendiam a continuação da escravatura) contra os industriais que precisavam de novas regras de trabalho e de rever os custos da produção de riqueza, bem como do seu consumo.


4) "há gente que usufrui ainda hoje do privilégio da herança escravocrata". Logo em seguida, essa "gente" é conotada com os europeus, ou brancos, e os escravizados, uma vez mais, com os negros - os tais dos anúncios, onde havia outros anúncios que, por exemplo no Jornal do Comércio do Brasil, ofereciam e alugavam pessoas livres vindas de Portugal - aspetos que não têm sido considerados. Houve, de facto, sobretudo no século XIX, por generalização a partir de um tráfico feito entre África negra e Américas, uma conotação entre negro-escravo e branco-escravocrata. Mas essa generalização foi abusiva (houve escravos brancos no Egito, como lembra Cheikh Anta Diop; houve escravos orientais na América e em Portugal e escravos oriundos do Norte de África em Portugal também) e, portanto, não podemos basear-nos nessa para raciocinarmos hoje. Ora, a conclusão a que chega a articulista baseia-se exclusivamente nessa generalização abusiva. Claro que a maioria dos 'brancos' não beneficia hoje da herança escravocrata, nem beneficiou ontem, pois foram vergonhosamente explorados por empresários depredadores, que também faziam filhos em muitas mulheres pobres como fizeram em escravas. E há os exemplos contrários, que me fazem re-tornar um ponto acima: quem vendia os escravos aos traficantes? Quem distorcia relações sociais e familiares arcaicas e hábitos de guerra arcaicos para criar escravos e vender? Essas pessoas não tiveram descendentes? 

5) A conotação entre cor da pele e situação social (branco = escravocrata ; negro = escravizado) é perigosa desde logo porque se alicerça numa categoria sem definição rigorosa possível: a de 'raça' em função da cor da pele - ou em função de qualquer outro aspeto; os seres humanos são uma espécie dentro de uma raça, não contêm raças entre si. A rentabilização dessa conotação sem fundamento fica explícita aqui: "Um negro pode discriminar e ser preconceituoso com um branco, mas não pode ser racista com ele, porque este último não tem estruturas (históricas, politicas, económicas e sociais) que o oprimam com base no seu fenótipo." Uma grande confusão de conceitos, categorias, verdades e inverdades históricas e biológicas. 


Já li, em vários autores, frases idênticas. O que elas escondem, na verdade, é um mecanismo retórico de culpabilização dos 'brancos' (ou 'europeus', ou 'ocidentais') para, sobre essa forma de legitimação, justificarem novas formas de discriminação, totalmente livre, desenfreada, em nome da 'compensação' económica, social e política. É esse mesmo discurso que está a tentar criar as tais "estruturas que o oprimam" e que o 'branco' não teria. Essas frases promovem, mesmo, 'racismo inverso', discriminação do 'branco' (afinal: do 'outro') por sua vez des-criminada. Não há que escamotear. Eu fui vítima já, mais do que uma vez, de racismo por ser 'branco', fui discriminado e insultado por ser branco, perdi empregos por isso e nunca beneficiei da escravatura em lado algum; para isso acontecer, algo existia na sociedade que permitia o acontecimento, não é? Superei facilmente as atitudes racistas quando protagonizadas por pessoas ignorantes e ressentidas, pois entendo que a ignorância sustenta atitudes injustas - ainda que não as legitime. Mas não posso deixar de rejeitar essas atitudes e, sobretudo, quando são protagonizadas por pessoas que, pela sua formação, pelos estudos que fizeram, pelas exigências intelectuais que delas se esperam, vêm reclamar de 'brancos' que eles aceitem ser discriminados por serem 'brancos', ou seja, pelo fenótipo, uma manifestação visível e detectável de uma diferença genética (no caso, a que se prende com a pigmentação, por sua vez relacionada com respostas da raça humana a ambientes marcadamente diferentes, por exemplo com maior ou menor exposição ao sol para processarem vitamina D). Não foi para isso que se combateu o racismo, foi para passarmos a dar-nos como pessoas, independentemente dos acidentes genéticos e ambientais.  


Sou, portanto, solidário com pessoas discriminadas pelo seu fenótipo (e é logo que é olhado como 'branco' ou 'negro'), pela sua religião, pela sua origem, pela sua filosofia. Nunca serei favorável à des-criminação (ou descriminalização, no termo pretensioso mais usado hoje) do racismo, nem a qualquer estratégia de legitimação da discriminação racial.





A falácia do “racismo inverso” - PÚBLICO

8.6.17

O que diz o PCP de Nicolás Maduro?



Maduro, porém, não é um caso pessoal, mas o caso típico do 'socialismo do séc. XXI', ou seja, do novo coronelismo de esquerda na América Latina - em que a figura do 'coronel' é assumida por qualquer um, portanto, passa para a massa indiferenciada dos pequenos títeres caseiros, que são piores ainda.



O que diz o PCP de Nicolás Maduro?:



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2.6.17

More professionalism, less populism: How voting makes us stupid, and what to do about it


O artigo em hiperligação coloca, lúcida e corajosamente, o dedo numa das feridas mortais da democracia tal como vem sendo praticada, ou seja, por um sistema partidário, de quando em quando legitimado em eleições diretas e, ou, referendos.

A colocação do problema é certeira, sobretudo quanto à segunda parte do título acima. Já a solução não sei se será. 

O recurso aos «corpos intermédios» como conceito operatório de base para repensar a representatividade organicamente e profissionalmente não é novo. Antes surgiu entre correntes, geralmente à direita, que denunciaram já, com todo o acerto, a democracia partidária. Porém, quer a Ocidente quer, por exemplo, no Paquistão de Zia Ul-Haq, as tentativas de aplicar essas propostas passavam por um retorno a tradições próprias de um tempo superado irremediavelmente (como hoje se vê por fenómenos como os do islamismo fundamentalista) e pela instalação de uma Ditadura, assim, escrita com maiúscula.

Os autores deste ensaio procuraram caminhos alternativos para definir os «corpos intermédios» e explicam-nos bem porque é necessário fazê-lo hoje. Mas a recuperação dos partidos como corpos intermédios passa por cima do facto de eles próprios e o seu habitat implicarem na proliferação do nepotismo, da falsificação dos programas eleitorais após as eleições, no incumprimento e na corrupção por sistema. Foi o sistema partidário quem gerou uma oligarquia de políticos profissionais e empresários que, em nome da liberdade, das mais variadas maneiras abafa a liberdade na prática. 

Parece-me que hoje avançámos o suficiente para levar em conta ONG's, associações da sociedade civil organizadas autonomamente (fora das esferas dos partidos e das igrejas), e ainda os velhos sindicatos e associações de classe. Todos esses órgãos constituem «corpos intermédios» no sentido próprio da palavra e são profundamente políticos sem terem de estar presos ao sistema partidário. Alguns deles estão comprometidos, outros porém continuam a escapar à corrupção sistemática. Os partidos, justamente, falharam enquanto corpos intermédios, enquanto clubes de pensamento político e intérpretes do voto.

Sem dúvida, o artigo não deixa de ser interessante, apesar de ignorar que os partidos fazem parte do mal e não da cura, se é que existe cura para a imoralidade política. Além da constatação lúcida e corajosa de como o voto direto nos torna imbecis a todos, o ensaio conduz-nos à percepção, a meu ver correta, de um necessário equilíbrio entre a auscultação pelo voto - em plena liberdade, ou não se ausculta nada - e a posição do profissional, mais atento, avisado e tendo já acompanhado conscientemente experiências políticas diversas. O sistema híbrido que defende, neste aspeto, me parece uma boa direção para a superação dos dilemas das democracias atuais. 

Vale a pena ler o texto na íntegra, podendo ser baixado neste endereço em 'pdf'. Lê-lo me parece um bom ponto de partida para pensarmos a desastrosa presidência de Trump nos EUA, bem como a ascensão dos novos ditadores um pouco por todo o lado. Ou seja: para pensarmos em métodos, caminhos, que organizem democratica e saudavelmente as sociedades evitando populismos, arrivismos, aventureirismos - a que as populações se dão por não se sentirem nem ouvidas nem representadas ...num sistema representativo! 

Mas podemos começar pelo resumo:

More professionalism, less populism: How voting makes us stupid, and what to do about it | Brookings Institution:



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29.5.17

Anne Hidalgo demande l’annulation d’un festival réservé aux femmes noires



Tarde ou cedo isto iria acontecer: a frouxidão política dos 'corretos' permitiu e, mesmo, estimulou que o combate ao racismo se transformasse no combate contra os brancos e por um racismo 'positivo'; da mesma forma o combate ao 'eurocentrismo' se transformou na luta pela hegemonia fundamentalista dos vários 'tradicionalismos' - desde que não-europeus; o combate ao fanatismo religioso transformou-se num combate ao cristianismo europeu, como se as fogueiras das inquisições não estivessem acesas nos mais variados cantos do mundo. 



A pergunta que se põe, a meu ver: é legítimo que certos grupos queiram viver em separado, em apartheid, em segregação baseada na cor da pele associada a uma cultura, na vivência religiosa associada a uma cultura, ideologia, cor-de-pele? etc? Se é legítimo, então será legítimo também que os brancos criem o seu desenvolvimento separado e que todos fiquem definitivamente confinados aos territórios em que, neste momento, são maioritários. E não saiam de lá. De resto, parece-me que Hitler e Bin Laden, dois 'puros' sinistros, apontavam já para isso... 



O avanço da globalização provoca resiliências perturbadas, afetadas, de mentes em desequilíbrio e ruptura por dificuldades de adaptação a um mundo que não conseguem dominar como dominavam a família, a aldeia, a tribo, pequenas nações, etc. É compreensível, mas não admissível - ao menos para tantos que pensam como eu. 



É, porém, legítimo, com iniciativas como as que a autarquia parisiense quer impedir, é legítimo que os franceses 'de origem', 'nativos', 'autênticos', 'de sangue', 'puros' (são termos usados por africanos negros racistas, como por racistas de todo o mundo), reajam votando no FN ou, simplesmente, rejeitando os emigrantes e a sua 'integração'. Aliás, estes grupos não querem ser integrados, querem impor a sua cultura política segregacionista mesmo no país que os hospeda. 



Se, despudoradamente, em países africanos onde o racismo, por lei, é proibido, se diz que só pode ser nacional quem tenha, pelo menos, 'uma gota de sangue negro' (se não banto), então é natural que haja franceses a defender que, para se ser francês e viver em França, também se tenha que ter 'uma gota de sangue branco'. 



O pior é que o sangue é ...vermelho. Só se 'safam' os comunistas e os índios, que também têm o vermelho na pele! Salvo se, bem vistas as coisas, todos somos parentes de Khois e de Sans e de timorenses e de australianos... nativos! - que vieram de África, segundo parece como todos nós, que não somos 'negros' mas amarelos, vermelhos, castanhos de vários tons até ao creme claro da minha pele ...toda ela feita e curtida em África. 





Anne Hidalgo demande l’annulation d’un festival en partie réservé aux femmes noires:



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Governo federal brasileiro gasta R$ 107 bi só com subsídios



Ou seja: tanto na corrupção quanto nos gastos, este governo continua o anterior. Eram mesmo da mesma chapa! E, se foi lá posto para realizar reformas desagradáveis mas eventualmente necessárias, com tantos 'se não' a atuarem como camisa de forças (cada vez o rosto mais contraído nas fotos do presidente), as reformas também não avançam ou já avançam desfiguradas e o efeito pretendido com elas irá diminuir. 



Numa palavra: mais do mesmo, menos a componente ideológica para legitimar invasões de ministérios.



Na Folha:



Governo federal gasta R$ 107 bi só com subsídios - 29/05/2017 - Mercado - Folha de S.Paulo:



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18.5.17

Vários ministros brasileiros abandonam governo, Temer pode renunciar - PÚBLICO


Não renunciou. Desta vez. Mas vai a caminho...

Os juízes parecem estar a terminar o seu soneto com chave de ouro. O que se vai seguir?

Só o PT destoa. Não se entende que o Partido mais comprometido com a corrupção, cujo ícone histórico está igualmente denunciado por corrupção já em boa parte comprovada, não se compreende que vá promover manifestações e 'diretas já!' e outras iniciativas que visam reconduzir a sua máfia ao poder.

Toda essa classe política é mesmo para 'varrer', o momento para fazê-lo é agora e não podem ser os mãos sujas quem vai limpar as sobras do Carnaval.


Vários ministros brasileiros abandonam governo, Temer pode renunciar - PÚBLICO:



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17.5.17

Rússia - Putin disponível para entregar registos de conversa de Trump e Lavrov na Casa Branca

É claro que transcrições de conversas nada provam e é claro que Putin está a rir-se dos EUA. Em pouco tempo, Trump transformou o país mais poderoso do mundo numa palhaçada e arrastou-o para situações humilhantes. Até agora, falhou em tudo, incluindo na Coreia do Norte, mas agora foi pior: meteu o seu país a ridículo. É realmente uma pessoa sem condições para o cargo. 



Posto isto, volto a perguntar-me: 

1) o sistema eleitoral americano é demasiado imperfeito. Porque ninguém fala em mudá-lo, para que não mais sejam eleitos presidentes que perdem nos votos?

2) até que ponto se pode continuar a ignorar que um dos fundamentos destas democracias está profundamente errado, porque o povo não é sábio, deixa-se iludir e, muitas vezes, mesmo sabendo do perigo, deixa-se arrastar para ele por inércia, preguiça, ou moleza.



Não sei qual a solução, continuo à procura, mas a escolha dos governos e dos presidentes em função de maiorias abstratas não me parece boa. Teria, pelo menos, de se articular uma escolha universal e 1homem-1voto com escolhas setoriais e regionais, através de assembleias de representantes de classes, ou de organismos de classes e de assembleias municipais. 



O que nunca pode ser posto em causa, porém, é o direito à verdade e à liberdade. Sem eles ficamos ainda menos avisados. 



Rússia - Putin disponível para entregar registos de conversa de Trump e Lavrov na Casa Branca:



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11.5.17

EUA - Trump diz que ia despedir o ex-diretor do FBI "independentemente" das recomendações


Quanto mais fala pior fica. É próprio dos mentirosos. Mas a sua insegurança é sintomática. Deve estar mesmo comprometido a fundo com a Rússia de Putin. 



EUA - Trump diz que ia despedir o ex-diretor do FBI "independentemente" das recomendações

10.5.17

Demissão do diretor do FBI nos EUA



Trump e alguns republicanos continuam a sua 'limpeza'. Agora estão livres de investigações sobre os laços que os ligaram a Putin, acusações muito graves que, pelos vistos, se confirmavam. Neste contexto, o que avança é o autoritarismo do novo presidente, que mantém o complexo de não ter sido eleito por maioria nem num quadro estritamente legal (devido, precisamente, aos apoios de Putin).


No entanto, os democratas ficaram mal na história: primeiro, queriam eles que James Comey fosse embora, por ter puxado pela investigação sobre o uso oficial de contas privadas de e-mail por parte de Hillary. Depois rejubilaram quando o FBI prosseguiu na investigação sobre os apoios russos a Trump e já queriam, novamente, que se mantivesse o diretor. Fizeram algo muito parecido com o que fez o novo presidente, que primeiro disse que ia manter Comey e agora o demitiu. 


De resto, este novelo todo não se desenrola sem envolver o nome do casal Clinton. A única demissão de um diretor do FBI (prerrogativa presidencial) foi feita justamente por ...Bill Clinton. Nunca antes nenhum presidente se atrevera a usar essa prerrogativa, para não pôr em causa a imparcialidade da instituição, que assim constituía um dos pilares da democracia nos EUA. É certo que esse diretor estava envolvido em escândalos financeiros, mas havia talvez outra maneira de resolver o problema. Também é certo que os argumentos usados por Trump são falaciosos, pois invoca a necessidade de recuperar a confiança numa instituição cuja isenção é posta em causa, justamente, por esta demissão. Mas havia um precedente e os precedentes são fatais em política, porque, para o senso comum, se 'o outro' fez, é justo que 'eu' faça também.  



F.B.I. Director James Comey Is Fired by Trump - The New York Times:



Entretanto, tudo vai ficando cada vez mais claro. Lavrov recebe uma prenda à chegada. Era preciso agradecer:



Days Before He Was Fired, Comey Asked for Money for Russia Investigation - The New York Times:


E, já agora, em português, a comparação com Nixon que, realmente, nunca demitiu o diretor do FBI:


E, mesmo para terminar, o atual Presidente estadunidense reafirma que não tem negócios com a Rússia, que nunca recebeu dinheiro de lá, exceto há uns anos!, mas continua sem mostrar a documentação (principalmente a documentação fiscal) que permitiria verficar pelo menos uma parte do que diz.


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9.5.17

O triste fim de Simão Bolívar


Hoje (não só hoje, mas sobretudo depois do início do 'chavismo' na Venezuela), Simão Bolívar tornou-se um ícone de revolução nacionalista, libertária, socialista e mais alguns adjetivos. 

Na verdade, no seu tempo, ele foi um libertador e um opressor. 

A visão que tinha de uma América Latina unida e federada, parecendo de uma extraordinária grandeza (pela extensão territorial...), era a continuação de um sonho colonial, o de manter uma hegemonia hispanófona unindo colónias e nações dispersas e, mesmo, opostas. Tomá-lo, portanto, como símbolo do nacionalista e nativista que nele via Chávez é abusivo. É uma verdade que se ressentiu, em certos momentos, da sua condição de mestizo, mas a sua visão política das ex-colónias era a continuação de um sonho colonial (como, em África, o do "mapa cor-de-rosa"). O projeto da Gran Colômbia teve essa origem e foi modelado pela imitação dos EUA...

O seu percurso foi o de um caudillo militar e político, tendencialmente ditatorial, autocrata, eliminando ou neutralizando, sempre que possível, os que se opunham a ele e, sobretudo, quando se opunham em nome da liberdade. Foi, nesse aspeto, o pai dos ditadores latino-americanos, tanto de esquerda quanto de direita, tanto militares quanto civis. 

Parte da América Latina lhe deve um grande esforço no sentido da sua libertação, da independência face à Espanha. Mas, como aconteceria desde então até hoje, na América Latina tanto quanto em África e, mesmo, na maioria dos países asiáticos colonizados por europeus, o libertador imediatamente se tornou o opressor. O seu 'socialismo' tinha mais relação com a eliminação de possíveis concorrentes e opositores poderosos do que com as preocupações sociais com as condições de vida do povo. 

Por isso tudo, acabou isolado politicamente, num autêntico fiasco preparado sem querer pelo excesso de voluntarismo. Em 1828 houve um atentado contra ele, na sequência de se declarar ditador da Colômbia. A 8 de Maio de 1830, viu-se constrangido a abandonar Bogotá e planeou uma viagem à Europa como escape. Não uma viagem para alguma zona interiorana, para montanhas onde vivessem só 'nativos', por exemplo, mas uma viagem à Europa, talvez por se recordar de outra que lhe daria um grande empurrão (ideológico e de capital de prestígio) para ser quem foi. Porém, a viagem foi interrompida logo no início pela notícia do assassinato de Sucre, génio militar e político nascido na Venezuela, seu fidelíssimo aliado, que comandou a batalha decisiva para determinar o fim do domínio espanhol (Ayachucho, Perú, 1824) e foi o primeiro presidente da Bolívia. Sucre é um outro exemplo desta mescla de lideranças militares e políticas espanholas e crioulas a serviço de Espanha, descendendo de uma família patrícia dominante no tempo colonial. O seu pai foi militar de prestígio, na linha de outros antepassados, ao serviço da Coroa, mas tomou desde cedo o partido da independência, como o filho. Enquanto presidente da Bolívia teve, mais do que o seu capo, reais preocupações de modernização social e, portanto, alteração da rígida hierarquia dos tempos coloniais. Acabou derrotado por divergências internas e pela pressão militar dos peruanos que não queriam a independência da Bolívia. Retirou-se, casou-se com uma senhora da melhor sociedade da época e decidiu abandonar definitivamente a vida pública. Mas, quando Bolívar sofreu o atentado na sequência de se declarar Ditador de Colombia, voltou atrás e foi socorrer o chefe. Acabou defendendo um diálogo impossível, até ao ponto de propor que nenhum líder militar da libertação pudesse presidir a cada uma das futuras (ainda não para ele) nações. Os intentos fracassaram, muito por culpa da Venezuela, precisamente e, tendo dado conta de tudo em Bogotá, resolveu retirar-se para junto da esposa. Mas foi assassinado no caminho. 

Bolívar, derrotado e sozinho, tinha de partir, o que chegou a fazer. Interrompida a viagem, um Almirante espanhol o recolheu e manteve em sua casa até ele morrer, ainda 1830, com tuberculose. 

Esse foi o triste fim de Simão Bolívar, o primeiro dos ditadores latino-americanos.

 





5.5.17

Eleições francesas

Marine Le Pen, como Donald Trump, não é nem nacionalista, nem patriótica, muito menos de 'extrema-direita' ou, ainda menos, de uma linha católica da 'extrema-direita'. O seu perfil e o seu comportamento não demonstram isso: aceita os dinheiros de Putin, imita Donald Trump e o pretende imitar o 'brexit' usando igualmente a formação da palavra inglesa, não respeita a personalidade e a propriedade intelectuais, entra em esquemas típicos da partidocracia para financiar-se. Para além disso, é uma líder de arruaça, sem qualquer preparação para governar, sem experiência política, administrativa ou de gestão, sem conhecimento suficiente dos principais problemas e dossiers - mesmo os que sempre aborda, como o da emigração. Como diz o Libération, feroz por fora e fraca por dentro.

Marine Le Pen é o tipo de candidato que Putin prefere e, como se vê pelos EUA, ele acertou: enquanto Trump aprende, com trapalhada atrás de trapalhada, o que implica ser presidente, a Rússia e a China somam pontos interna e externamente, sobretudo no exterior, onde mais falta lhes faz e jeito lhes dá, porque o interior está controlado.

Putin e Erdogan são ditadores que se preocupam, pelo menos, em consolidar uma imagem de competência (competência total no controlo da sociedade, competência política suficiente, prudência económica ainda que sacrificada à criação e manutenção de espaços vitais), assentam a sua legitimação sobre discursos firmes, irredutíveis e seguros sem se radicalizarem (sobretudo Putin, o mestre dos novos ditadores, evitando competentemente os exageros discursivos infantis de Erdogan quando comicia entre os seus). Associam ao perfil público de competência e de segurança, o respeito pela propriedade, que é fundamental para afastar temores comuns e justificados da mais persistente das características do homem social: a ambição. Isso os põe, também, de acordo com tradições que, no fundo, não respeitam (mostrá-lo-ão se elas puserem em causa o seu poder), mas para as quais a propriedade é uma extensão natural e social da personalidade.

Le Pen e Trump são candidatos fracos quanto às suas competências, com aproveitamentos abusivos da sua posição política e da política de subsídios (caso de Le Pen), ou envolvimentos em falências fraudulentas e fugas aos impostos (caso de Trump), ambos imorais apesar de se firmarem sobre um mercado eleitoral que privilegia, aparentemente, a moralidade, ambos fáceis de manipular sob ameaças de revelações fatais. O que lhes importa é chegar ao poder de qualquer maneira e manterem-se no poder custe o que custar, pelo resto não nutrem o menor respeito (veja-se o caso do plágio de Le Pen: se ser de direita e católica é defender a pessoa sobre a sociedade, o pessoal sobre o coletivo e o individual, como pode, não só plagiar, apropriar-se indevidamente do discurso de outro, mas admitir a si própria não serem suas palavras as que dirige ao seu eleitorado?).

A que se deve a ascensão destes simulacros de políticos nacionalistas? A presente situação francesa deriva de anos de irresponsabilidade e de insensibilidade políticas, cujo máximo foi atingido pelo ainda presidente, que só tinha 10% das intenções de voto caso se candidatasse. Há muitos anos, depois do último grande sucesso do Front national e do seu chefe Jean-Marie, a partidocracia francesa redistribuiu o mapa eleitoral de forma a partir em dois (ou mais) cada círculo que tivesse votado maioritariamente em Le Pen e no FN. Isso criou-lhes uma sensação de segurança, confiança, calma e os primeiros resultados depois da nova divisão administrativa confirmaram-na. O que foi feito desde então para resolver os problemas, sobretudo os problemas dos mais desfavorecidos, que os fizeram votar FN e Le Pen? O problema da emigração, o da segurança e o do emprego - o trio que mais votos traz a Marine e ao FN - não só não se resolveram como também aumentaram e os políticos habituais, embora inscrevessem o tema nos seus discursos, em muito pouco revelaram maior sensibilidade ao problema e às queixas da população, seus temores e dissabores relacionados com uma imigração excessiva, descontrolada ou de controlos subvertidos, o desemprego com o qual ela é relacionada e questões adjacentes mas importantes, como a da segurança social e a da saúde pública (o aumento dos seus cargos é visto como resultante da facilidade com que os imigrantes acedem aos seus benefícios e à própria nacionalidade), o aumento da idade para a reforma (que seria também consequência do aumento de reformados por causa da imigração), a própria identidade francesa (pois, ao conceder tão facilmente a nacionalidade se daria a pessoas mal integradas o direito de participarem da definição de uma identidade na qual não se integraram). Tão pouco a segurança foi afinada ao ponto a que tem de ser, e melhorada, antes dos grandes atentados de que a França foi vítima (perpetrados, em quase todos os casos, por cidadão franceses e europeus - pelo que a política de expulsão de Le Pen, como a de Trump nos EUA, não evitaria qualquer perigo).

É desta contínua insensibilidade de políticos abastados e contentes com o seu bem-estar, em muito baseado no aproveitamento máximo de recursos (nem sempre legítimos) que o Estado lhes faculta, é contra tal insensibilidade aos seus problemas diários, crónicos e mais agudos que se farta uma grossa fatia da população, dirigindo os seus votos para o FN, como nos EUA com Trump. E não será mera coincidência que a maioria das ações de campanha do demagogo Mélenchon não tenham dado a devida atenção aos subúrbios, aos bairros pobres e aos operários. Como a campanha de Bernie Sanders nos EUA, a de Mélenchon não tem o seu principal sustentáculo no setor social onde pretensamente assenta a sua legitimação retórica e ideológica: 'pobres' em geral, desprotegidos, desempregados, operariado. São bem mais importantes pessoas de alguma forma integradas na média burguesia (e alguns filhos de outra já não tão média), muitos órfãos do radicalismo esquerdista dos anos 60-70 e do Maio de 1968 com seus filhinhos bem nutridos e uma infinidade de pequenos grupos afins. O operariado, os desempregados e um estrito setor radical da elite francesa  (de Bardot a Tapie), incluindo muitas aquisições recentes, essa amálgama paradoxal é que faz, até hoje, a base principal do apoio do FN. Por um motivo simples e que se prende com a estratégia retórica seguida: privilegiar no discurso político os temas que os políticos 'corretos' evitam tratar com frontalidade e, simultaneamente, jogar com soluções simples, eficazes na aparência, mesmo que não resistam a mais do que uma breve e distraída conversa de café.

Sendo este o cenário, facilmente um bom aluno como Macron mostraria a sua superioridade perante uma guerrilheira de RGA's e shows de café como Marine Le Pen. Por imprudência, inexperiência partidária, no princípio da segunda volta fiava-se demais na vitória, mas retornou à realidade e respondeu razoavelmente. Marine ficou 'desmontada', 'desconstruída' e não tinha capacidade para reagir à marcação cerrada do seu adversário.

O problema maior agora, para o futuro da França, não é se Macron ganha e a elite anafada, bem comportadinha, continua a alienar-se com o seu bem-estar artifical e separado do resto da sociedade. Parece bastante provável que Macron vença, apesar das irresponsabilidade de Mélenchon e de alguns setores de Os Republicanos que sofrem de amnésia histórica.

O problema que se põe, como levanta e muito bem o artigo abaixo (seguir hiperligação), o problema sério e difícil é o da governação posterior a tal vitória. O controlo da governação ficará nas mãos dos mesmos partidos que falharam todos estes anos e não conseguiram renovar-se com sucesso. Macron terá, por limitação constitucional, de submeter-se às velhas estratégias partidárias e de satisfazer o seu bem-estar de sanguessuga, não incomodar e muito menos exterminando a sua insensibilidade característica. Os problemas continuarão a avolumar-se. E, mais uma vez, é bastante provável que única força que saiba encarnar retoricamente as queixas da população desfavorecida pelo sistema continue a ser o Front national. Se este, por sua vez, souber organizar a sucessão de Marine...

The Trouble for France's Next President | Foreign Affairs:

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1.5.17

para que serviu o 1.º de maio em Cuba


1961.05.01: 
No seu discurso do 1.º de Maio, Fidel Castro anunciava que não haveria mais eleições em Cuba. Os trabalhadores estavam livres.

24.4.17

O lado (ainda) oculto de Mélenchon



Apesar dos elogios ao Chavismo e outros regimes ditatoriais, ainda muita gente não percebe o que significa Mélenchon na política francesa: uma ditadura marxista, imposta a partir de estruturas paralelas ao Estado até controlar completamente o Estado - uma estratégia semelhante à de muitos islamitas fundamentalistas, que a praticaram, por exemplo, no Egito. 


Esta notícia (v. abaixo e ler até ao fim), conjugada com a dificuldade que o candidato revela em reconhecer um resultado desfavorável (a mesma que teve López Obrador no México), mostra o verdadeiro rosto da 'França insubmissa' que havia de ser submetida por ele. Manifestações de rua turbulentas para sustentarem uma rejeição dos resultados, isto apesar de ninguém mais os pôr em causa, nem mesmo os restantes inimigos da democracia francesa. Agora (dias depois da primeira mensagem que pus aqui), reafirmação, por ele e nas redes sociais, da opção de 'terra queimada': não votaram em nós, também não votamos contra a Frente Nacional. Não é bem uma 'birra', é uma estratégia perigosa, que não admite qualquer outra alternativa a não ser a sua, mesmo que para isso contribua para uma radicalização antidemocrática pela direita. 

Ou seja: Mélenchon é, somente, mais um populista de esquerda e mais um golpista, que a inépcia dos políticos do sistema sustentou até aos 19,2% (mas, mesmo assim, só até aí e por causa da falta de carisma e de estratégia de B. Hamon). Não creio que Frente Nacional seja pior do que ele. De resto, estará mais limitada (porque já depara com desconfianças fortes à partida) e ambos possuem vários pontos em comum. A família Le Pen apenas foi mais rápida, por isso desde cedo aproveitou a incompetência dos políticos 'neutros', bem comportados, para atrair a classe operária. Mélenchon baseou-se mais nos intelectuais de esquerda e em jovens inexperientes, só mais tarde começou a atrair operários, os 'sem dentes', como lhes chamava o atual presidente de França. Se Macron fosse um político mais experiente já teria desmontado a retórica de Mélenchon e de vários dos seus seguidores, acolhendo os outros, os que, mesmo assim, votarão nele. 

Mas o que mais interessa reter dessa história é a postura do candidato: de esquerda, ou contra autocratas de direita, só ele, não admite que mais alguém possa protagonizar, seja em que situação for, a oposição a Marine Le Pen. Interessa porque isso o denuncia: também no poder, o candidato só se imagina a si próprio como representando uma verdadeira alternativa e, portanto, não admite mais nada, nem mais ninguém. É o prelúdio do poder absoluto e da autocracia de esquerda, do tipo da dos irmãos Castro, da família Ortega, do 'socialismo do século XXI', do socio-nazismo de Malema na RSA, da ala autocrática do PT e, mais remotamente, da família real da Coreia do Norte. 



Rivais históricos na França se unem contra Marine Le Pen no 2º turno - 24/04/2017 - Mundo - Folha de S.Paulo:



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Trump com impopularidade histórica



Não admira a notícia (v. abaixo). Um Presidente eleito por minoria de votos (um paradoxo antidemocrático, no qual os EUA terão de pensar mesmo) que, em vez de consensualizar para seduzir e se tornar maioritário, exacerba, divide o seu próprio partido, empertiga-se todo e procura 'cumprir' as 'promessas', só podia ver diminuída a minoria que o sustentou. Ainda para mais sendo um desajeitado político - nada surpreendente quando se elege um outsider



Casa Branca - Trump com impopularidade histórica:



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17.4.17

Referendo na Turquia aprova ampliação de poderes de Erdogan

Referendo na Turquia aprova ampliação de poderes de Erdogan - 16/04/2017 - Mundo - Folha de S.Paulo: "Em discurso, ele disse que o resultado consolida "a unidade, fraternidade e harmonia entre os cidadãos" e pediu que a comunidade internacional respeite o voto."



Levando em conta que Erdogan amordaçou a imprensa privada livre, reatou a guerra com os curdos (ainda antes das últimas eleições) e conotou a oposição com esses 'terroristas', perseguiu todos os inimigos e rivais desde o famoso 'golpe de Estado', podemos dizer que o referendo se realizou em ditadura e, portanto, não é válido.



O estranho é que, apesar de todo esse controlo, apesar de trazer o seu país amordaçado, o ditador só tivesse conseguido pouco mais de 51% de votos (cerca de 51,3). Mais estranho ainda é que, vencendo nessas circunstâncias e por essa margem, profira a frase posta acima. Se uma decisão que afetará todos e gerações futuras também é tomada só por metade dos votantes e nas condições asfixiantes em que votaram, como é que isso concorre para "a unidade, fraternidade e harmonia entre os cidadãos"? Só se ele quer dizer que, se perdesse, fazia guerra...

Não é muito diferente a interpretação do Le monde:


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10.4.17

Alabama governor to resign amid sex scandal



Como se vê, este Partido Republicano, com Tea party e populistas, é mais um simulacro, próprio de países dominados por programas de TV e outras realidades virtuais. O verdadeiro drama está em levá-los a sério e, sobretudo, votar neles. O que podia ser normal em qualquer casal é inadmissível num governador que se apresenta em nome dos velhos valores, entre eles o da monogamia e o do 'amor para toda a vida', dentro da instituição casamento. Com a mesma leviandade se votou, quase maioritariamente, num Presidente que hesita entre provocar uma 3.ª guerra mundial ou instaurar uma ditadura interna, mas seguirá, certamente, o que lhe trouxer mais popularidade. A popularidade é uma das ferrugens da democracia.



Source: Alabama governor to resign amid sex scandal | TheHill:



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24.3.17

Maduro cada vez mais podre


O regime venezuelano está cada vez mais desmascarado e isolado. Cada vez mais, também, caem no ridículo posições como a de Jean-Luc Mélenchon e a do Podemos defendendo que o regime chavista é democrático, livre e até, quem diria, defende os interesses do povo:

http://www.lemonde.fr/ameriques/article/2017/03/24/l-appel-de-quatorze-pays-americains-au-venezuela_5099904_3222.html 

Não dá para continuar a acreditar que são só manobras do velho fantasma - o imperialismo. Mesmo apesar de Trump. 

14.3.17

Europe : les entreprises peuvent interdire le voile sous conditions



Como é óbvio, para países livres, as empresas podem, sem ofender nem humilhar, impor vestuário próprio.



Europe : les entreprises peuvent interdire le voile sous conditions:



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Tensions avec les Pays-Bas : Ankara veut saisir la Cour européenne des droits de l’homme



Haja retórica!

Sintomático ter logo aproveitado, o governo turco, para sair do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Já daí queriam sair há muito tempo, com medo de serem réus por causa dos curdos e da repressão à intentona.

Mas a Europa continua, parece, com pouca iniciativa, ou com iniciativas pouco ousadas. Por exemplo, podia deixar os ministros turcos irem fazer campanha desde que os ministros europeus pudessem ir à Turquia também fazer campanhas idênticas, ou conferências (promovidas por europeus) e comícios sobre a Síria e a importância da solução do problema curdo na solução da crise na Síria e, consequentemente, na redução do problema dos refugiados na Europa. De resto, se a Turquia deixa entrar os refugiados sem ninguém a ter obrigado, devia resolver o problema que assim criou. Porque ameaça, então, obrigar a União Europeia a deixá-los também entrar? Erdogan reconhece que a Turquia não é um país apetecível para refugiados? Ou que a Turquia, de facto, nunca vai nunca integrá-los, como não integrou os gregos que lá viviam, no tempo de outro ditador? O jogo dos ditadores é sempre jogo baixo.



Tensions avec les Pays-Bas : Ankara veut saisir la Cour européenne des droits de l’homme:



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