17.10.23

A culpa

é um jogo de simulações para legitimar as mortes e a morte é sempre injusta, na política ou no resto da vida. 

Nesse jogo de culpas, que a História conhece bem e nas mais diversas e funestas variações, um ex-ministro angolano fez uma descoberta sensacional: a culpa da guerra em Gaza é de Israel e dos sionistas porque eles não aceitam um Estado Palestino. 

Só mesmo um governante de um partido que nunca respeitou as suas próprias leis, e que está com poder autoritário desde 1975, pode proferir uma tão descarada mentira. Então o sr. ex-ministro, comunicólogo intenso, não reparou ainda que o Hamas não reconhece o Estado de Israel e jura lutar até à sua total destruição? E que esse Estado assinou compromissos internacionais aceitando a solução dos dois Estados? 

Também não percebo como, em nome da liberdade de imprensa, um Diário de Notícias aceita, sem rebuço nem comentário, tamanha falsidade. É a lusofonia? 


11.9.23

Boutade carbonária

 

Carvão e cabrão não são palavras muito diferentes. A sociedade dos carvoeiros agradece. Mas a verdade é que, indo por violências, foi-se por aventureirismos e precipitações. Deu no que deu. Mais do mesmo e talvez pior.



6.6.23

O pós-lítico

 

Pouco a pouco, a humanidade vai finalizando a extensa etapa neolítica e, com isso, vai se reestruturando, ou pressentindo a necessidade de o fazer, ou sentindo, pelo menos, a desadequação dos modelos e valores líticos. Acontece em todos os campos de atividade. 

Uso dois para exemplo. 1) O político, focado na representatividade; 2) O artístico, focado na recoleção e refuncionalização. 

1) As diversas formas de representação política foram se aprofundando, principalmente nas democracias. A representação orgânica, apesar de manipulada por regimes totalitários e por isso rejeitada, era útil (e em parte ainda o é), sendo por isso recuperada através de órgãos como Conselhos de Concertação Social ou Económica, em democracia mais consequentes do que as assembleias partidárias, cuja função hoje tem sido mais, nesse aspeto, vigiar, aprovar, ou reprovar - uma função idêntica à dos reis em monarquias modernas ou liberais, apenas com o redutor acrescento da subordinação a estratégias meramente partidárias. O crescimento do poder local, o reconhecimento da sua representatividade, remete-nos de novo para a recuperação, em democracia, de um modelo orgânico de representação e de concertação política real. 

Entretanto, crescem os empregos e os nómadas digitais, as facilidades de deslocação para mudança de residência, como também a mobilidade financeira pela facilitação das operações cambiais e bancárias. Aumentam, por igual, os empregos alternativos, subempregos e desempregados que se 'remedeiam', se 'viram', com pequenas atividades e rendimentos, as consequências da automação máxima das atividades mecânicas, antes asseguradas por artesãos (hoje reduzidos ao artesanato personalizado, muito mais digno, mas menos lucrativo para empresários). 

O modelo tradicional de casamento monogâmico esboroa-se em paralelo, continua a esboroar-se desde a aceleração do quotidiano provocada pelo domínio absoluto das indústrias e do comércio de massas, com seus horários, pressas e pressões e suas linhas de produção contribuindo para o hábito de alinharmos o pensamento, colocarmos tudo em prateleiras. Estar casado ou não, ter várias parceiras ou vários parceiros, é uma questão de prateleiras, indiferentes umas às outras e os apertos dos horários e das tarefas urgentes não nos permitem já manter acesa durante algum tempo a chama de uma paixão primeira, mais funda, mais forte. Passamos os dias (e por vezes as noites) com outras pessoas. O parceiro(a) passa a ser apenas o da rotina dos sonos ou, quando muito, o dos fins-de-semana entediantes em família, das discussões sobre o destino a dar ao dinheiro e à falta dele, por vezes aos filhos... Isso traz implicações políticas, além de estimular a anulação do pensamento por alinhamentos prévios, típicos da produção em série. Com tempo e o avolumar das tensões, do mal-estar, do sentimento de não nos vermos representados e realizados, isso vai nos levar a pensar no que fazemos e como. Porque somos escravos do trabalho? Onde começou tal escravidão? Não foi na Bíblia, não. Vai ter de se repensar a estruturação do poder e da legitimidade, mas sobretudo da representatividade quealicerça e efetiva poder e legitimação, que não podem continuar a governar-nos metendo-nos em becos sem saída, em prateleiras e quartos. 

As estruturas de mando e representação, com recuos e avanços, foram seguindo modelos muito primitivos, titubeantes, oscilantes, mas que se definiram melhor e se complexificaram com o neolítico, a concentração urbana e de bens, uma conceção integrada e alargada de defesa do grupo, a sedentarização e a estabilização tendencial das hierarquias sociopolíticas. A monarquia tornou-se uma espécie de espelho e regime natural da sociedade humana, que no entanto suportava bem repúblicas autónomas, que tendiam para impérios (mono-árquicos) conforme se estendiam e enriqueciam mais. O que as monarquias tinham de melhor era uma visão orgânica e autárquica da sociedade, embora gradualmente se centralizando até ao ponto de sistemas absolutistas que as implodiram em repúblicas e partidismos por reação, deixando a estruturação social tradicional implodir também, com as pessoas isoladas perante o Estado - o novo Absoluto. Mas as monarquias foram superadas, se olharmos mais fundo, não pelos liberalismos, nem pelo assassínio dos reis, foram superadas pela produção em série, pela atribuição de categorias e estantes meramente em razão de reduzirmos os custos e aumentarmos os ganhos. Isso é necessário para gerir uma empresa, mas é ruinoso quando se exporta para fora da gestão de empresas. Ora, uma monarquia pode ser considerada uma despesa dispensável e, no entanto, volumosa. Então acaba-se com ela e ficam-nos os reis da banca, do aço, do petróleo, das várias prateleiras da produção acelerada.

O recente modismo dos regressos radicais, extremos, muito ao para trás no tempo, que impera nas dietas, nas roupas, em certos costumes e na recuperação de rituais arcaicos, implica o repensar do próprio processo que trouxe a humanidade aos dias de hoje, do que se pensa e pensava serem os seus fundamentos. É salutar, mas caminhamos a passos largos para uma política e uma humanidade pós-líticas e ainda não vislumbrámos as adequadas estruturações políticas e representativas.


2) As artes estão exatamente no mesmo ponto, embora com o seu nível próprio de complexidade, mais intenso e diversificado, por vezes ainda mais avançado. 

As instalações, performances, ready-mades, colagens, articulam-se com práticas antigas, mas recontextualizadas, de recolha e refuncionalização de elementos contextuais. A diferença consistiu somente - sobretudo no século XX - na massificação e no descaro dessas práticas, tornadas igualitárias (qualquer um pode praticar, independentemente das consequências estéticas e éticas), de todos para qualquer um, indiferenciadas, aleatórias e, sobretudo, feitas em bruto, sem preocupação de esconder o 'segredo' que mitificava o 'génio', mais que individual, pessoal - e, por tanto, intransmissível. A reciclagem de que tanto fala a ecologia, com defensores das energias renováveis, e similares atitudes ou posturas que parecem constituir soluções (e podem mesmo ser), em verdade estão a revisitar os fundamentos, os começos, da época lítica e sobretudo a passagem do paleo para o neolítico. Em arte, as disciplinas híbridas acompanham criativamente e mimetizam essa revisitação. Porém, tanto quanto na estrutura de representação e na de poder, não se deu passo para o pós-lítico, ainda vivemos a funda e vagarosa transição. Somos cães domesticados: ainda estamos a alçar a pata para marcar terreno sobre o asfalto e o 'concreto'. 

Como sabemos estudando literatura, os mimetismos, hibridismos, as colagens, o culto da performance e de ready-mades verbais acentuaram-se nos séculos XIX e XX nos países mais desenvolvidos técnica e economicamente, sobretudo nas democracias do hemisfério norte, mais ricas. Mas eles eram e são constituintes de qualquer arte e mimetizam os mesmos processos de recolha, armazenamento, reaproveitamento. São processos que, intensificados, vieram a dar em sistemas e estruturações de representação e de poder típicos do neolítico, desse neolítico ainda presente. 

Muito lentamente algumas manifestações artísticas procuram mimetizar a maleabilidade, portabilidade, e dinamismo dos seres humanos nas sociedades atuais e a sua instável e insatisfatória (por enquanto) sociabilidade. Há experiências híbridas entre o teatro, a performance, a mímica, o episódio curtíssimo (sketches, cenas, vinhetas), com pessoas por vezes ligadas a mesas de mistura que ampliam e remisturam a produção do performer e a reação do público. São exemplo de mimetização dessa maleabilidade, portabilidade, informatização e dinamismo social instável. 

Experimentações anteriores em três ou quatro décadas, como as dos motores textuais e da ciberliteratura, tentaram chegar ao limite possível e impossível das típicas montagens, recolhas e colagens que foram a base das artes humanas desde o neolítico. Os motores textuais, por exemplo, dessacralizaram as reestruturações, colagens e montagens pela reprodução, sem critério de escolha, de todas as combinatórias possíveis de um determinado agrupamento de palavras, em frase ou mesmo sem frase, como numa linha de produção aleatória, sem definição de série. A ciberliteratura mostrou que o próprio texto pode ser mutável, inesperado, e variar, não só de pessoa para pessoa, mas com a mesma pessoa, quase materializando um procedimento cerebral e neurobiológico básico do funcionamento humano. Film-letras - antepunha e antecipava Augusto de Campos. Essa experiência aproximou-nos - arrisco dizer - da expressão da vivência de hoje, em constante mutabilidade, instabilidade e sem tábua de salvação. No entanto era controlada pelo programador de software

A maior parte da produção literária continua se fazendo como se tais experiências não fossem de levar em conta, não mexessem com nada. Por vezes escrevem-se poemas que são fragmentos, anotações, sem preocupação de unidade, acasos, mas sofrem da mesma ausência de escolha, propósito e ressignificação que inviabilizou as experiências informáticas. E também são fragmentos frouxos, tíbios, frágeis mas não delicados, pouco mais que manifestações de vontade de dizer, próprias de adolescentes que aprenderam a falar mas ainda não a discursar ou declamar. Então continuamos a ler uma poesia costumista, intimista, penumbrista, com versos aparentemente modernos (a modernidade de há cem anos atrás) e no entanto ritmados para sugerir ambiências recolhidas, particulares, entre gaveta e armário, com metáforas polidas e qualquer coisa de crocante nas pastilhas elásticas. Esse costumismo prosaico e versicular irá manter-se, amanteigado, cremoso, luxuoso, ou aparentemente irrequieto, com seus resquícios de grão para que sugira sementes, algum erotismo mais atrevido na aparência (mas de facto banalizado), aleatório no bem-estar típico das sociedades com melhor nível de vida e liberdade. Só quando se passar a uma humanidade e a um quotidiano totalmente pós-lítico se perceberá quanto e em que medida, ou qualidade, foram pertinentes as experiências cibernéticas e performáticas, tateando as possibilidades de uma expressão artística pós-lítica. Até lá, tais experiências não se devem também tomar como mais do que isso. 


30.4.23

Universidade e Política: desfazendo equívocos

Aqui e além vemos repetirem-se chavões sobre as relações entre universidade, ciência, política e partidos políticos. É a maneira destas sociedades 'de massas' funcionarem, tipo pasta, mistura-se tudo, indiscriminadamente, atinge-se um chavão e depois lutamos uns contra os outros através de chavões. É esse procedimento o principal aliado dos inimigos da liberdade e da democracia, porque não há liberdade de chavão e o voto de clichê é a recusa de fazer escolhas. 

O mesmo sucede com o tema da Universidade e da Política. Tornou-se canónico dizer que "o poder" (outro chavão que dá muito jeito aos trapalhões do pensamento), "o poder" não deve interferir na... escolham: academia, universidade, ciência. Deve, no entanto, financiar. 

Quero pensar nisto sem me referir a casos episódicos, outro truque para baralhar as pessoas, que é o de usar casos episódicos (quero dizer: não elucidativos do que está em debate, mas sim de boas ou más condutas deste ou daquele protagonista), usar casos episódicos para neutralizar argumentos e propostas que vão muito para além deles. 

Comecemos por clarificar isto. Se o comunismo falhou na Rússia, podia ser episódica a falha. Se falhou em todo o mundo, se nunca se realizou a progressão que os primeiros comunistas imaginaram e se manteve sempre válida (a caminho da sociedade sem classes), então são demasiados casos episódicos e temos de postular a hipótese de o comunismo ser impraticável. 

O mesmo para os nacionalismos exacerbados, os fundamentalismos, identitarismos, etnicismos e tribalismos. Se todos esses 'ismos' produziram guerras, violência, repressão, mortes indiscriminadas e outras que, discriminadas, não deviam ser mortes, então será de pensar que os 'ismos' não-comunistas provocam igualmente uma série tal de distopias que se tornam, para a sobrevivência da espécie e por questões éticas, impraticáveis.

O que nos levaria a pensar que o mal está nos 'ismos'. É, porém, mais funda a raiz do mal e os filósofos até hoje mal se entendem sobre isso. O mal está numa atitude que visa condicionar, limitar, dirigir, encadear a perceção e o pensamento. Quando certa esquerda, com o lamentável e distópico Chomsky, falava em 'pensamento crítico', ingenuamente muitos pensaram que se tratava de ser crítico relativamente a essa atitude que visa manipular os outros para fins de poder, tal como a publicidade os manipula para fins comerciais e pior ainda, porque supõe normas repressivas, que forçam, quando a publicidade aposta apenas no convencimento, na sedução, na manipulação afetiva, na sua retórica própria, sofística sem dúvida, mas visa tão somente convencer-nos a consumir produtos de uma dada série. 

Quando se tornou consensual que "o poder" não devia exercer-se sobre as universidades, a ciência, a filosofia, as artes, até parecia liberalismo: o Estado não interfere. Mas não era, porque o mesmo "poder" ou "Estado" devia sustentar tudo isso. Ora, esse "poder" ou "Estado" é financiado por todos, porque todos somos obrigados a pagar impostos e a ceder rendimentos comuns (por exemplo, o petróleo angolano - ou de qualquer outro país - é de todos os angolanos, mas apenas favorece os que efetivamente controlam o tal "Estado", ou seja, os angolanos cederam para essa elite político-partidária um rendimento comum, uma cedência de resto sem qualquer alternativa para além da morte). 


Se o dinheiro que sustenta "o poder" é de todos e se "o Estado" deve financiar sem intervir usando esse dinheiro comum, quer isso dizer que os tais todos, o povo em geral, abdicam de decidir - nesse campo específico - para o que se deve usar o seu dinheiro. Quem decide, nesse caso? Quem controla cada um dos setores que beneficiam desse 'cheque em branco'? Esses setores organizam-se de forma, não por acaso, pouco democrática, afetados por pequenos mas arbitrários e ditatoriais controlos por parte de alguns que se tornam, graças a isso, 'estrelas' e, como 'estrelas', iluminam os rumos do dinheiro. Voltemos a um caso, não somente episódico, mas sintomático: o do mesmo Chomsky. 

Não por acaso, os seus discípulos e discípulas na academia foram passo a passo eliminando todas as correntes linguísticas não-chomskyanas e recorrendo aos piores argumentos: acusando-as de 'atrasadas', 'exóticas', 'erradas' (incluindo moralmente). Um dos divergentes foi um pesquisador que descobriu uma língua exótica, na Amazónia, que não possui um dos 'universais' da linguagem postulados por Chomsky. Foi perseguido academicamente nos EUA e, pela correia de transmissão imperialista que também domina a esquerda brasileira, ele e seus colaboradores foram perseguidos nas universidades brasileiras. Abafados, silenciados, des-contratados. Entretanto, cada vez se torna mais evidente que: 1) os 'universais' da linguagem podem não ser necessários ao funcionamento da linguagem, pelo que não serão caraterísticos de todos os seres humanos; 2) a fundamentação da sua existência não precisa nem do inatismo (isso o próprio Chomsky acabou reconhecendo, refazendo a sua teoria nesse ponto particular e 'exógeno' a ela), nem de nenhuma outra forma (que não a inata) de uma 'gramática universal'. O tendencialmente universal - e sublinho que tendencialmente - não é nenhuma gramática da língua ou da linguagem, são as estruturações percetivas e a articulação entre elas e o funcionamento cerebral, sendo que os dois (estruturações percetivas e cérebro) se formam e crescem juntos, constituindo um só, que por necessidade analítica separamos momentaneamente, como os médicos separam momentaneamente um órgão para curá-lo, sem, no entanto, esquecerem que ele nunca funciona sozinho. 

Ora, perante a verdadeira ditadura universitária chomskyana, ou da gramática generativa, "o poder" e "o Estado" não se devem pronunciar? Nós, que pagamos todos impostos e temos as mais diversas opiniões (incluindo sobre a gramática generativa), perdemos o direito de decidir sobre se o nosso dinheiro serve ou não para eliminar doutrinas e metodologias académicas, reduzindo-as a uma só? E o senhor Chomsky, pelos vistos, não percebe que o pensamento crítico se exerce relativamente à sua teoria quando alguém a põe radicalmente em causa fundado numa investigação própria e pertinente? E que tem, mais que o direito, o dever de exercer o pensamento crítico também sobre as teses chomskyanas?

Por outro lado, os que se apropriaram da expressão 'pensamento crítico' para reduzi-la à sua estratégia político-partidária, foram eles mesmos que impuseram uma visão política e partidária às universidades que dominaram. Fizeram-no porque, na velha linha marxista, para eles o pensamento que não tivesse a pretensão de transformar era inútil, preguiçoso, indolente, burguês, alienante, etc etc. E, se o pensamento e a ciência deviam transformar, em que sentido se daria tal transformação? Num sentido muito particular, definido pelo velho marxismo, o da revolução socialista e da sociedade sem classes. 

Então, foram eles mesmos que propuseram que, por exemplo, se criassem Centros, Grupos, Institutos e Faculdades cujo único fim seria o de analisar as sociedades de forma a conduzi-las à dita 'transformação' no sentido de uma sociedade igualitária, sem classes, e socialista ou comunista. Quando correntes de pensamento divergentes reclamam dessa verdadeira ditadura e apontam falhas graves no financiamento do 'saber' pelos poderes públicos (ou seja: pelo dinheiro comum, que não é distribuído por igual por todas as correntes críticas), os mesmos grupos que defendem que a ciência é e deve ser, obrigatoriamente, política e partidária, vêm repetir o velho chavão de que "o poder" (dos outros) não deve interferir nas universidades (deles). Mas o povo não decide o que quer? 

O poder, exercido através de representantes eleitos em liberdade, tem a obrigação de clarificar os critérios para a distribuição dos dinheiros públicos também no campo do 'saber'. Não por fulanismos e casos episódicos, mas por princípios e critérios, incluindo financeiros, económicos, de gestão, embora levando em conta que gerir o bem público não é o mesmo que gerir uma empresa particular. Princípios e critérios que devem ser aprovados e fiscalizados publicamente. Por exemplo, definir as percentagens que suportam cada ramo científico (quanto para medicina? quanto para física? para ciências humanas?). Não definir para a eternidade, mas a cada legislatura, por exemplo, ou a cada 10 anos, por exemplo também. 

O poder, exercido através de representantes eleitos em liberdade, pode e deve determinar que haja diversidade de opinião sobre qualquer tema que seja dentro das universidades e que não haja nenhum campo de investigação no qual trabalhem todos com a mesma metodologia e segundo as mesmas hipóteses teóricas. 

É cínico e próprio de trapalhões mal-intencionados argumentar que "o poder" não deve interferir 'na ciência', portanto, 'na ciência', quem conseguir o controlo, seja como for, manda como quiser, impunemente, e determina que dinheiros lhe serão dados. A verdade é que o dinheiro não é da ciência - mesmo quando ela o gera. A verdade é que a ciência nunca avançou na monologia, na mesmice, sob controlo ideológico - teve, em alguns casos, avanços particulares, parciais, dentro de um setor de uma teoria e de uma metodologia. Isso é pouco, muito pouco para quem pretende estudar a verdade, ou seja, aquilo que nos guia para a ação, aquilo que da realidade percebemos como interlocutores. 



13.4.23

Verdade e liberdade

 

Onde não há liberdade não há verdade

12.10.22

Comunismo, em 1873 - definição

 "Systema de uma seita socialista, que pretende fazer prevalecer a comunidade dos bens, isto é, a abolição da propriedade individual e a entrega de todo o haver social, nas mãos do Estado, que fará trabalhar, e distribuirá os produtos do trabalho pelos cidadãos."

Grande Dicionário Português ou tesouro da língua portuguesa, feito sobre o manuscrito original. "Inteiramente revisto e consideravelmente aumentado". Escrito por Fr. Domingos Vieira, "dos Eremitas Calçados de Santo Agostinho". A citação consta do vol. 2 (C-D), de 1873 (Ernesto Chardron ; Bartholomeu H. de Moraes), p. 321.


4.10.22

Um dos piores presidentes da História do Brasil

 Com uma ampla maioria de direita confirmada, mesmo que internamente contraditória e desorganizada, com vários eleitos de direita contra Bolsonaro sendo eleitos tanto quanto os direitistas que ainda o apoiam, depois de gastar rios de dinheiro público para angariar apoios na Câmara e no Senado, mesmo depois de gastar rios de dinheiro público reforçando subsídios sociais provisórios para enganar os pobres, Bolsonaro perdeu o primeiro turno por quase 5% para Lula, num combate entre dois ex-presidiários que se acusam de sê-lo e dois presidentes corruptores ativíssimos. 

Note-se que, no Brasil como nos EUA, é raro um presidente em exercício perder eleições para renovação do mandato. 

Para não perder por mais, Bolsonaro teve de adotar, agora e ao longo do mandato, medidas e manhas que publica e acerbamente criticava para se eleger a primeira vez. As conclusões a tirar, seja qual for o resultado do segundo turno (numa eleição decidida por anticorpos), as conclusões a tirar evidenciam-se: 

1) A vaga de direita no Brasil é de direita mais do que bolsonarista, por isso a direita venceu as eleições no primeiro turno em que o presidente direitista perdeu.  

2) Este presidente cometeu dos piores erros da história da república brasileira, mostrando-se despreparado para o cargo e sobrevivendo por artimanhas retóricas e esmolas. 

Uma maioria parlamentar de direita e um presidente de esquerda limitado por ela se desenham como possível e equilibrada solução para o fragmentarismo político brasileiro. Solução provisória, sem dúvida. 

Quanto ao PSDB, cometendo erros sobre erros, está a pagar caro pela perda de coerência e de estratégia. Tornou-se um mero partido de burguesinhos e patricinhas, muito habilidosos para as intrigas caseiras e que se derretem no calor das ruas.