10.6.12

A casa e a mãe


Em tempo de preparação de eleições - anunciadas com apenas dois meses e meio de antecedência - devemos olhar para a constituição das listas dos partidos principais. 


A constituição de listas é sempre problemática - porque é nesse momento que os interesses que movem os políticos (posição, cargo, benefícios dos cargos) são decididos. 


O MPLA manteve uma política já instaurada antes: renovar quanto possível as candidaturas. O que é normal para um partido há tantos anos no poder, desgastado por crises crónicas na capital e condições de vida que se continuam a degradar, sobretudo para as populações mais pobres (as que têm maior número de votos). 


A UNITA parece continuar a reboque dos camaradas, frágil, sem política própria. Renovou também as listas. E cometeu, no meu entender, um erro crasso. Porque os históricos da UNITA conquistam votos ainda só com o seu nome e a sua presença daria uma imagem de unidade de que a actual UNITA precisa desesperadamente. Ainda por cima fazendo subir ao máximo posto figuras como Camalata Numa e Mihaela Webba. Numa, se decidiram varrer os 'mais velhos' (o que é uma contradição de um dos princípios básicos da UNITA), devia ter ficado na reserva também, por mera questão de coerência; Webba, de acutilante crítica do regime, vem transformando a sua imagem pública na de uma menina convencida, de vez em quando atacada de doutorice, que dá constantemente tiros nos pés como quando ataca alguns dos órgãos de imprensa que devia tratar melhor, mesmo que só por conveniência política. E, se Numa tem um nome forte em termos eleitorais, tendo sido um grande cabo de guerra e tendo mostrado coragem e frontalidade nos últimos anos ao enfrentar o governo, Webba não tem essa popularidade, menos ainda esse historial junto à memória do povo. 


A CASA-CE continua, por contraste dentro desta outra grande família, a ser mais inteligente e mais consensual. Abriga tudo, é certo, e isso pode voltar-se contra ela - se não já (porque abrigando tanta gente tão diferente parece que não tem critério para escolher) quando Chivas diamante precisar de arrumar  a casa e de lembrar que o CE vem por circunstância. Mas procura ser consensual e isso é uma virtude política nestes momentos, estratégica, para além de muito apreciada na política da África de maioria negra e, particularmente, bantu.


O maior erro, a confirmarem-se os boatos do Clube K, o maior erro da CASA-CE terá sido cometido em Luanda - praça eleitoral onde ninguém pode falhar. Colocar Luisete Araújo atrás de William Tonet é sem dúvida um erro. À partida alguns estranharão o que digo, mas um jornalista conhecido não é necessariamente um bom político, nem uma máquina de atrair votos. Ao passo que Luisete, com a originalidade e coragem que demonstrou candidatando-se a Presidente, e com o espírito de abnegação com que recuou e se integrou na CASA-CE, seria uma cabeça de lista muito mais interessante: mulher, cordata, corajosa, inteligente e ex-candidata a presidente. A opção por um jornalista polémico, frágil no seu currículo, criticado muitas vezes por ex-colaboradores e que não tem muitas simpatias no meio em que se afirmou (o da comunicação social) não terá sido a opção mais inteligente. 


Mas vamos ainda ver duas coisas e comentar só no fim de tudo: primeiro, como diz um amigo meu dessas lides oposicionistas, vamos ver quem é capaz de pôr gente na rua para além do MPLA e da UNITA; e vamos ver quantos votos cada um leva para casa. Pode ser que eu esteja errado e tenha que repensar tudo isto. 



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