Comentários e reflexões sobre política internacional, modelos de atuação política e retórica da propaganda política
11.2.15
Problemas gregos
A recente postura da Grécia tem confundido muitos analistas. Leva-os, por um lado, a repetir lugares-comuns (a Grécia não sairá da Europa, Tsipras é no fundo um social-democrata), por outro a confundir o problema económico da Grécia e a política de austeridade europeia.
Ambos os problemas se encontram no caso grego, mas são diferentes. É preferível comparar a política de austeridade europeia com a dos EUA. Fazendo-o percebe-se razoavelmente quais os erros tácticos dessa política de austeridade. Os erros tácticos em economia têm consequências sociais que os transformam em perigos políticos graves. Em certa medida, um desses perigos era a vitória de Tsipras na Grécia.
Outro problema é o da própria Grécia como Estado inviável. Inviável porque pretende juntar uma política de paternalismo social com a aceitação perdulária de 45% dos contribuintes em falta com os seus impostos, mais uma grande percentagem de empresas a fazerem o mesmo.
O urso do Norte (a velha Rússia, com o tsar Putin à frente, aliado à Igreja Ortodoxa e ao complexo industrial-militar) espreita e vai estendendo as garras, tornando a Grécia cada vez mais dependente da Rússia e usando-a para criar mais divisões na política internacional da UE.
Mas o problema essencial do Estado grego não se resolve. A solução talvez mais consentânea é a de um Estado mínimo e minimalista, não-despesista e que solte as forças económicas protegendo as pequenas e médias empresas face às grandes. Isso porque o Turismo e algumas empresas (em regra de parco significado isoladamente) de alter-economia formam uma coluna importante dessa economia, para gerar empregos e sustentar um crescimento moderado, plausível, discreto mas sólido. A diversificação do escoamento dos produtos agrícolas - em grande parte destinado à Rússia - é outra medida fundamental.
Tsipras, em vez de colocar aí a tónica central do seu discurso, atira barro à parede, tenta confundir velhos macacos e ensinar a missa ao padre, grita para afastar o medo mas também para esconder que não tem, de facto, uma alternativa credível, conjuntural e que vá para além de trocar uma 'opressão' (a europeia) por outra bem menos avançada, bem menos interessante e bem menos livre (a russa e, quem sabe, mais tarde a chinesa). Não tendo grande expressão já a ajuda da Venezuela e outros latino-americanos (para além da que venha do tráfico de drogas, usando a Grécia para entrar livremente na Europa), limita as políticas de Tsipras a isto.
Ironicamente, nem à Rússia, nem à América-latina, nem aos traficantes de droga interessa a saída da Grécia da União Europeia. Porque é precisamente a sua presença lá que pode trazer vantagens a uma aliança com os gregos.
Por isso é que os europeus podem falar forte. Lamentavelmente, se chefiados por Merkel, falarão forte para insistirem num erro. E Merkel, aterrorizada pela proximidade da Ucrânia, acabará cedendo aos russos até não poder mais, ou seja: até que os aliados a impeçam de o fazer.
Um artigo razoável e equilibrado sobre as relações entre Grécia, Tsipras e Rússia pode ser consultado aqui.
Anotações quase diárias e, sobretudo, aleatórias: a ordem meramente e só da sequência dos dias.
12.12.14
La marge au centre - tráfico de drogas e Guiné-Bissau
Em última análise, a fragilidade criada por um ditador-predador deixou um país de tal forma pobre e desorganizado que atraiu os grandes traficantes internacionais. O sentido de sobrevivência das pessoas fez o resto. Na Guiné-Bissau:
La marge au centre:
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O Put-in é um sintoma
Há muito que tenho esta opinião: a nossa corrupção, o nosso sistema largamente assistemático, não são necessariamente africanismos. É preciso fazer estudos comparados com os países ex-comunistas e a Rússia não é excepção. Façam um pequeno e divertido exercício a partir desta recensão a um livro de Pomerantsev:
http://www.worldaffairsjournal.org/article/land-magical-thinking-inside-putin’s-russia
http://www.worldaffairsjournal.org/article/land-magical-thinking-inside-putin’s-russia
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14.11.14
Kremlin Returns to Soviet Practice of Stripping Citizenship | World Affairs Journal
De onde nos veio, talvez, essa prática da nacionalidade por exclusão, tão comum durante a I República, o tempo do partido único, justamente, que se apresentava como aliado do PCUS:
Kremlin Returns to Soviet Practice of Stripping Citizenship | World Affairs Journal:
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27.10.14
Eleições na Tunísia
Devagar, devagar...
Bem?
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Eleições na Ucrânia
Pouco a dizer sobre as eleições ucranianas: para quem tinha dúvidas, uma pesada derrota para Putin e sus muchachos, uma demonstração cabal de que as manifestações da Praça Maidan eram mesmo genuínas e representativas. E Putin não tinha dúvidas. Agora mais ninguém tem.
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Eleições no Brasil
Ser reeleita, no segundo turno, com quase metade dos votos não foi nenhuma façanha para Dilma Rousseff. Nem para Aécio Neves a derrota foi propriamente consoladora. O empate técnico registado até ao fim, somado à abstenção muito elevada para uma eleição presidencial no Brasil, demonstram que os brasileiros e brasileiras tiveram dificuldade em se rever nos candidatos mais votados.
O sinal mais interessante, a meu ver, que vem daí e de uma primeira análise das eleições para Governador em segundo turno, é o da procura de estabilidade por parte do eleitorado. Um país com muitos partidos representados nas estruturas de poder vem, eleição a eleição, reduzindo o espectro de partidos viáveis e apostando cada vez mais em três ou quatro grandes agremiações, que formam essencialmente (e episodicamente, conforme os casos) dois blocos: um em torno do PT, o outro em torno do PSDB.
Repare-se na nítida tendência para reeleger governadores, bem como no facto de a maioria deles ser ou do PSDB, ou do PMDB - tendo aí sofrido uma pesada derrota o PT, que venceu exceções tal como o PSB. E são sobretudo estes os quatro partidos que ficam.
De forma geral, nas eleições para Governador, o PSDB ficou muito bem e o PMDB em segundo lugar. O que é também sintomático:
1) dos erros de campanha e dos pontos fracos do candidato Aécio, que mesmo assim lutou muito para rebater pesquisas que o davam como necessariamente perdedor, por margem maior, para Dilma;
2) da vontade de mudança, mas de uma mudança com estabilidade e continuidade das políticas positivas (como aconteceu na transição de Fernando Henrique para Lula).
Essa lenta consolidação e concentração do sistema partidário brasileiro, de que faz parte uma inclinação para mudanças graduais e construtivas, é o melhor recado que o eleitorado brasileiro podia dar aos mercados e à comunidade internacional. - claro, também aos seus políticos.
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