Como era de se esperar, Putin ocupa a Ucrânia, que já vinha comendo aos pedaços há vários anos. Assim adia a falência da nova URSS por mais um tempo, mas fez uma guerra muito cara (a Síria, a Venezuela, o Mali, a Centro-Africana ficaram mais baratos e mais longe e darão bom lucro). Entretanto se joga na batalha da Ucrânia muito mais que a independência desse país: é a liberdade europeia e no mundo que está em jogo.
O que é espantoso é ver que, mais uma vez, a 'opinião pública' em geral andava completamente baralhada (nos mais diversos quadrantes), deixando-se tocar por argumentos falaciosos, paralogismos e completas mentiras num jogo que o ditador russo domina desde os tempos da URSS. Intoxicada já com discursos autodestrutivos em nome de uma hipercorreção moral e política de fantasmas e de passados, fragilizada pelas fragmentações que tais discursos promovem através de grupos de pressão agressivos e repressivos, à esquerda e à direita, mostrando-se incapaz de competir com a agilidade russa (e norte-americana) na internet, a Europa livre não tem tido capacidade de resposta e vem somando fracassos internacionais a nível económico, político, militar. Os menininhos saídos das escolas de formação política sem qualquer experiência da vida vão, literalmente, azeitando o rabinho para não doer muito.
Perante isso, a aliança anti-democrática mundial, orientando-se por simples cálculos de causa-efeito (como faziam também antes os EUA), esmagando quem falha e quem não concorda, limitando-se a fazer contas e destruir prejuízos, apresenta-se hoje como a sequência vitalizada do antigo 'mundo comunista', unida somente em torno da defesa das ditaduras. Se as democracias não se assumem na eficácia da sua defesa, estão perdidas. O caminho é duro, mas incontornável:
1) neutralizar internamente as forças que as corroem:
a) pela ação política, pelo argumento, obrigando a debates abertos os grupos opostos à democracia, sem possibilidade de manipulação de assembleias (debates na tv, por exemplo, apenas entre os intervenientes e com os telespectadores enviando perguntas por mensagens escritas);
b) por ação administrativa não financiando projetos culturais ou científicos que defendam soluções antidemocráticas na sua fundamentação e argumentação;
2) preparando quadros por experiência de vida e não só pela formação académica, tendo os nomeados para funções públicas, necessariamente, que possuir provas conhecidas de eficácia em algum setor de atividade;
3) exigindo-se uma governação mais consequente, penalização (por perda de elegibilidade por escolha popular ou por nomeação) de políticos que promovam publicidade enganosa (por exemplo não cumprindo promessas eleitorais que tinham condições para cumprir) e eliminando efetivamente bolsas de pobreza ou de marginalização;
4) aprofundando o sistema de representação de maneira a tornar o poder mais próximo das populações representadas;
5) dizendo diretamente a quem as quer destruir (ao defender soluções ditatoriais, repressivas, censuras, saneamentos ideológico-partidários, racistas, segregacionistas) que isso é intolerável e, portanto, que, não sendo objeto de repressão, não poderão tais pessoas beneficiar dos empregos e benesses do Estado que pretendem destruir;
6) assumindo que a emigração, tal como se vem praticando ou admitindo, não pode prosseguir (sem prejuízo dos emigrantes legalizados até agora) porque não tem viabilidade económica. Nesse campo, propondo às comunidades divergentes (ciganos, etnias e emigrantes que não se pretendam integrar no conjunto nacional, nómades, alternativos) um pacto de convivência que assegure espaços regidos por regras próprias, exceto no que diga respeito ao policiamento, à submissão ao poder autárquico respetivo, ao pagamento de taxas iguais às dos outros cidadãos, às operações de saúde e de higiene ambiental. As regras de relacionamento entre comunidades específicas e comunidade nacional, num pacto desse tipo, estabelecem-se pelos princípios de justiça da comunidade nacional, pois não se pode rejeitar a maioria em nome da minoria.
Alinhavadas estas notas para uma hipotética discussão, me pergunto: qual o político democrático disposto a assumir as verdades que elas implicam e a justeza do mal-estar da maioria das populações? Macron quis perfilar-se nesse horizonte, mas revelou-se outro fracasso, sem coragem nem frontalidade, para além de ingénuo nas relações internacionais. Há mais candidatos credíveis?
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2022/02/25/russia-e-expulsa-do-conselho-da-europa-diz-ministro-italiano.htm
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