Comentários e reflexões sobre política internacional, modelos de atuação política e retórica da propaganda política
15.5.16
a falsa moral democrática do bolivarismo
Um dos principais argumentos, ultimamente, dos defensores nacionais e regionais de Dilma Rousseff é o da legitimidade democrática. A base do argumento é que uma Presidente eleita foi substituída pelo seu Vice e este não foi eleito, pelo menos para ser presidente. Com as 'vaguidões' habituais, ora se diz Presidente, ora Partido, ora Governo eleito. Qual das escolhas a pior! Este argumento é, estranhamente, dos que menos os ajudam.
Em primeiro lugar porque o processo foi constitucional e aberto.
Em segundo lugar porque a Presidente foi eleita com base numa campanha suportada pelas pedaladas fiscais e outras manobras que deram uma imagem irreal da situação económica e social do Brasil e, para o fazerem, rebentaram com a economia do país. Não em favor do povo (os beneficiários foram, sobretudo, grandes empresários que sustentava o PT), mas do esquema montado para viabilizar a governação Dilma caso fosse re-eleita. Portanto, pode-se colocar a questão da legitimidade dessa eleição, visto que o povo não conhecia a situação real.
Em terceiro lugar porque o Vice-presidente foi eleito com ela. Mas não só - e aqui temos o contra-argumento decisivo, a meu ver: todos os que votaram, a favor e contra o impeachment, foram eleitos também.
Por vezes, ainda, põe-se em causa a qualidade desses votos - e há razões para isso. Mas muitos dos exemplos apontados são exemplos de partidos que apoiavam a coligação governamental até pouco tempo antes do processo de destituição.
Em quarto lugar porque o partido a que pertence o agora Presidente é o partido com mais eleitos. Isso lhe traz uma conotação moral negativa (por ter suportado a mentira Dilma) e outra positiva, justamente no campo argumentativo dos 'legitimistas': o maior partido brasileiro, em número de eleitos, estava contra a Presidente. Se houve uma maioria a favor dela na eleição presidencial, essa maioria incluiu o maior partido brasileiro e esta grossa fatia da votação voltou-se contra ela depois de a eleger. É de supor, portanto, que a maioria da população, tal como indicam as sondagens, esteja contra a Presidente eleita.
Estes argumentos, apesar da sua fraqueza retórica, foram adotados pelos bolivarianos, a começar pelo ridículo e catastrófico Maduro - também ele Presidente eleito (com sérias reservas à democraticidade da eleição), rebentou com a economia do país e hoje há, segundo as sondagens, mais de 70% da população a querê-lo fora.
Todos eles têm em comum vários pontos com Dilma: dúvidas sobre a honestidade, integridade e legalidade da sua governação; países com as economias completamente inviáveis no estado em que as puseram e com as regras que lhes impuseram e o sistema de corrupção que as suga; dúvidas sobre a verdadeira representatividade dos seus eleitos.
Não são bons companheiros. É o coronelismo de esquerda, iniciado por um militar golpista (Hugo Chávez), que prossegue até ao fim uma política cega porque se recusa a ver os resultados que traz e, portanto, se recusa a reconhecer os graves erros cometidos.
Não me parece que a esquerda brasileira consiga recuperar-se por aí. Foi muito mais inteligente, por exemplo, a recente entrevista do Senador João Paulo, de Pernambuco, reconhecendo alguns dos erros cometidos (embora talvez não os fundamentais). Estrategicamente, retoricamente, o que ele defendeu é muito mais produtivo em termos de retórica partidária e política.
Anotações quase diárias e, sobretudo, aleatórias: a ordem meramente e só da sequência dos dias.
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