Na verdade, Morsi e o seu partido cometeram todos os erros que não podiam ter cometido:
1) eleitos por metade (forçada, por oposição ao candidato que 'cheirava' ainda a Mubarak) de um povo, subtraíram dessa metade os possíveis aliados e, com uma minoria escassa, afrontaram todos os outros quando a prudência aconselhava, no mínimo, amizades estratégicas (compare-se a percentagem de votação de Morsi com a votação da Irmandade Muçulmana poucos meses antes);
2) deixaram que apoiantes seus, apoiados por sua vez por extremistas armados, começassem a impor outra lei nas ruas, ocupando espaços privados (como garagens de casas e prédios) e públicos (praças) para, ainda durante o seu mandato, começarem pela força a controlar e ocupar o território, estabelecendo uma ordem paralela;
3) aliaram-se, internacionalmente, com os grupos mais cotados com o extremismo num país cujas relações económicas eram sobretudo com o 'ocidente' (EUA, Europa, países 'moderados' ou 'pró-ocidentais');
4) afrontaram os militares que, no Egito, são mais do que uma força armada, são a cabeça e muitos dos braços do aparelhos administrativo que, assim, começou a desagregar-se;
5) combateram a burocracia da qual precisavam para governar;
6) transformaram as privatizações numa distribuição de riqueza para os amigos e correligionários sem qualquer preocupação com eficácia, produtividade, empreendedorismo;
7) não deram qualquer atenção aos problemas económicos e sociais das populações urbanas - a maioria;
8) fizeram das nomeações políticas um instrumento para premiar pessoas e grupos associados a acções extremistas que vitimaram estrangeiros e egípcios;
9) amordaçaram uma imprensa que, dentro das limitações do regime anterior, se afirmava livre e querendo mais liberdade;
10) ameaçaram a liberdade de expressão e de criação artística que era o bem mais querido dos jovens que iniciaram a revolução nas ruas e nas praças;
11) ignoraram as manifestações de descontentamento cada vez mais numerosas e cada vez mais frequentadas, bem como as suas causas: desemprego, inflação, aumento da pobreza;
12) começaram a afrontar parte da hierarquia religiosa islâmica que era 'moderada' ou não lhes era favorável;
13) afrontaram constantemente os cristãos deixando-os cada vez mais inseguros e revoltados, prontos para apoiar qualquer ato anti-Morsi;
14) com o apoio da Irmandade, claro, Morsi atribui a si próprio poderes extraordinários, que tornaram patente o perigo de autocracia, ditadura, poder absoluto que assustava mesmo alguns dos seus simpatizantes.
Uma análise aqui:
Why the Brotherhood Failed | World Affairs Journal:
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