19.2.17

socialistas - até onde?



A propósito de algumas discussões que se reacendem de quando em quando, lembrei-me do ano de 1921 (e de alguns outros): 

1) URSS - A Estónia recuperou a autonomia, que manteve até 1940 (em 1939 o Pacto Germano-Soviético decide a sua anexação pela URSS; uma aliança que, justamente em 1921, se verificara na China, onde Sun Yat-Sen iniciou a colaboração do KMT com o PCC).

2) 35 fascistas são eleitos nas listas dos ‘blocos nacionais’, favoritos do velho chefe socialista Giolitt. Partilhavam o mesmo berço... Já em 1912 Mussolini, no Congresso de Régio Emília, provocara a expulsão de vários militantes de peso do Partido Socialista. Entrou como diretor do Avanti! nesse ano e ficou no cargo até 1914, ano da sua expulsão (o jornal era o órgão do PSI) por divergências internas. Regressando ao ano decisivo de 1921, em Novembro os fascistas organizaram o Congresso de Roma: contavam 310.000 inscritos, dos quais 22.418 operários da indústria e 36.847 camponeses; o movimento transformou-se em partido e nunca mais parou até à tomada do poder.

3) No ano anterior (1920.02.24), Adolf Hitler, com um discurso inflamado, lera o seu programa ao Partido Operário Alemão e formalizara, em Abril, o Partido Operário Nacional-Socialista Alemão. 

4) Sobre as relações entre anarquistas e marxistas: depois da ruptura com os marxistas, em Haia (no V Congresso da Internacional), em 1872, os bakuninistas são banidos da organização e iniciam os seus próprios congressos. Em 1921, os anarquistas Emma Goldman e Alexander Berkman fogem da Rússia bolchevique para Londres, acossados pela polícia política do Kremlin e, em particular, pelo grande chefe do Exército Vermelho, Trotsky, supremo comandante e criador do exército soviético, depois de este ordenar o massacre dos marinheiros russos amotinados (em greve) na base de Kronstadt (mar Báltico, na Ucrânia). 

E, por agora, intervalo: vou assistir a mais umas trumpalhadas com a rede básica putinesca por baixo das fraldas do novo presidente, não eleito, dos EUA (o último não eleito foi George Bush, filho; lembram-se? Fez a guerra do Iraque provocando um problema que veio até hoje mas, pelo menos, era político; os não eleitos tendem, pelos vistos, a grandes níveis de insegurança que os levam a afirmar-se brutalmente).




29.12.16

Israël : la diplomatie américaine insiste sur la nécessité d’une solution à deux Etats


Não me parece tanto uma birra quanto um recado para Trump: o caminho da paz não passa pelos assentamentos, prejudiciais até para Israel num futuro próximo. Esse erro de Bibi (Netanyahu) tem sido um dos fatores de enfraquecimento da posição israelita a nível internacional e, para dentro, um desgaste inútil de recursos, colocando judeus em minoria e em situação de fragilidade num território que, segundo a legislação internacional, não pertence a Israel.

Israël : la diplomatie américaine insiste sur la nécessité d’une solution à deux Etats:

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Le procès de l’auteure Asli Erdogan, emblématique de la Turquie de l’après-putsch


Erdogan segue o seu caminho para a ditadura sem apelo nem agravo e, cada vez mais, com apoio russo (já terão mesmo dividido os proventos e despojos da Síria pelos dois). A OTAN precisa refazer-se rapidamente levando em conta os últimos desenvolvimentos e afirmar-se, cada vez mais e com maior clareza, como braço militar para a defesa da democracia.


Le procès de l’auteure Asli Erdogan, emblématique de la Turquie de l’après-putsch:

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21.12.16

Os novos escroques


O que resta do 'socialismo do século XXI' - uma fórmula atrasada para aplicação de totalitarismos de esquerda na América Latina - revela cada vez mais claramente a sua faceta antidemocrática: na Bolívia, depois de um referendo rejeitando, na prática, a recandidatura de Evo Morales, o ditador reúne o seu partido e apresenta-se como candidato oficial à reeleição; na Venezuela, que o socialismo totalitário pôs completamente de rastos ainda no tempo de Hugo Chávez, um referendo convocado constitucionalmente, após eleições perdidas pelo presidente, foi simplesmente inviabilizado por Maduro para eternizar o seu poder à frente do Estado.

Os novos ditadores - que a imprensa anglófona chama, por eufemismo, 'personalistas' e que não passam de populistas legitimando-se por um nacionalismo folclórico - dão-se na prática por aliados estratégicos do 'socialismo do século XXI', bem como de muitas ditaduras islâmicas. A China, que não quer ser apenas o velho tigre de papel, ensinou-lhes a lição há muito (aliás, denunciada por Viriato da Cruz ainda antes da independência de Angola): não importa quem manda, importa quanto custa e quanto se ganha. Estes países, quase todos derivando de regimes aparentemente socialistas e realmente de partido único, viram seus heróis combaterem o imperialismo dos EUA denunciando justamente essa falta de princípios morais e de coerência democrática na política. O melhor exemplo disso hoje é o velho Mugabe, candidatando-se, mais uma vez, à própria sucessão com 92 anos de idade e um país esfarrapado, em total descrédito e sem qualquer rumo.

Perante os factos, a defesa do 'socialismo do século XXI', ou de qualquer outro anticapitalismo revolucionário, hoje, é mero anacronismo, cegueira, teimosia serôdia. Mas é prejudicial. Abençoar os bombardeamentos sobre Alepo porque 'os outros' também bombardeam, como dantes se abençoavam os regimes de partido único só porque nos iriam libertar do 'capitalismo' que se aliava a ditaduras, contribui para a alienação geral das consciências democráticas.

É certo que Mobutu foi apoiado pelos EUA, como tantos outros. E, porém, quem dizia combater Mobutu, os EUA, o imperialismo, o neocolonialismo, etc., pôs lá um tal de Kabila, que foi buscar à Tanzânia entre copos de uísque e nos vendeu o herói dizendo que ele tinha conhecido Che Guevara, que o seguia e até que Che Guevara o achava o único zairense capaz de levar avante a verdadeira revolução. Como se Che Guevara, que executava e mandava executar sumariamente as suas vítimas, fosse exemplo de virtude política...

É certo que Mobutu foi um bandido: espoliou o seu povo, que morria de fome enquanto ele tinha fama de comer em talheres de ouro pronto a zarpar para qualquer lado. É certo que Mobutu, ao morrer, deixou um país inviável às mãos dos abutres. E, porém, vejam: o herói pretensamente guevarista morreu quando começava a fazer asneiras umas sobre as outras; o filho herdou-lhe o trono como se alguém tivesse investido a família como família monárquica; e agora o filho, dono da maioria das empresas significativas do Zaire, nem se preocupa com a lacuna constitucional, a ausência de Presidente e mandato legítimo segundo a Constituição vigente que ele próprio aprovou, não se preocupa com nada. Simplesmente nos diz: eu controlo, de facto, a situação, portanto não preciso nem de constituições. De resto, uma invenção 'ocidental', 'burguesa' e 'capitalista'...

Como percebeu desde cedo R. Aron (liberal de ascendência judaica), o momento que vivemos até há pouco tempo foi o de um grande intervalo democrático; as constantes ameaças à liberdade no mundo, associadas à fraqueza e à cegueira de muitos intelectuais 'ocidentais', iriam conduzir-nos a um estágio bem mais feio, realmente pós-liberal, pós-capitalista e pós-imperialista: o das nações governadas por títeres descarados, cuja principal arma é a do martelo ou da foice ou da catana sobre as cabeças das ainda sobreviventes democracias.


Sobre o Congo (com 'c' ou 'k' dá no mesmo) leia-se por exemplo a mais recente notícia da Reuters.

28.10.16

África do Sul vai abandonar Tribunal Penal Internacional


África do Sul vai abandonar Tribunal Penal Internacional - PÚBLICO: "A recusa sul-africana em deter Bashir foi já alvo de uma queixa apresentada nos tribunais sul-africanos. Em Março, a instância superior de recurso considerou a recusa “ilegal” e acusou o Governo sul-africano de ter adoptado uma “conduta escandalosa”. O processo seguiu para o Tribunal Constitucional, que se deveria pronunciar no próximo mês, mas o caso pode ficar agora em suspenso."



A África do Sul sai muito bem acompanhada: Nkurunziza, que pôs o Burundi a ferro e fogo para impor um terceiro mandato; por causa do ditador sudanês, que tem atrás de si sérias e comprovadas acusações de genocídio; a Gâmbia também, que é um exemplo de cleptocracia centrada numa só pessoa, que recorre ao islamismo para esconder os seus podres poderes: os do roubo. 


Realmente, já depois de ter sido apertado pela justiça do seu país, Jacob Zuma, corrupto como é e tendencialmente autoritário, tem que sair depressa de um sistema jurídico internacional dominado por países democráticos. Dominado por países democráticos e sem nenhum racismo, pois se o houvesse não teriam julgado sérvios, por exemplo. A oposição interna já o criticou e a passagem da notícia que citei explica melhor ainda a atitude face ao TPI. 


No entanto há cegos para tudo, há quem aplauda isto em nome da inquestionável autenticité africaine que, por sua vez e tirando Senghor, escamoteou os crimes de muitos outros ditadores. Não vamos muito longe, basta lembrarmo-nos de Mobutu, que aliás Senghor saudava como o grande Leopardo... 




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1.10.16

The rise of American authoritarianism - Vox



Na sequência do comentário anterior, articulado ao propósito do artigo ali citado, vem este sobre o 'personalista' Trump - um tipo de candidato que antes se apresentava pessoalmente, fora do sistema bipartidário dos EUA, mas que, desta vez, tomou de assalto um dos Partidos do sistema:



The rise of American authoritarianism - Vox:



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Os novos ditadores



Terminada a vigência das ideologias, tão perigosa quanto a dos fanatismos religiosos, para os novos ditadores se aplica, no artigo abaixo indicado, uma nomenclatura nova: personalistas. 



Acho o termo infeliz, na medida em que desvirtua uma filosofia nobre, filosofia política e não só, a do personalismo cristão. 



Mas é um facto que, esvaziados de ideologias e não querendo submeter-se a regras coletivas (afastando-se, por esse motivo, do controlo dos fundamentalistas), os novos ditadores acabam concentrando sobre o seu próprio sucesso no controlo e esmagamento das sociedades civis a única justificação dos seus regimes: eles são liderados por homens fortes e competentes que protegem a nação. 



Outro tópico, praticamente não explorado aqui, é o do nacionalismo. Todos eles recorrem ao orgulho nacional, que procuram colar à sua imagem de chefes, para legitimar ambições pessoais e galvanizar populações em torno do autoritarismo. 



O artigo é, de resto, sugestivo e o que se propõe faz todo o sentido, mesmo que a proposta venha de uma perspetiva específica, a dos interesses dos EUA. É realmente necessário estudar o fenómeno, que se torna hoje na maior ameaça à paz mundial e à liberdade política. Estudá-lo, pressupõe-se pela base do próprio texto, comparativamente, sem cair no particularismo dos 'africanos', dos 'asiáticos', da 'cultura política chinesa', do 'autoritarismo russo', etc.



Sugiro, portanto, esta leitura, que é rápida:





The New Dictators | Foreign Affairs:



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