11.2.15

Charlie Haram


Quando os atentados de Paris vieram mostrar ao mundo que a Europa condescente e relaxada com a sua identidade democrática colocava em risco a própria liberdade e segurança, 

muitos 'blogueiros' e cronistas de esquerda se apressaram a distrair as nossas atenções, logo no dia seguinte. Uma das distracções consistia em nos lembrarem que o Boko Haram matava mais gente na Nigéria, raptando lá crianças, mulheres e arrasando aldeias inteiras.

Estranho: de repente, pessoas que nunca se tinham preocupado com isso mostraram-se extremamente revoltadas com o Boko Haram. Viciadas como são na acusação à Europa, aos EUA e ao capitalismo por todos os males, imediatamente reclamaram o que antes costumavam criticar: uma intervenção europeia em África para combater o Boko Haram e descurar a vigilância que a França, finalmente, parecia querer fazer a sério dentro do seu próprio país. 

Pareceu-me e parece-me que África tem condições para resolver, por si, o assunto. Pareceu-me também muito irresponsável a campanha eleitoral nigeriana, secundarizando um assunto de importância fundamental para toda a região. 

A opinião pública global devia preocupar-se, claro, com o Boko Haram. Mas porque é que, em se tratando de África, têm que falar logo numa intervenção europeia, sobretudo os sectores mais à esquerda, mais anti-'imperialistas'? 

A postura a tomar é bem outra: é exigirmos todos, africanos e não-africanos, que os países africanos da região resolvam os seus problemas. E, efectivamente, é o que estão a fazer. Só podemos lamentar uma resposta tardia, mas não duvidamos de que esses países têm condições para resolver o problema por si, com a ajuda normal, não-intrusiva, normal num mundo globalizado e a simpatia da comunidade internacional. 

Parece-me que a África ao sul do Saara, neste e em alguns outros casos, começa finalmente a responder por si própria. É de saudar. 


Problemas gregos


A recente postura da Grécia tem confundido muitos analistas. Leva-os, por um lado, a repetir lugares-comuns (a Grécia não sairá da Europa, Tsipras é no fundo um social-democrata), por outro a confundir o problema económico da Grécia e a política de austeridade europeia. 

Ambos os problemas se encontram no caso grego, mas são diferentes. É preferível comparar a política de austeridade europeia com a dos EUA. Fazendo-o percebe-se razoavelmente quais os erros tácticos dessa política de austeridade. Os erros tácticos em economia têm consequências sociais que os transformam em perigos políticos graves. Em certa medida, um desses perigos era a vitória de Tsipras na Grécia.

Outro problema é o da própria Grécia como Estado inviável. Inviável porque pretende juntar uma política de paternalismo social com a aceitação perdulária de 45% dos contribuintes em falta com os seus impostos, mais uma grande percentagem de empresas a fazerem o mesmo. 

O urso do Norte (a velha Rússia, com o tsar Putin à frente, aliado à Igreja Ortodoxa e ao complexo industrial-militar) espreita e vai estendendo as garras, tornando a Grécia cada vez mais dependente da Rússia e usando-a para criar mais divisões na política internacional da UE. 

Mas o problema essencial do Estado grego não se resolve. A solução talvez mais consentânea é a de um Estado mínimo e minimalista, não-despesista e que solte as forças económicas protegendo as pequenas e médias empresas face às grandes. Isso porque o Turismo e algumas empresas (em regra de parco significado isoladamente) de alter-economia formam uma coluna importante dessa economia, para gerar empregos e sustentar um crescimento moderado, plausível, discreto mas sólido. A diversificação do escoamento dos produtos agrícolas - em grande parte destinado à Rússia - é outra medida fundamental. 

Tsipras, em vez de colocar aí a tónica central do seu discurso, atira barro à parede, tenta confundir velhos macacos e ensinar a missa ao padre, grita para afastar o medo mas também para esconder que não tem, de facto, uma alternativa credível, conjuntural e que vá para além de trocar uma 'opressão' (a europeia) por outra bem menos avançada, bem menos interessante e bem menos livre (a russa e, quem sabe, mais tarde a chinesa). Não tendo grande expressão já a ajuda da Venezuela e outros latino-americanos (para além da que venha do tráfico de drogas, usando a Grécia para entrar livremente na Europa), limita as políticas de Tsipras a isto. 

Ironicamente, nem à Rússia, nem à América-latina, nem aos traficantes de droga interessa a saída da Grécia da União Europeia. Porque é precisamente a sua presença lá que pode trazer vantagens a uma aliança com os gregos. 

Por isso é que os europeus podem falar forte. Lamentavelmente, se chefiados por Merkel, falarão forte para insistirem num erro. E Merkel, aterrorizada pela proximidade da Ucrânia, acabará cedendo aos russos até não poder mais, ou seja: até que os aliados a impeçam de o fazer.


Um artigo razoável e equilibrado sobre as relações entre Grécia, Tsipras e Rússia pode ser consultado aqui

12.12.14

La marge au centre - tráfico de drogas e Guiné-Bissau

Em última análise, a fragilidade criada por um ditador-predador deixou um país de tal forma pobre e desorganizado que atraiu os grandes traficantes internacionais. O sentido de sobrevivência das pessoas fez o resto. Na Guiné-Bissau:



La marge au centre:



'via Blog this'

O Put-in é um sintoma

Há muito que tenho esta opinião: a nossa corrupção, o nosso sistema largamente assistemático, não são necessariamente africanismos. É preciso fazer estudos comparados com os países ex-comunistas e a Rússia não é excepção. Façam um pequeno e divertido exercício a partir desta recensão a um livro de Pomerantsev:


http://www.worldaffairsjournal.org/article/land-magical-thinking-inside-putin’s-russia

14.11.14

Kremlin Returns to Soviet Practice of Stripping Citizenship | World Affairs Journal



De onde nos veio, talvez, essa prática da nacionalidade por exclusão, tão comum durante a I República, o tempo do partido único, justamente, que se apresentava como aliado do PCUS:



Kremlin Returns to Soviet Practice of Stripping Citizenship | World Affairs Journal:



'via Blog this'

27.10.14

Eleições na Tunísia


Devagar, devagar... 

Bem?

Eleições na Ucrânia


Pouco a dizer sobre as eleições ucranianas: para quem tinha dúvidas, uma pesada derrota para Putin e sus muchachos, uma demonstração cabal de que as manifestações da Praça Maidan eram mesmo genuínas e representativas. E Putin não tinha dúvidas. Agora mais ninguém tem.